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Renda de casas onde moram apenas pessoas brancas é 147% maior do que só com negros

Rendimento em domicílios habitados por pessoas negras é 59,6% menor, diz Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais

Cidades|Julia Girão, Do R7*

Racismo, baixa remuneração e informalidade fazem rendimento negros serem mais baixos
Racismo, baixa remuneração e informalidade fazem rendimento negros serem mais baixos Racismo, baixa remuneração e informalidade fazem rendimento negros serem mais baixos

A renda de casas onde moram apenas pessoas brancas é 147% maior do que em residências em que vivem apenas negros. Os dados, que fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Cedra (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais) e divulgada nesta sexta-feira (16), mostram que a renda média por morador de domicílios somente com pessoas negras era de R$ 598,00 em 2010. Já com moradores negros e não-negros era de R$ 627,00. Nas casas sem pessoas negras a renda é de R$ 1.482,00.

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A pesquisa aponta ainda que o rendimento em casas ocupadas somente por negros é 59,6% menor do que domicílios onde vivem pessoas brancas. “O Brasil é um país profundamente racista. As discriminações são feitas, mas de maneira velada”, diz Marcelo Tragtenberg, integrante do Conselho Deliberativo do Cedra e doutor em física estatística.

O racismo no Brasil, de acordo com o professor e analista socioeconômico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Jefferson Mariano, é estrutural e existem muitos entraves para que negros estejam inseridos na sociedade de consumo e de classes. "Os postos de trabalho nos quais a remuneração é menor são destinados à população negra".

Os dados, segundo o estudo, mostram o racismo enquanto um fenômeno social e coletivo e não do ponto de vista comportamental e individual. Os números foram obtidos a partir do Censo 2010 e da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua) entre os anos de 2012 e 2019. “É importante ter uma fonte confiável na qual o cidadão possa consultar dados de forma simples de serem entendidas e, assim, possa contribuir com a formação de políticas públicas que tragam uma maior igualdade racial.”

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Mercado de trabalho

A diferença tão discrepante entre rendas, para o professor, é causada pela combinação característica da baixa remuneração com a informalidade dos trabalhos. Nos empregos que oferecem uma remuneração mais alta, não existe um plano de carreira ou uma perspectiva de uma progressão para pessoas não-brancas. 

“Os negros mesmo em setores de remunerações mais elevadas não ocupam cargos de liderança e direção. No que se refere aos rendimentos, o problema fica muito acentuado tanto no setor público quanto no privado”, afirma.

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Apesar de representarem a maioria no país, os negros ocupavam pouco mais de 28% dos cargos gerenciais. O cenário para mulheres negras é ainda pior, segundo os dados. Elas possuem a menor representatividade nesse grupo, com apenas 10%.

Além disso, entre os trabalhadores sem carteira assinada, as mulheres negras eram a maioria, sendo quase o dobro dos homens brancos. Ou seja, quando se trata de discriminação, a junção entre ser mulher e ser negra são fatores determinantes para o aumento da desiguldade que esse grupo de pessoas sofrem em diversas áreas. 

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Analfabetismo, educação e idade

Segundo o estudo, 55% dos negros com 15 anos ou mais, em 2010, não tinham instrução ou ensino médio completo. Já os brancos, da mesma faixa etária e com o mesmo nível de escolaridade, a porcentagem era de 37,5%. "Existe uma série de mecanismos informais discriminatórios que contribuem para que as pessoas negras tenham menos oportunidades do que brancas", afirma Tragtenberg.

Os números demonstram que a desigualdade marca não apenas o ensino infantil e fundamental como também o superior. Entre pessoas de 25 anos ou mais, 16,6% dos brancos concluíram a faculdade, enquanto entre os negros, a porcentagem não passava de 5,7%.

Mulheres jovens negras, entre 20 e 24 anos, tinham mais acesso ao ensino fundamental do que as mais velhas, entre 40 e 49 anos. Cerca de 72,4% das jovens não só foram a escola, como também completaram essa fase, enquanto 44,4% das mulheres mais velhas ocuparam esse espaço. 

Ao tratar da população idosa, com mais de 60 anos, o analfabetismo possuia taxas de 27,3% entre as mulheres negras, sendo uma taxa um pouco menor entre os homens, com 24,9%. Entretanto, o comparativo entre brancos e negros mostra evidentemente o problema: enquanto 38,8% dos negros na terceira idade eram analfabetos, apenas 16,6% dos brancos não sabiam ler e escrever. 

"Eu não vislumbro uma melhoria no médio-prazo, são políticas de longo-prazo. Mas precisamos ter a ampliação das cotas raciais, tanto para a inserção do negro no mercado de trabalho, quanto na educação. É um trabalho longo de conscientização da população e das empresas, mas também precisa vir do poder público", pondera Mariano. 

*Estagiária do R7, sob supervisão de Fabíola Perez

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