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Entenda o portunhol, o jeito de falar que une o Mercosul

Já que não se fala a mesma língua, quem vive nas fronteiras e os turistas fazem uma 'gambiarra' — ou 'atan con un arame' o português e o espanhol

Internacional|Beatriz Sanz, do R7

O Portunhol é uma língua de turistas
O Portunhol é uma língua de turistas O Portunhol é uma língua de turistas

Entre barraquinhas de comidas típicas do países do Mercosul, diversos grupos de jovens se reuniam falando alto, dando gargalhadas e se divertindo como amigos de longa data. Nem parecia que, em tese, existia um problema que poderia impossibilitar a comunicação entre eles. Um terço das pessoas ali presentes não falava a mesma língua. A solução encontrada foi a mesma à qual recorrem turistas viajando pela América do Sul ou vizinhos das fronteiras do continente: o portunhol.

Nos corredores do centro de convenções onde o evento acontecia era possível ouvir o som reconhecível da mistura de palavras do português e do espanhol. Assim era feita a comunicação entre os participantes do evento — o Primeiro Encontro de Jovens do Mercosul, que reuniu estudantes do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai para trocar experiências sobre o mercado de trabalho e a juventude em Montevidéu, no início de dezembro.

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No início, os “hispanohablantes” não se sentiam confortáveis para puxar assunto. Coube aos brasileiros e à animação que nos é típica, envolver os companheiros.

'Misturamos as línguas'

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A uruguaia Lucile Rodríguez, 25, que participava do Encontro fez amigos brasileiros e explica os truques para se comunicar. A saída utilizada pela jovem para evitar confusões era o usar o inglês. “E quando nada funciona, misturamos todas as línguas”.

O portunhol também está presente nas fronteiras, já que o Brasil é o único país do continente a falar português e faz divisas com pelo menos sete países que têm o espanhol como língua oficial.

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Já que não é possível se comunicar na mesma língua, o portunhol acaba sendo uma “gambiarra” para que as pessoas que vivem nas fronteiras ou os turistas possam se comunicar. Ou como diriam nossos vizinhos: se "atan los arames" entre o espanhol e o português.

Segundo Eliana Sturza, professora da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e pesquisadora do tema, esse dialeto pode ser chamado de “espanhol de turismo” e surge por conta de uma “necessidade de comunicação”.

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“É uma língua de contato para comunicação imediata e que funciona muito bem porque as pessoas se entendem”, define.

Já para a professora Marisol Lage, Mestranda em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP, “o uso dessa língua é uma escolha política do falante”.

A uruguaia Lucile Rodríguez, 25, que participava do encontro em Montevidéu fez amigos brasileiros e explica os truques para se comunicar. A saída utilizada pela jovem para evitar confusões era o usar o inglês. “E quando nada funciona, misturamos todas as línguas.”

Portunhol do Uruguai

A professora Sturza explica que, apesar de ser o mais conhecido, o “portunhol de turismo” não é o único fenômeno que leva esse nome.

Ela conta que a literatura de fronteira tem um recurso chamado “portunhol selvagem” — que também inclui referências do guarani — e que quando pessoas falante de português estão aprendendo espanhol, ou vice-versa, existe um estágio do aprendizado que também se chama portunhol.

Contudo, uma manifestação muito importante que tem o mesmo nome é o portunhol falado no norte do Uruguai, também conhecido como português uruguaio.

Há cerca de 200 anos, a região do norte do Uruguai estava desocupada, então brasileiros e portugueses colonizaram a região. O português falado naquela época evoluiu e se mesclou com o espanhol de uma forma que se tornou um idioma próprio.

Atualmente, existe uma mobilização muito grande para que o portunhol seja reconhecido como Patrimônio Imaterial da Unesco.

Segundo Sturza, o portunhol se tornou uma língua de convívio social na região. “A pessoa fala portunhol em casa, mas ela sabe que se for até a prefeitura deve falar o espanhol formal”, diz.

O governo uruguaio até incentiva o ensino do português nas escolas, mas o portunhol continua sendo deixado de lado.

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