Encontro entre Lula e Javier Milei entra no radar
Argentino completa nesta segunda seis meses no poder. Relações com petista “estão a zero”

Uma possível aproximação e até mesmo um encontro protocolar entre o presidente Lula e Javier Milei, da Argentina, acabam de entrar no radar diplomático, embora do lado brasileiro haja forte resistência. Os chefes de estado devem comparecer a dois encontros de cúpula nas próximas semanas e as equipes de negociadores de ambos os lados estão a postos para a eventual demanda – embora Milei seja ainda visto pelo entorno do presidente brasileiro como desafeto declarado.
“O contato entre os dois está no marco zero” – relata fonte da diplomacia brasileira, para quem uma possível conversa no âmbito do G7, que se inicia no final da próxima semana na Itália não foi cogitada, mas não pode ser de todo descartada. Lula e Milei estão confirmados na cúpula das sete maiores potências mundiais, que tem como anfitriã uma expoente da direita europeia, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni. O encontro acontece de 13 a 15 deste mês e também contará com presenças célebres do cenário internacional, como Volodymir Zelensky, presidente da Ucrânia. E até mesmo o Papa, que é argentino e já foi desafeto de Milei.
A segunda oportunidade de aproximação entre os vizinhos sulamericanos seria a reunião do Mercosul, em julho. O presidente argentino não está confirmado no encontro e já declarou que seu país deixaria a bloco. O discurso radical de campanha vem sendo, contudo, amenizado, principalmente em função dos interesses comerciais do país, que tornam inviável esta opção.
A pauta de pendências entre os dois países ganhou uma nova questão espinhosa: a demanda da Justiça brasileira, que busca por algumas dezenas de foragidos, implicados nos atos antidemocráticos de 8 de agosto. O grupo se refugiou na Argentina de Milei, aparentemente confiante de estar a salvo de uma possível extradição. O tema tem o potencial para se tornar mais um contencioso entre os dois chefes de estado. Ainda não houve pedido de extradição dos fugitivos da parte do governo brasileiro.
Milei, que completa nesta segunda-feira seis meses de governo, chegou a chamar Lula de “corrupto” e “comunista”, numa sequência de declarações ofensivas ao petista. Declarou ainda que não se reuniria com Lula – hostilidades que levaram o petista a não comparecer à cerimônia de posse, em Buenos Aires. O governo brasileiro foi representado pelo chanceler Mauro Vieira. Na oportunidade, Milei não hesitou em dar tratamento de destaque ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que compareceu à solenidade.
Antes de assumir na Casa Rosada, o argentino, no entanto, escreveu duas cartas a Lula, a primeira para convidá-lo à posse, a segunda para reforçar “a centralidade” das relações entre os dois países. A resposta de Lula, na ocasião, veio por meio de declaração em rede social, na qual o petista, sem mencionar o colega argentino, saudou a importância do respeito à democracia, e ressaltou que o Brasil “sempre estará pronto a trabalhar ao lado de nossos irmãos argentinos”.