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'Não sou corajosa, só tentei ser forte', diz afegã que deixou o país

Zahra Joya criou site que aborda a realidade das mulheres do Afeganistão e denuncia a violação de direitos pelo Talibã

Internacional|Letícia Sepúlveda, do R7

A jornalista afegã Zahra Joya deixou o seu país após a retomada do Talibã
A jornalista afegã Zahra Joya deixou o seu país após a retomada do Talibã A jornalista afegã Zahra Joya deixou o seu país após a retomada do Talibã

Quando o Talibã retomou o controle de Cabul, capital do Afeganistão, a jornalista Zahra Joya, de 29 anos, decidiu deixar o país o mais rápido possível. Em governos extremistas, as mulheres enfrentam diversas violações de direitos, e essa realidade só se agrava para aquelas que tentam denunciar os horrores do regime em que estão submetidas. 

"Eu estava em Cabul quando o Talibã tomou a cidade, não podia sair de casa depois disso. Eles não respeitam os direitos humanos, principalmente os direitos das mulheres. Elas não podem ir ao trabalho e estão privadas do direito à educação. Foi horrível porque todas ficaram com medo da situação", explicou Zahra em entrevista ao R7

Em meio ao desespero, ela entrou em contato com alguns colegas do jornal britânico The Guardian. Após começar os trâmites para conseguir refúgio no Reino Unido, recebeu um e-mail da embaixada britânica em Cabul com a autorização para entrar no país. Em 26 de agosto, 11 dias depois do Talibã assumir o poder, Zahra chegou a Londres como refugiada, acompanhada por duas irmãs e um irmão. Ela ainda tenta tirar o restante de seus familiares do Afeganistão. 

"Não me sinto corajosa%2C apenas tentei ser forte"

(Zahra Joya, jornalista afegã)

Zahra faz parte da minoria de afegãs que conseguiram frequentar a universidade. "Estamos tentando levantar nossas vozes e lutar por igualdade. O Talibã precisa entender que, nesses últimos 20 anos, as mulheres estudaram e trabalharam. Existe uma nova geração agora".

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"Não me sinto muito corajosa, apenas tentei ser forte para exercer meus direitos e minha profissão. Em toda a minha vida eu nunca imaginei que um dia seria uma refugiada", completou. 

O Talibã tenta convencer o mundo de que será mais moderado em relação ao último período em que controlou o Afeganistão, entre 1996 e 2001. Mesmo sem muitas lembranças desses anos de repressão, a jornalista não acredita nas promessas. 

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Mulheres jornalistas

Em novembro de 2020, Zahra fundou a Rukhshana Media, site em que mulheres jornalistas contam a história de várias afegãs em todo o país, desde como são tratadas dentro de casa até sua luta por direitos em uma sociedade em que o conservadorismo religioso e o patriarcado governaram todos os aspectos da vida social.

"Desde 2011 eu sou jornalista no meu país, tive o apoio dos meus pais, mas o tempo inteiro enfrentei dificuldades para exercer o meu trabalho, devido à situação precária que as mulheres enfrentam no Afeganistão. Criei a plataforma para que fosse um espaço seguro de discussão entre todas nós", diz a afegã. 

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O site leva o nome de uma afegã que, em outubro de 2015, foi apedrejada até a morte por fugir de um casamento forçado para viver com o homem que amava. Oficiais da província de Ghor, onde Rukhshana foi assassinada, acusaram o Talibã de orquestrar o assassinato, mas o crime nunca foi julgado.

"Nossa redação se chama Rukhshana para nos lembrarmos da profunda desigualdade de gênero no Afeganistão, onde as mulheres são mortas por tomarem decisões sobre seus corpos e suas vidas privadas".

As mulheres e o Talibã

Zahra conta que havia mais liberdade durante os 20 anos em que os EUA ocuparam o Afeganistão. Nesse período, mulheres podiam buscar emprego fora de casa e meninas podiam frequentar as escolas e almejar um diploma universitário.

Esse cenário é bem diferente em menos de dois meses do novo regime e aos poucos o receio da jornalista sobre o futuro das mulheres de seu país começa a ganhar forma.

No final de setembro, o novo reitor da Universidade de Cabul, Mohammad Ashraf Ghairat, posto nas redes sociais que não seria aceito funcionárias do sexo feminino e que somente alunos homens frenquetariam as salas de aula da instituição, tudo sob a justificativa da religião.

“Enquanto um ambiente islâmico não for criado para todos, mulheres não poderão ir para a universidade ou trabalhar. Islã primeiro”, escreveu Mohammad.

Além de perderem o direito ao estudo, a afegãs também foram proibidas de praticar esportes poucas semanas depois da tomada de Cabul. Um dos líderes talibã disse que essa é uma atividade “desnecessária” e que as mulheres corriam o risco de ficar com o corpo e o rosto descobertos, o que iria de encontro com o Islã.

Em meio a uma crise política e econômica e sob o regime extremista, a situação da população do Afeganistão como um todo é de vulnerabilidade. A ONU estima que pelo menos 500 mil refugiados afegãos devem deixar o país em busca de um lugar seguro para reconstruir a vida.

"Os afegãos simplesmente não podem viver com esse grupo terrorista no poder. A comunidade internacional deveria olhar para os motivos que levam a população a querer deixar o país", diz Zahra.

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