Depois de um adiamento por duas semanas, acontece nesta quinta-feira (16) a primeira reunião do Conselho Monetário Nacional — o organismo que formula a política do país para a moeda e para o crédito, em meio a forte questionamento sobre a autonomia do Banco Central, as metas de inflação e a taxa de juros definida pela instituição. Na prática, será o primeiro encontro formal para estes fins entre a cúpula da área econômica do governo e o presidente do Banco Central. O CMN (“cê-mê-nê” – como é chamado, em Brasília) é integrado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
Alvejado por duras críticas do presidente Lula, Campos Neto programou para a semana da reunião do CMN inédita exposição pública, que incluiu longa sabatina por jornalistas além de palestra em evento junto ao sistema financeiro. O dirigente da autoridade monetária adota tradicionalmente postura discreta, com raras declarações públicas, para não gerar instabilidade na gestão da moeda. O blog apurou que o esforço de Campos Neto é por diminuir resistências no governo e no PT que possam afetar o desempenho de sua gestão e preparar o encontro com Haddad e Tebet, que têm funcionado como moderadores do debate público estimulado por Lula.
A pauta da reunião do CMN não inclui, até o momento, questões relacionadas à meta de inflação, normalmente definida pela instituição no mês de junho. O dirigente do Banco Central deixou clara por duas vezes nas últimas 24 horas sua posição contrária à redução do centro da meta — alvo perseguido pelos gestores da moeda. Para este ano, este índice está fixado em 3,25%. E, para os anos seguintes, o esforço pretende ser ainda maior: o centro da meta está fixado em 3% para 2024 e 2025. De acordo com o regime de bandas adotado no Brasil, a meta de inflação pode oscilar em 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Haddad e Tebet têm adotado postura moderada na discussão em torno da taxa de juros e da autonomia do Banco Central. Os dois ministros, particularmente o petista, têm tentado calibrar o discurso para evitar reações do mercado que venham a afetar a estabilidade da moeda. As pressões políticas sobre Campos Neto já extrapolam o campo do debate econômico. Estão previstas para esta terça manifestações contra a gestão do presidente do Banco Central, organizadas por pelos menos três entidades ligadas a sindicatos e movimentos sociais.
Também no Congresso há iniciativas para levar Campos Neto a prestar esclarecimentos formais. O dirigente declarou que está pronto para comparecer, caso seja chamado.
No âmbito do governo, é dada como improvável, para esta reunião do CMN, qualquer alteração, seja na meta de inflação estabelecida para este ano, seja na condução da Selic. O momento é de espera pelo efeito das declarações de Campos Neto, que visam à pacificação do ambiente político — embora setores estejam descrentes de que Lula venha a moderar o tom. O presidente chegou a declarar recentemente que a taxa de juros — de 13,75% — “é uma vergonha” e a referir-se a Campos Neto como “este cidadão”.
O presidente do Banco Central tem buscado distanciar-se da identificação com o governo Bolsonaro, e chegou a pedir um “voto de confiança” no novo governo.
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