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A conversão de Cármen Lúcia

A nova discípula de Gilmar acha que vilão é um juiz que enfrentou o bando de Lula

Augusto Nunes|Do R7

Em 15 de agosto de 2017, Sérgio Moro deixava o hotel onde abrira um seminário sobre a Justiça brasileira, promovido pela Jovem Pan, quando avistou Cármen Lúcia, que chegava para a palestra de encerramento. Ao lado do juiz que simbolizava a Lava Jato, acompanhei a curta troca de frases cifradas.

— Ministra, estou preocupado com questão da segunda instância — disse Moro.

— Eu não mudei — replicou a presidente do Supremo Tribunal Federal.

— Não é a senhora que me preocupa, são os outros — sorriu o juiz.

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— Não vou pautar essa coisa — prometeu a ministra.

Naquele momento, a bancada chefiada por Gilmar Mendes intensificava a pressão para que Cármen Lúcia pusesse em votação a proposta que sepultava a possibilidade do início do cumprimento da pena logo depois da condenação em segunda instância (interpretação adotada três anos antes com o enfático apoio de Gilmar). A presidente do STF cumpriu a promessa. Mas a mudança para pior ocorreu logo depois da sua substituição por Dias Toffoli, já convertido em discípulo do impetuoso Maritaca de Diamantino.

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Aquela Cármen Lúcia não existe mais, atestou nesta terça-feira o voto que garantiu o final infeliz de outro faroeste à brasileira. Ao juntar-se a Gilmar e Ricardo Lewandowski para asssegurar a maioria na segunda turma do STF, e assim decretar que Moro agiu com parcialidade no processo sobre o triplex do Guarujá, a ministra aderiu à conspiração urdida para transformar o vilão em mocinho e o xerife em bandido. Nas últimas semanas, em conversas com amigos, Gilmar vinha se jactando de ter atraído Cármen Lúcia para o bando que comanda. Procurei acreditar que aquilo não passava de gabolice. Era tudo verdade.

Os 11 titulares do Timão da Toga sabem que as provas contra Lula e seus comparsas são robustas, contundentes e copiosas. Sabem que o ex-presidente esteve no topo do organograma em que figuraram empreiteiros bilionários, políticos do PT e outras siglas delinquentes, diretores de estatais nomeados pelo chefão e ministros de estado, fora o resto. Sabem que a Lava Jato desmontou o maior esquema corrupto de todos os tempos. Sabem que Moro e os procuradores de Curitiba não perseguiram Lula; perseguiam uma quadrilha de doleiros quando tropeçaram no mundaréu de evidências que levaram ao Petrolão. Sabem, enfim, quem defendeu a lei e quem a violou.

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A contra-ofensiva que mira a Lava Jato foi desencadeada quando a devassa do pântano se aproximou perigosamente de alguns patifes de estimação de Gilmar. Até então admirador declarado da operação, o juiz do juízes transformou-a em inimigo a abater. Faltava uma terceira toga para que Gilmar consolidasse a hegemonia na segunda turma. Ele e Ricardo Lewandowski decidiram que chegara a hora da conversão da ministra mineira.

Neste 23 de março, saiu oficialmente de cena a cativante Cármen Lúcia modelo 2017. Foi substituída pelo modelo 2021 — insosso, inseguro e nada confiável. Carmen Lúcia, quem diria, já ganhou até codinome: “Carmendes”.

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