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Jornalista saudita desaparecido era visto como ameaça interna à Arábia

 Especialista diz que Jamal Kashoggi era um crítico do príncipe Mohammed bin Salman, que luta contra o crescimento de uma oposição ao governo

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Bin Salman passa uma imagem moderna
Bin Salman passa uma imagem moderna Bin Salman passa uma imagem moderna

O caso envolvendo o desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que não foi mais visto após entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, por um lado é um mistério. Mas, por outro, é muito revelador. Elucida todo o caráter repressor e autoritário que o país saudita estava tentando esconder do mundo.

Essa afirmação descreve o pensamento do professor Danilo Porfírio de Castro Vieira, doutor em análise do Desenvolvimento do Terrorismo Contemporâneo pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e autor do livro "Ação política norte-americana e o jihadismo no Oriente Médio", a ser lançado em novembro próximo.

Para Castro Vieira, o sumiço do jornalista tem total relação com um desejo do atual mandatário saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, de conter uma oposição interna ao seu governo.

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"Khashoggi era ligado ao estafe político do antecessor de Bin Salman, era um virulento opositor do atual regime. Na coluna do The Washington Post ele falava abertamente sobre isso. Era tratado como uma ameaça à estabilidade de Bin Salman dentro da família Saud (que controla o governo). O desaparecimento dele não tem relação direta com a política externa do país. Ele era visto como uma ameaça à consolidação de poder interno."

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Consolidação esta que foi iniciada com um verdadeiro expurgo de ex-funcionários, inclusive de alto escalão, feito por Bin Salman no ano passado. Em 4 de novembro de 2017, pelo menos 11 príncipes, quatro ministros e dezenas de ex-ministros foram presos, por ordem de um comitê anticorrupção, criado horas antes pelo rei Salman bin Abdulaziz al-Saud, pai de Bin Salman.

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Entre os presos estavam os primos de Bin Salman, Almirante Abdullah Bin Sultan, comandante das Forças Navais sauditas, e o chefe da Guarda Nacional (dos três braços das Forças Armadas sauditas), o príncipe Miteb Bin Abdullah.

Outro primo, Nayef, também foi preso. Bin Salman e os primos faziam parte dos três clãs familiares que controlavam o país. Com a prisão de importantes nomes de dois clãs, restou apenas Bin Salman para comandar a Arábia Saudita.

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Em setembro, houve a prisão de religiosos, que poderiam impedir a abertura aparente promovida por Bin Salman. Muitas prisões estão sob suspeita de terem sido seletivas e arbitrárias. Castro Vieira ressalta:

"Trata-se de um regime extremamente autoritário, que se mantém. No caso da guerra do Iêmen o governo saudita está sendo implacável, atacando civis. Também continua implacável com a questão da mulher, da tolerância religiosa para pessoas que não são islâmicas. Na verdade é tão linha-dura quanto o tio Abdullah (morto em 2015, aos 90 anos) e o próprio pai de Bin Salman."

Neste sentido, a abertura implementada também em 2017, quando mulheres obtiveram o direito de dirigir e a permissão para, em breve, haver a abertura de salas de cinema, era uma maneira de ganhar tempo, segundo a análise do professor. Isso em nada afetou a brutalidade do sistema local.

"Bin Salman e sua equipe querem ganhar tempo aparentando a abertura. Há alguns países no atual contexto mundial que optam por uma modernidade de fachada, aparente, para ocultar verdadeiras intenções de se perpetuar no poder de forma autoritária."

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