O primeiro-ministro da Tunísia, Elyes Fakhfakh, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (15), após várias semanas de polêmica pelo suposto envolvimento em um crime de corrupção. A decisão inseriu o país em uma grave crise política, além da econômica e social que já dura meses.
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Segundo a estação de rádio local Mosaïque FM, o chefe do governo apresentou a renúncia após uma reunião no palácio de Cartago com o presidente da República, Kais Said, o presidente do Parlamento e parceiro do governo, Rachid Ghannouchi, e o secretário-geral do UGTT, principal sindicato do país e importante mediador político, Noureddine Tabboubi.
Segundo a Constituição, o presidente tem agora uma semana para nomear um substituto, que precisa obter o apoio de uma maioria absoluta no Parlamento dentro de um mês e escolher um novo governo, uma vez que o atual continua em funções.
Se não conseguir, a Constituição prevê que o prazo pode ser prorrogado por mais 30 dias, ou as eleições, realizadas em outubro do ano passado, serão repetidas.
Pressão Islâmica
A demissão veio poucas horas após o partido conservador islâmico Ennahda, a maior força parlamentar, com 54 assentos, e parceiro do governo, no qual tem seis ministros, ter iniciado os procedimentos para apresentar uma moção de censura contra Fakhfakh.
O grupo depositou uma proposta com 105 assinaturas, apenas quatro a menos que os 109 necessários para ser aceita pelo Parlamento.
Entre os signatários estão os deputados do Ennhada e de outros dois partidos maioritários, Qalb Tunis, liderada pelo controverso magnata dos meios de comunicação Nabil Karaoui, que também está sendo processado por corrupção, e Al Karama, de tendência salafista.
Nenhum deles fazia parte da fraca coalizão governamental, mas o Ennahda sempre quis se juntar ao Qalb Tunis, desejo que foi recebido com uma recusa retumbante por parte de Fakhfakh.
Conflito de Interesses
A situação do premiê começou a se complicar há algumas semanas, quando o Instituto Nacional de Luta contra a Corrupção (INLUCC) o considerou culpado de um suposto delito de "conflito de interesses" por não ter declarado que possuía ações de empresas privadas que tinham contrato com o governo.
Fakhfakh, que nega as acusações, contra-atacou na terça-feira o parceiro conservador com o anúncio de uma reformulação do gabinete após uma reunião com Said, que desempenhou um papel estranho ao negar, entre outras coisas, que houvesse qualquer manobra para derrubar o governo.
Especialistas locais cogitaram então a possibilidade de Fakhfakh decidir expulsar os seis ministros do Ennahda, em uma tentativa de sobreviver politicamente, que agora desapareceu.