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Conheça os principais barões da história do bicho e seus herdeiros

Capitão Guimarães, Turcão, Miro, Luzinho Drumond, Shanna, Manino, Ivo Noal, Castor, Anísio, Cachoeira... A lista é grande. E as pendengas, eternas

Brasil|Eduardo Marini, do R7

Shanna, neta de Miro, perdeu pai, marido, irmão e levou tiros na guerra do bicho
Shanna, neta de Miro, perdeu pai, marido, irmão e levou tiros na guerra do bicho Shanna, neta de Miro, perdeu pai, marido, irmão e levou tiros na guerra do bicho

A série É o Bicho – História e Bastidores da Máfia Brasileira, do R7, apresentou, até agora, personagens importantes da contravenção no País, entre elas os bicheiros Castor de Andrade e Aniz Abraão David, o Anísio da Beija-Flor. Conheça os outros barões que fizeram ou ainda fazem parte dessa história e também seus principais herdeiros e sucessores.

Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães

Capitão do Exército, o carioca Ailton Guimarães Jorge, 77 anos, foi o grande responsável, ao lado de Castor de Andrade, pela criação ‘oficial’ da cúpula do bicho no Rio e do trabalho de ‘delimitação pacífica’ do território de cada um deles.

Presidiu a Unidos de Vila Isabel, escola do bairro onde instalou seus primeiros pontos do negócio, que cresceu e chegou a Niterói, capital do Estado do Rio antes da fusão com a Guanabara, e ao Espírito Santo. Do outro lado da ponte, apadrinhou a escola Unidos de Viradouro. Foi também presidente da Liga das Escolas de Samba, a Liesa, de 1987 a 1993 e entre 2001 e 2007.

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Filho de um guarda civil, estudou a Academia Militar das Agulhas Negras. Tinha fama de aluno dedicado sem, no entanto, abrir mão de uma bagunça. Foi o 15° entre os 69 da turma em desempenho, mas passou 35 dias no xilindró durante o curso. Era bom de bola e, como é fácil imaginar, amante de samba. A presença nas ações do centenário Cordão do Bola Preta, o mais antigo bloco do carnaval carioca, era certa.

Sua trajetória é também marcada por acusações de participação em torturas durante o regime militar. Após a divulgação do Ato Institucional Nº 5, em 1968, atuou como carcereiro do militante de esquerda Vladimir Palmeira e esteve entre os líderes da operação que prendeu o escritor Ferreira Gullar e o jornalista Paulo Francis. No ano seguinte, foi ferido na perna em uma ação de combate à luta armada. Sentia orgulho de interrogar os detidos da esquerda sem máscara, de carão limpo.

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Tornou-se bicheiro após encostar a farda. Começou como gerente das bancas de Ângelo Maria Longa, o Tio Patinhas. Sete anos depois, entrou para o conselho de chefões e passou a delimitar áreas de ação para os pequenos donos de banca. Foi um 14 megabanqueiros do bicho condenados pela juíza Denise Frossard, em de maio de 1993, a seis anos de prisão, pena máxima para formação de quadrilha ou bando armado, pois o bicho, uma contravenção, tem punições bem mais brandas. Beneficiados por liberdades condicionais, Guimarães e seus colegas voltaram para casa, no máximo, três anos depois.

Guimarães também esteve preso em 2007, por conta da Operação Hurricane (Furacão), detonada pela Polícia Federal contra o esquema caça-níqueis, num período em que iniciava a passagem do bastão dos negócios para o filho Júnior. Vinte e cinco pessoas caíram na tarrafa, entre elas seus parceiros de cúpula Anísio da Beija-Flor e Antônio Petrus Kalil, o Turcão (leia sobre ele nesta reportagem), desembargadores, juízes, procuradores e advogados.

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Castor de Andrade

Leia sobre ele em reportagem dessa série clicando aqui.

Rogério de Andrade e Fernando Ignácio, herdeiros de Castor

Leia sobre eles em reportagem dessa série clicando aqui.

Aniz Abraão David , o Anísio da Beija-Flor

Leia sobre ele em reportagem dessa série clicando aqui.

Waldemir Garcia, o Miro, Maninho, Shanna e (as brigas de) família

Waldemir Garcia, o Miro, ex-presidente executivo e de honra da Acadêmicos do Salgueiro, foi outro general estrelado da cúpula do bicho carioca até sua morte, em 2004. Anos antes, passou o controle dos negócios para o filho Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, também ex-presidente da escola do bairro da Tijuca, zona norte do Rio.

Mas o domínio do herdeiro sobre o império – mais de 1,4 mil pontos de apostas e sete mil máquinas de jogos eletrônicos, que geram um faturamento estimado entre R$ 120 milhões e R$ 160 milhões mensais - foi curto, muito curto. Em 28 de setembro de 2004, trinta e quatro dias antes de o pai Miro morrer de infecção pulmonar aos 72 anos, doente e quase cego, Maninho, 42, foi metralhado ao deixar a academia de ginástica Body Planet, na Freguesia, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. Estava com o filho Waldomiro Paes Garcia Júnior, o Mirinho, 15 anos à época, que foi baleado mas conseguiu sobreviver.

