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Mesmo com aumento de chuvas, SP terá que manter torneiras fechadas em 2016 

Recuperação dos reservatórios pode levar de cinco a oito anos, segundo promotor do Gaema

São Paulo|Ana Ignacio e Érica Saboya, do R7


Moradores de Campinas improvisaram bombas para retirar água de bica quando as torneiras do Jardim Carlos Lourenço secaram
Moradores de Campinas improvisaram bombas para retirar água de bica quando as torneiras do Jardim Carlos Lourenço secaram Moradores de Campinas improvisaram bombas para retirar água de bica quando as torneiras do Jardim Carlos Lourenço secaram

As chuvas do início do ano e o silêncio do governo do Estado provocaram certo otimismo na população de São Paulo com relação à crise hídrica que teve início em 2014. Mas a situação ainda é grave e não há sinais de que seja revertida no curto prazo. Especialistas avaliam que a recuperação total dos reservatórios ainda vai demorar para acontecer mesmo que o volume de chuvas aumente até o final do ano.

Para Ricardo Manuel Castro, promotor do Gaema (Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente) de Cabeceiras, com a possibilidade de um terceiro ano de restrição de água, é essencial que o governo deixe claro a gravidade do problema, já que a posição do poder público diante da crise influencia o comportamento do consumidor. Segundo ele, especialistas estimam que a recuperação dos sistemas, com uma situação climática boa, deve levar de cinco a oito anos. 

— Na medida em que você divulga um índice irreal de armazenamento do sistema Cantareira e o próprio governador faz declarações de que a crise está controlada, adiando um decreto de criticidade ou até de um rodízio ou racionamento, a impressão que se passa para a população é de que a situação está completamente resolvida e que não precisa intensificar as medidas de economia da água. O assunto precisa ser pauta diária para esclarecer que não estamos em uma situação tranquila.

Quando a Sabesp anunciou, em janeiro de 2014, que e os reservatórios do Sistema Cantareira — principal fonte de abastecimento de água das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas — atingiram o “pior nível de armazenamento dos últimos 10 anos”, o Cantareira operava com 25% de sua capacidade. Hoje, mais de um ano e meio depois, com acréscimo de duas reservas técnicas, o reservatório que virou medidor da intensidade da crise opera com pouco mais de 16% da capacidade de armazenamento. 

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Segundo a companhia, o volume atual disponível para uso é maior do que no ano passado porque a entrada em operação da Reserva Técnica 2, que ficou conhecida como segundo volume morto, agregou 105 milhões de m³. Mas, se levássemos em consideração o mesmo volume de água (sem a segunda reserva técnica), ficaríamos com menos água no sistema hoje. A Sabesp lembra que, atualmente, se retira bem menos água do Cantareira: em agosto de 2014 eram cerca de 21 m3/s e hoje são, aproximadamente, 14,5 m3/s.

O diretor presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu, acredita que não haja motivo algum para comemorar. Para ele, a sensação de melhora da crise ocorreu por causa das chuvas acima da média no início do ano. 

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— Como as chuvas do começo do ano foram abundantes, criou-se essa sensação de que o problema estaria em processo de melhoria, mas agora em agosto dá para ver que não está superado, já que em agosto a vazão já conseguiu superar a menor vazão histórica.

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Para o promotor Ricardo Manuel Castro, o problema precisa continuar sendo tratado como algo grave. Somente no MP-SP há cerca de 50 inquéritos e ações civis públicas que tratam da crise hídrica.

— Nós estamos muito preocupados com o tratamento que vem sido dado ao tema. Estamos observando um claro agravamento da crise hídrica. A disponibilidade hídrica é cada vez menor e não temos certeza de que passaremos o período de estiagem com folga. O que nos preocupa muito não é só a quantidade da água, é também a qualidade da água que vem sendo distribuída.

Previsão

O professor de hidrologia e gestão de recursos hídricos da Unicamp Antonio Carlos Zuffo afirma que não há como prever o cenário do ano que vem, mas a partir da situação atual e da análise dos fenômenos climáticos, pode-se esperar um ano complicado. 

— Acredito que temos períodos cíclicos e entramos no perídio de baixa, que seriam de três ou quatro décadas com baixa [precipitação], então a média de chuva do mês tende a cair. Para a gente, isso não é uma boa notícia. Se vier abaixo da média, o que acredito que vai ocorrer, vai ser ruim e mais difícil de recuperar. Se não houver uma recuperação por chuvas, vai ser bem pior do que estamos vivenciando hoje. 

Tercio Ambrizzi, diretor do Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, explica que o País está sob o efeito do fenômeno El Niño, que faz com que chova mais na região Sul e deixe o Nordeste e o Norte mais secos. Ainda não é possível determinar, no entanto, como será o impacto na região Sudeste, onde fica o Estado de São Paulo.

— Nós temos que torcer. Esse El Niño ainda está se desenvolvendo, mas dependendo de como ele se configurar, o ano que vem pode ser um ano bem seco ou até um ano bem chuvoso. 

Ambrizzi destaca que os reservatórios da Grande São Paulo já trabalhavam no limite há um tempo e que, em algum momento, dariam sinais de esgotamento mesmo diante de um regime de chuvas normal. 

— Uma coisa que é muito clara é que os níveis dos reservatórios foram projetados para um determinado nível de consumo e o aumento populacional é exorbitante ao longo dos últimos anos. Com um maior consumo de água, se você não modifica o volume do reservatório, significa que todo ano estamos tirando um pouco mais. E bastou um ano muito mais seco para nós cairmos em uma reserva baixa.

Os dois especialistas concordam que, apesar da falta de planejamento do poder público, a cultura de consumo alto da população intensificou a crise. Para eles, a lição que deve ficar deste período crítico é de que a água não é um bem infinito e que o padrão de consumo deve ser drasticamente revisto.

Obras

Em nota, a Sabesp listou as obras emergenciais que vem realizando para aumentar a oferta de água. São elas: captação de água no rio Guaió para o Sistema Alto Tietê, que entrou em operação em junho; interligação entre o Sistema Rio Grande, no ABC Paulista, e a Represa Taiaçupeba; ampliação da Estação de Tratamento de Água Alto da Boa Vista, na zona sul de São Paulo, que aumentará a capacidade de tratamento de água do Sistema Guarapiranga. 

A companhia também destacou a construção do sistema São Lourenço, que seria a maior obra hidrográfica do País, com previsão para conclusão em outubro de 2017. “Quando estiver concluído, o novo sistema vai captar 4,7 mil l/s (litros por segundo) na cachoeira do França, em Ibiúna, volume suficiente para atender 1,6 milhão de moradores dos municípios de Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista”, diz o texto. 

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