Argentina dá guinada de 180 graus na política. Lula adotará cautela
Presidente e Itamaraty esperam para ver se retórica de Milei vai se transformar em ruptura. Gleisi fala em 'teste duro para a democracia'
Christina Lemos|Do R7
Os argentinos garantiram neste domingo (19) uma vitória mais dilatada que o esperado ao candidato de La Libertad Avanza, Javier Milei, promovendo a mais radical guinada política das últimas décadas e consagrando a derrota do ministro da Fazenda de Alberto Fernández, Sergio Massa.
Milei está consideravelmente mais à direita do que Maurício Macri — que governou o país até 2019 e apresenta o conjunto mais radical de mudanças sociais e econômicas já debatido em uma campanha na Argentina.
O presidente Lula acompanhou o desenrolar do dia de votação e foi informado pontualmente tanto por integrantes do PT quanto por membros da diplomacia. O plantão do Itamaraty seguiu de perto os acontecimentos e uma nota está sendo preparada para breve.
Lula deve adotar cautela até o quadro político se estabilizar na Argentina e observar se Milei vai sinalizar o afastamento prometido do Brasil. O presidente eleito referiu-se ao brasileiro com termos ofensivos e não foi rebatido. A expectativa no governo e na diplomacia é que o libertário abandone o tom de campanha e assuma postura institucional no trato com o Brasil.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que costuma vocalizar publicamente questões que envolvam risco estratégico para Lula, postou, antes mesmo da proclamação do resultado oficial sagrando a vitória de Milei sobre Massa, mensagem em que reconhece o resultado das urnas e admite que o ministro teve o apoio do PT.
“Confiamos que o povo argentino e suas instituições saibam atravessar este novo e duríssimo teste para a sua democracia”, publicou.
“Seguiremos solidários no desafio de construir a integração entre nossos países e o fortalecimento do Mercosul”, disse Gleisi, ante a possibilidade mencionada por Milei de ruptura com o bloco. “Esperamos que tais esforços não sejam interrompidos pelo novo governo, porque representam a possibilidade de um futuro melhor e mais justo para toda a América do Sul”, completou a presidente do PT, num tom moderado para os padrões da líder partidária.
A petista admite a derrota política, que afeta diretamente Lula, para quem Massa era uma espécie de versão cisplatina de Fernando Haddad. O presidente também assiste à derrota do amigo e parceiro de ideário político Alberto Fernández, presidente que passará a cadeira a um político de extrema direita.
A mudança no comando da Argentina exigirá ginástica política por parte do Executivo brasileiro. A depender do ímpeto de Milei no distanciamento do Brasil, negócios bilaterais podem ser afetados, com prejuízo até mesmo para a integração regional, como preliminarmente mencionou Gleisi.
O próprio Massa estimou perdas imediatas de 140 mil postos de trabalho, caso o adversário execute ao pé da letra as promessas de afastamento do Brasil. O quadro gera preocupação no setor privado brasileiro, que, no entanto, confia no cumprimento de contratos.
A depender da eventual manutenção do tom hostil de Milei contra Lula, a participação do petista na cerimônia de posse do presidente eleito fica suspensa. As solenidades ocorrem no dia 10 de dezembro. No momento, o tema não será abordado, enquanto autoridades do governo e o corpo diplomático continuam acenando com moderação e aguardando os desdobramentos do resultado eleitoral na Argentina.
Apoiadores de Javier Milei celebram vitória do ultraliberal, eleito novo presidente da Argentina
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.