Maninho era rápido no assédio às mulheres e tinha fama - justificadíssima - de violento. No Salgueiro, controlava tudo com rigor. Um dos condenados pela juíza Denise Frossard, cumpriu três anos e meio de pena no Presídio Ary Franco, em Água Santa. Foi solto em outubro de 1996, dois meses antes do pai, que deixou a Penitenciária Esmeraldino Bandeira, na Bangu do amigo Castor, em dezembro do mesmo ano.

Na pendenga mais rumorosa em que se envolveu, o caso Carlos Gustavo Santos Pinto Moreira, o Grelha, em outubro de 1986, Maninho teve a ousadia de ameaçar de morte, entre outros, o ator Tarcísio Meira Filho, o Tarcisinho, filho de dois dos maiores ícones da história da dramaturgia brasileira: os atores Tarcísio Meira e Glória Menezes.

Maninho teria se irritado com olhares supostamente lançados na direção de Sabrina, sua mulher na época, por alguém da mesa em que Grelha jantava com os amigos Tarcisinho e José Augusto na Cantina Fiorentina, no Leme, zona sul do Rio. Houve bate-boca e, após deixar o restaurante, o trio foi seguido por Maninho e seus seguranças. Próximo ao Túnel Novo, entre Botafogo e Copacabana, o carro de Tarcisinho foi cercado por três outros e alvejado por três tiros de pistola nove milímetros.

Uma das balas atravessou a porta do carona e fez pedaços da 12ª vértebra da coluna de Grelha, deixando-o paralisado da cintura para baixo. Um dos seguranças de Maninho, José Carlos Santos Reis, o Joseph, assumiu a autoria dos disparos, pegou quatro anos de pena em regime aberto e o bicheiro foi considerado inocente no caso.

Com a morte de Maninho, em 2004, o império caiu nas mãos de seu irmão Alcebíades Paes Garcia, o Bide. Os conflitos no clã seguiram adiante, por bancas e jogos eletrônicos na zona sul, centro, bairros de Santa Cruz e Estácio e parte da Tijuca. Do outro lado está Shanna Harouche Garcia Lopes, filha de Maninho.

O marido de Shanna, José Luiz de Barros Lopes, tombou assassinado em 2011. Dias atrás, em 8 de outubro de 2019, uma terça-feira, foi a vez da própria Shanna, 34 anos, sentir a morte passar perto ao ser baleada no pulso e no tórax num estacionamento de shopping na Barra da Tijuca. Submetida a cirurgia, ela se recupera bem. Em abril de 2017, seu irmão Mirinho, o mesmo que escapou do atentado que matou o pai, não deu de cara com a mesma sorte: foi assassinado aos 27 anos, após ter sido sequestrado quando deixava uma academia, também na Barra.

“Tenho desconfiança de meu ex-cunhado (Bernardo Bello). Briga de família. Houve uma situação em que ele me ameaçou. Ele toma conta de todos os bens legais que tenho em inventário, e acho que para ele eu sou uma ameaça. Estou com medo”, declara Shanna no depoimento sobre o caso em que levou os tiros. “Teve uma situação em que ele me ameaçou. Não sei como ele toma conta do jogo do bicho hoje”, explicou. Segundo ela, a discórdia continua por causa de bens familiares avaliados em pelo menos R$ 25 milhões, entre eles um haras. Vida que segue. Saga também.

Antônio Petrus Kalil, o Turcão

Turcão morreu em 28 de janeiro de 2019, aos 93 anos, na mesma Niterói em que nasceu. De origem humilde, construiu um império com jogo do bicho e caça-níqueis nos municípios fluminenses de Niterói e São Gonçalo (que dividia com Capitão Guimarães), Itaboraí, Rio Bonito, Silva Jardim, Saquarema e Araruama.

Expandiu as ações até áreas de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco, apesar dos protestos dos ‘colegas de negócio’ locais. Seu irmão, José Petrus Kalil, o Zinho, comandou a jogatina no centro do Rio e atuou como porta-voz da cúpula. Turcão foi patrono da Estácio de Sá, escola de samba do centro do Rio, e Marcelo, seu filho, da niteroiense Acadêmicos do Cubango.

Por causa da idade e dos problemas cardíacos, Turcão passou os negócios para os filhos bem antes de morrer. Os surtos de esquecimento, perda de memória e desatenção eram frequentes em seus últimos anos de vida. Era conhecido entre os amigos pelo jeito carinhoso no trato e a mão aberta. Tinha por hábito recebê-los em casa para cafés e almoços regados a muito papo. Gostava também de longas conversas ao telefone, hábito reduzido à medida que a idade e os problemas de saúde avançavam.

