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Deputados mineiros recebiam propina em caixas de sabão, diz PF

Operação Capitu, desdobramento da Laja Jato, prendeu o vice-governador de Minas Gerais e executivos da JBS

Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7

Antonio Andrade foi preso nesta sexta-feira (9)
Antonio Andrade foi preso nesta sexta-feira (9) Antonio Andrade foi preso nesta sexta-feira (9)

Deputados federais mineiros pelo MDB receberam dinheiro de propina que era transportado dentro de caixas de sabão. É o que informou a Polícia Federal, em Belo Horizonte, sobre a operação Capitu, desdobramento da Lava Jato, que culminou na prisão do vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB), e dos executivos da JBS Joesley Batista, Ricardo Saud e Demilton de Castro nesta sexta-feira (9).

Veja também: Ex-tesoureiro de Dilma foi alvo de buscas da Lava Jato

As investigações apontam que a JBS financiou a campanha do deputado federal Eduardo Cunha (MDB) à presidência da Câmara. Em troca, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) teria trabalhado para dificultar a participação de pequenas empresas no mercado de alimentício, favorecendo o grupo da família Batista.

"Propina cabo"

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O esquema aconteceu entre 2014 e 2015, durante o Governo Dilma. À época, a pasta era comandada pelo atual vice-governador de Minas. Apenas Andrade teria recebido R$ 15 milhões que foram distribuídos entre a bancada mineira do partido.

De acordo com Mário Veloso, delegado da Polícia Federal responsável pela investigação, o dinheiro era encaminhado aos políticos por dois caminhos diferentes.

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No primeiro deles, a JBS teria pagado seis escritórios de advocacia por serviços que jamais foram prestados. Os advogados envolvidos emitiam notas frias e encaminhavam a propina aos deputados.

O segundo esquema contava com a ajuda de duas redes de supermercados que atuam em Minas Gerais. Os mercados compravam mercadorias nos frigoríficos da JBS e não pagavam pelos produtos.

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O delegado Veloso explica que, em vez disso, a empresa determinou que o dinheiro fosse repassado a deputados do MDB por meio de doações oficiais para a campanha de 2014 e também por doações não oficiais. Um dos sócios a rede varejista e suas empresas teriam destinado cerca de R$ 9 milhões a candidatos na corrida eleitoral de 2014.

— O que a rede de supermercados ganhava ainda está sendo apurado. Mas é, no mínimo, prestígio diante dos políticos.

Entre os investigadores, a estratégia foi batizada de "propina cabo", em analogia ao dólar cabo, que é uma operação financeira em que negociantes fazem depósito em reais em uma conta no exterior para que o recebedor disponibilize a ele o montante equivalente em dólar, ou seja, de forma indireta, fora do país.

Além disso, os titulares do Mapa e um servidor público receberam R$ 2 milhões para aprovar a proibição do uso de ivermectina de longa duração (antiparasitário aplicado em bovinos). Outros R$ 2 milhões pagos para regulamentar os despojos, Que são partes do Gado que não são consumidas no mercado internacional mas que são apreciadas na Ásia.

Quando Andrade deixou o ministério da Agricultura em março de 2014, para se candidatar a vice-governador de Minas Gerais, o novo ministro, Neri Geller (PP-MT), teria continuado recendo R$ 250 mil mensais da JBS. A PF não informou o montante total de pagamentos.

Obstrução de Justiça

No decorrer das investigações, a PF descobriu que houve uma tentativa de obstrução judicial. Os empresários e funcionários da JBS que são investigados já haviam prestado depoimentos em colaboração premiada em outras fases da Lava Jato. Contudo, foi constado que os envolvidos mentiram em algumas partes e omitiram informações. Além disso, eles teriam queimado provas sobre as irregularidades.

O nome da operação, Capitu, foi escolhido devido à má-fé dos envolvidos no caso. Ele faz referência à parsonagem do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, conhecida por ser dissimulada.

— Apesar da colaboração desta empresa e outros colaboradores ter sido efetiva a investigação a Polícia Federal descobriu-se omissões e contradições graves que colocam em xeque a credibilidade da colaboração.

Presos

Ao todo, 15 pessoas foram presas, sendo 7 em Minas Gerais, 5 em São Paulo, 2 em Brasília e 1 no Mato Grosso. Um mandado de prisão também foi expedido para Eduardo Cunha, mas como ele já está detido no Paraná, o ex-presidente da Câmara continua na penitenciária.

Três pessoas seguem foragidas. Uma delas é um dos sócios da rede de supermercados que está viajando para o Uruguai. Segundo a PF, ele já negocia para se entregar. O outro é um advogado de Uberaba que estaria em São Paulo a trabalho. Outra pessoa de São Paulo também ainda não foi localizada.

Defesa

A JBS não emitiu nenhum posicionamento até a publicação desta reportagem. Em contato com o R7, o advogado André Callegari afirmou que "Joesley Batista é colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários".

Sobre os executivos da J&F, o advogado Pierpaolo Bottini afirmou que "a investigação só existe porque os executivos da J&F colaboraram com a justiça. O acordo segue vigente. Joesley, Saud e Demilton já depuseram, cada um deles, três vezes na Justiça, e nunca se recusaram a colaborar. Esperamos que a prisão seja revogada assim que esclarecidos os fatos".

A defesa de Antônio Andrade afirma que “haverá manifestação tão logo a defesa tome conhecimento do conteúdo do inquérito. Durante o depoimento, Antônio Andrade respondeu tudo o que lhe foi perguntado e colaborou com o trabalho da Polícia Federal”.

O MDB de Minas Gerais e o ex-ministro da Agricultura Neri Geller foram procurados, mas não se posicionaram até a publicação deste texto.

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