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Nevascas e ondas de frio desmentem o aquecimento global?

Nevascas em países do Hemisfério Norte e ondas de frio em países tropicais geram questionamentos sobre o fenômeno

MonitoR7|Do R7

Nevascas históricas em janeiro de 2018 paralisaram a costa leste dos Estados Unidos. No começo de 2021, foi a vez de a Europa enfrentar ondas de frio históricas, com registro de 23° graus negativos na Escócia, por exemplo. E, no Brasil, outubro vem registrando temperaturas 2 graus abaixo da média histórica do mês (25,9 graus).

Essas situações animam as pessoas que questionam o fenômeno do aquecimento global. Ou intrigam as que desconhecem como ele ocorre e quais os seus efeitos. Afinal, se a temperatura média do planeta está aquecendo, como são posssíveis esses episódios de frio intenso ou, pelo menos, acima dos padrões do passado?

Para responder, primeiro é necessário entender o que é o aquecimento global e quais suas consequências. O fenômeno acontece pelo aumento da temperatura média da atmosfera e dos oceanos. Paulo Artaxo, professor da USP e integrante do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), explica que é fato o planeta estar em aquecimento acelerado: "A temperatura média já subiu 1,2 graus (no século passado), e estamos indo na trajetória de 2,7 graus (de aumento) ao longo deste século".

Isso é causado pelo aumento no volume de gases de efeito estufa na atmosfera. O calor irradiado pelo Sol atinge a superfície do nosso planeta, aquecendo a Terra. Parte da radiação é rebatida de volta ao espaço. Mas outra parte, menor, fica presa na atmosfera, porque alguns gases formam uma barreira para a saída dessa radiação. São os chamados "gases do efeito estufa". Os principais gases que provocam esse efeito são, além do vapor d'água, o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).

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Veja como é esse processo na ilustração abaixo:

Ilustração do fenômeno do efeito estufa, que mantém parte dos raios solares presos na atmosfera, aquecendo o planeta
Ilustração do fenômeno do efeito estufa, que mantém parte dos raios solares presos na atmosfera, aquecendo o planeta Ilustração do fenômeno do efeito estufa, que mantém parte dos raios solares presos na atmosfera, aquecendo o planeta

O efeito estufa, na verdade, é um fenômeno natural e é vital para nossa sobrevivência. Ele permitiu que a temperatura na Terra ficasse em níveis suportáveis para a vida. Sem o efeito estufa, a estimativa é que a temperatura média fosse até 30 graus mais baixa.

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A questão, porém, é que o aumento do volume de gases do efeito estufa na atmosfera faz com que uma quantidade maior de radiação solar fique "presa", aumentando ainda mais a temperatura no planeta. E por que o volume de gases de efeito estufa tem aumentado na atmosfera? Basicamente, pela ação humana.

Antes da Revolução Industrial, em 1820, a quantidade estimada de carbono equivalente estocada na atmosfera terrestre era de 280 ppm (partes por milhão). Em maio passado, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) registrou 419 ppm de carbono na atmosfera, medidos pelo Observatório Mauna Loa, no Havaí.

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A partir da Revolução Industrial, a humanidade passou a usar muito mais a queima de combustíveis fósseis (processo que libera dióxido de carbono), em motores de carros e no aquecimento de ambientes em países do Hemisfério Norte; a população cresceu e as construções com cimento aumentaram (outra grande fonte de CO2); a agricultura se ampliou e passou a usar mais fertilizantes (muitos à base de óxido nitroso); e aumentou o consumo de carne e leite, exigindo mais gado (que emite metano no processo digestivo).

Esse volume maior de gases emitidos fica na atmosfera por muito tempo. Cada molécula de dióxido de carbono (CO2) emitida hoje fica por pelo menos 100 anos no ar. A menos que seja absorvida pela natureza. E a principal forma de absorção de carbono é através das árvores, que consomem CO2 e liberam oxigênio (O2) no seu processo de "respiração".

Só que o crescimento da população e dos padrões de consumo também aumentaram o desmatamento. E cada vez menos carbono foi retirado da atmosfera. O resultado desse desequilíbrio, com o grande aumento de gases de efeito estufa na atmosfera, foi uma elevação na temperatura média global. 

Entre as consequências desse processo estão a intensificação de mudanças nos padrões climáticos de todo o planeta. "Grandes secas, mudanças nos ecossistemas, perda de cobertura de gelo, elevação do nível do mar e aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos", explica Paulo Artaxo. Eventos climáticos extremos são furacões, tufões, ciclones, secas e enchentes fora dos padrões históricos.

Nesses eventos climáticos, está incluído o registro de temperaturas fora do padrão histórico. Tanto muito altas como muito baixas. Marcelo Laterman, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil, explica que geadas, nevascas e temperaturas muito baixas "são sintomas da mudança da dinâmica climática que é causada pelo aumento da temperatura média do planeta". E para Marcelo, a fim de explicar essa dualidade, antes é necessário diferenciar o "clima" do "tempo".

O tempo se refere às condições atmosféricas registradas em um período de tempo curto — a onda de frio que chegou ao Brasil agora em outubro é um exemplo disso. O clima, por outro lado, "é um padrão meteorológico de longo prazo". Ele se refere às condições que prevalecem em uma região ou em toda a Terra e é nele que é possível enxergar um claro aumento das temperaturas.

Aumento esse causador de um fenômeno que ajuda a explicar o frio incomum em certas regiões. Um dia mais quente nos polos do planeta pode levar frio a regiões próximas. O continente sul-americano tem trocas frequentes de calor e frio com a Antártica ao longo do ano todo: nosso continente envia ar quente e o continente antártico devolve ar gelado (massas de ar polar).

Essas trocas ocorrem em sentido horário, mas o aumento da temperatura local no Brasil e demais países pode atrapalhar essa regularidade. Quase todos os anos anteriores apresentaram períodos extremamente quentes e esse desequilíbrio térmico provoca uma maior frequência de ondas de frio: se mais calor é enviado para a Antártica, ela devolve mais frio. 

Esses episódios de frio extremo, no entanto, devem ser encarados como um sintoma do desequilíbrio no clima. O aquecimento global não extingue o frio extremo. Mas, no longo prazo, pode tornar o seu registro cada vez menos frequente, porém mais intenso e mais imprevisível.

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