Gostava também de ajudar conhecidos, inclusive políticos, com dinheiro que guardava aos maços. Muitas vezes ‘se esquecia’ de cobrar quantias, digamos assim, menores, de até R$ 10 mil. Se o prego era maior do que isso, os juros cobrados, quando isso ocorria, eram para lá de amigáveis. Turcão passava parte do tempo jogando cartas – sempre a dinheiro – com Capitão Guimarães e Anísio. Quando perdia rodadas de baralho para os empregados, pagava dez vezes o valor da aposta feita.

O filho Marcelo Kalil assumiu o controle dos caça-níqueis, bingos e terras arrendadas na região de controle. E a parte legal do complexo, que inclui restaurantes, supermercados, centros esportivos e academias, entre outras empresas, ficou a cargo de Antônio Petrus Kalil Filho, o Toninho.

Luiz Pacheco Drumond, o Luizinho

O carioca Luiz Pacheco Drumond, o Luizinho Drumond, 79 anos, fez seu império de bicho na região da Leopoldina, zona norte do Rio. Por isso, virou patrono, presidente executivo e de honra da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, tricampeã do carnaval em 1999, 2000 e 2001, e presidente da Liesa de 1998 a 2001.

Em 1999, foi acusado de ter ordenado, onze anos antes, o assassinato do banqueiro Abílio Português, como consequência da disputa travada entre os dois pelo controle de pontos de bicho. Em novembro de 2011, agrediu Mestre Marcone, então diretor de bateria da Imperatriz, contrariado pelo fato de o sambista não ter dado entrevista ao promoter Amir Khader para uma emissora de televisão. O episódio foi parar na polícia, com BO que teria sido feito pelo agredido. Luizinho foi convocado para apresentar suas juistificativas. Seis meses depois, Mestre Marcone foi encontrado adormecido para a eternidade com 20 tiros. Na área, especula-se até hoje – com muito cuidado - sobre quem poderia ter sido o mandante.

Hélio Ribeiro de Oliveira, o Helinho da Grande Rio

Helinho da Grande Rio é patrono da escola de samba Grande Rio, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sua área de atuação no bicho. Um episódio que o envolveu chamou a atenção em dezembro de 2011: a apreensão de R$ 3,9 milhões, 2.950 euros, um computador, um carro blindado e uma réplica de fuzil Ak-47 na casa de um de seus tios, Adilson Coutinho de Oliveira, na Barra da Tijuca.

A polícia civil precisou recorrer a um carrinho de supermercado para recolher e retirar os maços de notas de R$ 50 e R$ 100. Tinha dinheiro no telhado, no sótão e até dentro dos vasos sanitários da mansão. O bicheiro foi um dos presos na Operação Dedo de Deus, em novembro de 2011, mas conseguiu habeas-corpus em fevereiro do ano seguinte, a tempo de assistir ao desfile de sua escola do coração no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

Mário Tricano, o Tricano da Serra

O advogado Mário de Oliveira Tricano, 73 anos, conhecido popularmente apenas por Tricano, nascido em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, foi prefeito de Teresópolis, na serra fluminense, por cinco mandatos. É tido como líder do ramo do bicho na região, onde mantém vários negócios, entre eles um hotel e um haras.

Poderoso e influente, envolveu-se em várias polêmicas. Teve problemas com a Lei da Ficha Limpa na carreira política. O assassinato de seu filho Jefferson, em 1988, é atribuído a conflitos gerados pela ligação com a contravenção. Também foi preso pela Operação Dedo de Deus em 2011, mas saiu da cadeia um mês depois por um habeas-corpus.

Ivo Noal

Ao contrário do que ocorreu no Rio de Janeiro, onde o bicho teve o poder e os territórios divididos pela cúpula, em São Paulo o banqueiro Ivo Noal reinou praticamente sozinho nas últimas décadas.

Noal foi preso em várias ocasiões, acusado de sonegação fiscal e formação de quadrilha, entre outros crimes. Na última vez em que deixou a cadeia, disse ter abandonado totalmente o controle da atividade, mas a polícia e a Justiça paulistas nunca acreditaram nessa versão.

Sua fortuna pessoal foi estimada em R$ 2,8 bilhões em meados dos anos 2000.

Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira

O empresário Carlinhos Cachoeira tem negócios no jogo do bicho e na exploração de máquinas caça-níqueis no Distrito Federal e em parte de Goiás, Minas Gerais e de estados da região Nordeste. Herdou a atividade de seu pai, Tião Cachoeira, e ampliou as ações para muitos negócios legais.

Cachoeira mantém boas relações com políticos e empresários e políticos importantes. Em 29 de fevereiro de 2012, foi preso pela Polícia Federal como parte da Operação Monte Carlo, que combatia a exploração de máquinas de caça-níquel em Goiás. Escutas da investigação atingiram o então senador Demóstenes Torres e os ex-governadores Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, e Marconi Perillo, de Goiás.

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