Dólar fecha em alta, a R$ 5,37, e Ibovespa cai, com questionamento das eleições
A notícia adicionou mais um ruído a um mercado já tenso com as perspectivas fiscais do país para o próximo ano
Economia|Do R7
O dólar avançou frente ao real nesta terça-feira (22), e o Ibovespa fechou em queda, após a coligação do presidente Jair Bolsonaro entrar com representação no TSE em que pede uma "verificação extraordinária" do resultado da eleição deste ano, em meio ainda a dúvidas de investidores sobre como ficará o texto final da PEC da Transição.
A moeda americana à vista fechou em alta de 1,29%, a R$ 5,3798 na venda.
A notícia adicionou mais um ruído a um mercado já tenso com as perspectivas fiscais do país para o próximo ano e a ausência de definições sobre a equipe ministerial do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Antes disso, o Ibovespa vinha pressionado particularmente pela queda das ações da Petrobras em meio a crescentes receios sobre a estratégia da petrolífera de controle estatal a partir do próximo ano.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,85%, a 108.820,52 pontos, de acordo com dados preliminares. Na mínima, chegou a 107.867,47 pontos, distante da máxima, quando subiu a 110.223,73 pontos. O volume financeiro somava R$ 24,8 bilhões.
Humor dos mercados
O dólar operou em forte alta durante quase todo o pregão, mas acelerou o ritmo do avanço no final da tarde, depois da notícia de que a coligação de Bolsonaro ingressou com uma representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em que pede uma verificação extraordinária da eleição de 2022, usando como base um relatório que aponta suposto mau funcionamento das urnas eletrônicas no segundo turno.
De acordo com Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, num cenário já repleto de incertezas, a tentativa de Bolsonaro de questionar as eleições "acrescenta pessimismo em cima de tudo que já temos", embora tenha dito acreditar que a movimentação do atual presidente não prosperará.
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou nesta terça-feira que a coligação de Bolsonaro apresente em 24 horas uma auditoria referente aos dois turnos da eleição, sob pena de indeferimento da ação apresentada mais cedo.
Na segunda-feira, o humor dos mercados havia sido sustentado por esperanças de que o texto da PEC da Transição pudesse ser desidratado durante as negociações, reduzindo a previsão de gastos extrateto e definindo um prazo claro para eventuais exceções às regras fiscais do país. No entanto, a falta de definição voltou a deixar os investidores nervosos nesta sessão, quando a volatilidade seguiu elevada.
"Em síntese, acho que a falta de consenso sobre a PEC da Transição fez o mercado recompor posições defensivas que havia desfeito na véspera", explicou Bergallo à Reuters.
Integrantes da equipe de transição e encarregados da negociação com o Congresso estimam estar próximos de fechar um texto de consenso para a PEC, que já poderia iniciar sua tramitação ainda nesta semana, possivelmente na quarta-feira.
A Levante Investimentos disse em nota a clientes que "será crucial, inclusive para evitar maiores turbulências nos mercados, encontrar um equilíbrio entre o que o Congresso está disposto a validar e os interesses do governo para viabilizar seus gastos no ano que vem".
A instituição tem como cenário-base o enxugamento da PEC da Transição, levando à aprovação de um "waiver" (licença para gastar acima do limite do teto) bastante distante dos quase 200 bilhões de reais inicialmente almejados pelo governo eleito.
Alguns investidores também citaram especulações de que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad será o escolhido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o Ministério da Fazenda como motivo de cautela nesta terça-feira.
Na semana passada, a Reuters informou, citando fontes próximas de Lula e do ex-prefeito, que Haddad está sendo visto como o favorito do presidente eleito para ocupar o cargo. Os mercados acreditam que Haddad provavelmente teria uma postura fiscal muito inclinada a gastos caso assumisse a Fazenda, de forma que têm reagido mal a qualquer indicação nesse sentido.
Os ganhos do dólar frente ao real vinham na contramão do exterior, onde o índice que compara a moeda americana a uma cesta de seis pares fortes perdia 0,3%.
Apesar da queda internacional do dólar, Bergallo, da FB, chamou atenção para pontos de cautela no cenário global, como a publicação da ata do comitê de decisão de juros do Federal Reserve, agendada para quarta-feira.