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Após 338 mortos e mais de 1500 feridos, especialistas fazem alerta sobre onda de terrorismo na Europa

Atentados devem continuar e não há solução a curto prazo, indica professor de Relações Internacionais

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7


Em janeiro de 2015, atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo inaugurou onda de terrorismo na Europa
Em janeiro de 2015, atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo inaugurou onda de terrorismo na Europa

Desde que dois homens armados com fuzis invadiram a sede do jornal Charlie Hebdo em Paris e assassinaram 12 pessoas em nome da organização fundamentalista Al Qaeda, em janeiro de 2015, a Europa já testemunhou pelo menos 13 grandes atentados terroristas. Os ataques — boa parte reivindicada pelo grupo extremista Estado Islâmico — resultaram na morte de 338 pessoas e deixaram, no mínimo, 1524 feridos (infográfico completo abaixo), de acordo com levantamento feito pelo R7. Os números, infelizmente, estão longe de estancar, segundo Peterson Silva, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos do Exército Brasileiro.

— Não existe uma solução disponível a curto prazo para essa situação. Mesmo que da noite para o dia o Iraque fosse pacificado ou a guerra na Síria acabasse, o problema é muito mais profundo. As origens do terrorismo vêm de questões históricas e complexas que não se restringem ao choque de civilizações entre Oriente e Ocidente. Elas abrangem guerras entre grupos opositores dentro da própria religião muçulmana.

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A melhor saída para abrandar a atual onda de atentados, desta forma, seria os governos investirem pesadamente em ações integradas de antiterrorismo e contraterrorismo, conforme explica Ricardo Gennari, especialista em Inteligência Estratégica, Cenários Prospectivos e Segurança pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).

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— O antiterrorismo é a prevenção e o contraterrorismo é o combate. Algo que ajuda muito na prevenção são os serviços de inteligência — eles são as cabeças que auxiliam em todas essas ações de antiterrorismo. O ideal é que haja uma estrutura de inteligência na qual os países se comuniquem.

Gennari aponta que, atualmente, os serviços de inteligência investigam dados a partir de diversas procedências e monitoram terroristas em potencial.

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— Esses serviços buscam informações, analisam e repassam para as autoridades responsáveis. Os dados são obtidos a partir de muitas fontes. Há fontes abertas e fontes fechadas: as fontes abertas são o Google, as redes sociais ou mesmo a imprensa. Já as fontes fechadas são obtidas por meio de investigação in loco, trabalhos de espionagem, levantamentos de fichas criminais. A Inglaterra faz isso, Israel faz isso, os EUA fazem isso. Num plano macro, as unidades de inteligência precisam estar unidas. Desta forma, as informações que um órgão tem são importantes não só para um país — mas para todos.

Quando um suposto terrorista é identificado, ele passa a ser monitorado por meios físicos e tecnológicos para evitar qualquer ameaça.

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De acordo com o especialista, há estudos indicando que existe hoje o monitoramento de três mil pessoas ligadas ao terrorismo na Inglaterra. “Não são dados do governo, apenas especulações. Mas no caso de um atentado efetivamente perpetrado, o mais importante é que existam forças de contraterrorismo prontas para agir — como aconteceu no ataque à London Bridge, em que oito minutos após o atentado a polícia já tinha conseguido alvejar o terrorista”, comenta o especialista.

Lobos solitários 

A grande dificuldade para os serviços de inteligência atualmente é identificar os chamados lobos solitários — simpatizantes de grupos terroristas como Estado Islâmico ou Al-Qaeda que realizam atentados de forma independente, conforme explica Peterson Silva.

— É muito difícil prever um atentado como aquele que ocorreu em Manchester, por exemplo — onde um homem-bomba agiu sozinho fazendo uso de um artefato de fabricação caseira. Esses indivíduos, se têm algum contato com uma célula terrorista, o fazem por meio de aplicativos criptografados. Também não é possível antecipar se alguém vai sair na rua com uma faca escondida ou furtar um veículo de grande porte para atropelar uma multidão.

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Dos treze últimos grandes atentados registrados na Europa, aliás, sete foram caracterizados por atropelamentos em massa. Na última quarta-feira (23), a polícia da Alemanha instalou barreiras de concreto diante da catedral gótica de Colônia para evitar atentados com veículos — estratégia que, para Ricardo Gennari, não é das mais efetivas: “Se o combate ao terrorismo for feito do modo como algumas cidades europeias já vêm executando — de colocar barreiras físicas para carros em torno de pontos históricos e turísticos —, o que vai acontecer é que simplesmente o modus operandi dos terroristas será mudado. E aí a gente não sabe o que virá”, aponta o especialista.

O professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, por sua vez, reforça a importância do investimento em campanhas de desradicalização — que trazem resultados efetivos no longo prazo.

— É válido impedir a cooptação de jovens por grupos extremistas na internet e combater a divulgação de mensagens preconceituosas nas redes. Mas muito mais importante é a questão da educação para a tolerância, para a convivência. Só isso vai impedir, de fato, que mais inocentes sejam mortos. O caminho é longo, mas é fundamental desfazer estereótipos e dar condições para que diferentes visões de mundo e religiões convivam de uma forma civilizada. Essas medidas educativas combatem, inclusive, movimentos preocupantes que temos visto recentemente, que são a volta do nacionalismo, a volta da xenofobia e o neonazismo.

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