“Eu falava para ela [bebê] que ia ficar tudo bem, que logo estaria em casa comigo”, afirmou Ana Caroline da Silva, de 18 anos, mãe da recém-nascida que tinha sido dada como morta equivocadamente por médicos no dia 12. No último domingo (18), a bebê morreu por volta de 10h no Hospital Sino Brasileiro, em Osasco, região metropolitana de São Paulo. O caso foi revelado pelo R7.
Em entrevista coletiva nesta terça-feira (20), a mãe contou, extremamente abalada, que após o parto não a deixaram falar com ninguém, "logo ela imaginou que algo errado poderia ter acontecido".
A mãe foi ter contato com a família oito horas depois do nascimento de sua filha. “Fizeram pouco caso comigo”, reconhece. Nesse momento, estava na sala de medicamentos tomando soro quando foi informada sobre a morte. “Nem ele [médico] sabia explicar o que tinha acontecido”, disse.
Ainda segundo Ana Caroline, ela poderia ter contato com a filha “quando quisesse” - pois estava no mesmo hospital que a criança. “Eu não podia chegar perto, mas podia ficar olhando”, lamentou.
O pai da criança, Leonardo José Ferreira Lira, de 19 anos, também esteve presente. “Foi doloroso ver minha filha enrolada em um pano”, afirmou aos prantos. “Me abalou muito”.
Segundo ele, a informação do óbito foi recebida por ele logo após o parto. “Eu já não tinha mais chão naquela hora”, disse. "Não sabia se era verdade, não sabia o que fazer. Só fiquei abalado”, relatou.
“Foi doloroso ver minha filha enrolada em um pano”
O primeiro da família a receber a notícia de que o bebê estava vivo foi o avô, José Francisco da Silva. Inconformado com a situação, disse que o hospital precisa pagar por seus erros. "Eles mataram minha neta”. O avô admite que a família está sofrendo, “por um cidadão que veste jaleco branco e fala que é médico”.
Defesa
O advogado contratado pela família, Ademar Gomes, afirma que “houve homicídio culposo, houve negligência e imprudência dos médicos”.
“A sucessão de erros foi algo não humano”, disse o pai da bebê. Para ele, se a criança não passasse por todo esse trajeto (dado como morta, encaminhamento ao IML e volta ao hospital), ela estaria bem.
“A criança foi levada para o IML dentro de um caixão. Quando constatou-se que o bebê estava com vida, foi levado no mesmo caixão de volta ao hospital”, segundo o advogado. Por isso, a família ira processar os médicos por negligência e o hospital na área penal e na área civil.
Menina
Ana conta que descobriu que o bebê era do sexo feminino há duas semanas - ela estava de 25 semanas de gestação. Com toda a história, a mãe busca apenas justiça. “Quero que sejam punidos. Isso não pode ficar desse jeito”, afirma.
“Se Deus quiser eu vou ser mãe%2C mas daqui a uns anos. Agora eu quero me recuperar"
Entenda o caso
Ana Caroline da Silva, de 18 anos, estava grávida de quase seis meses, quando na segunda-feira (12), por volta das 17h, deu início ao trabalho de parto. Ela foi encaminhada ao Hospital Alpha Med e deu à luz às 21h55 a uma menina de apenas 700 gramas.
De acordo com o pai da criança, Leonardo José Ferreira Lira, de 19 anos, o parto parecia ter ocorrido normalmente. “Tudo estava bem, até que a bebê mal nasceu e a médica disse que ela não tinha mais chance, que estava morta. Ela nem chorou”, contou.
O bebê foi dado como morto por profissionais do hospital Alpha Med, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. No entanto, durante o transporte do corpo ao IML (Instituto Médico Legal) de Osasco, o motorista da funerária percebeu que a criança ainda estava viva.
Cremesp
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) informou que instaurou, na quarta-feira (14), uma sindicância para investigar a conduta de uma médica que atestou o óbito da recém-nascida ainda viva.
A sindicância, segundo o órgão, é uma etapa preliminar para averiguação dos fatos denunciados, coleta de provas, manifestação escrita e, se necessário, audiência com os envolvidos. Se comprovado indícios de infração ética, passa-se à segunda fase: a instauração do processo ético-profissional. Se culpado, o profissional pode receber como pena a cassação do exercício.
O órgão diz que a sindicância leva, em média, de seis meses a dois anos para ser concluída e tramita em sigilo processual garantido por Lei.
Em nota, o hospital Alpha Med informou que abriu sindicância interna para apurar o ocorrido e que prestou toda a assistência para mãe e a criança.