Governo Lula quebra cristais com setor produtivo. Haverá conserto?
Em 11 meses de mandato, veto à desoneração da folha é a medida mais dura em nome de recompor o caixa federal
Christina Lemos|Do R7
![Ministro da Fazenda, Fernando Haddad: explicações para o remédio amargo vêm hoje](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/4SIYL7K52JNK3E7Q7QDLQHS4VI.jpg?auth=81c40aa6dbee01a12d5d9b9f8809c33407e01a06928be474ecd3fd62969877d7&width=1500&height=1000)
O veto ao alívio em impostos na folha de salários pagos por quem gera emprego na economia é a medida mais impactante e antipática aos olhos do setor produtivo tomada em 11 meses do governo Lula. O custo estimado anual da renúncia na arrecadação é de R$ 170 bilhões — dinheiro que vai integrar o esforço para recompor o caixa federal, com previsão de déficit superior ao anunciado.
Ao barrar a medida amplamente aprovada pelo Congresso, inclusive com o risco claro de derrubada do veto — isto é, de que o efeito almejado seja anulado dentro de pouco tempo —, o governo expõe a própria fragilidade fiscal. O problema das contas é maior do que se imagina e a receita é mesmo a do aumento da cunha sobre os que produzem, ainda que isso custe empregos.
O desgaste recai em grande medida sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que encerra em definitivo a lua de mel que tentou com os setores financeiro e produtivo. Diante do ímpeto de ampliação de gastos, das demandas incessantes e da pressão de alas importantes do PT, Haddad vai tomando distância da confiança que angariou no início do mandato de Lula.
O chefe da Fazenda, que logrou vitórias na direção da tentativa de melhora da arrecadação, inclusive desmontando medidas que forçavam a baixa artificial do preço dos combustíveis e até mesmo sinalizando avanço na implantação da taxação dos mais ricos e de recursos de brasileiros no exterior, agora foi buscar caixa junto aos empregadores e aos salários da base da economia.
As explicações técnicas ficaram para o dia seguinte ao veto. E serão recebidas com pessimismo e grande frustração de expectativa, além do ímpeto pela derrubada do veto, que já mobiliza grandes e pequenas corporações para pressionar o Congresso de forma fulminante. Não é um bom cenário para o final do primeiro dos almejados próximos sete anos de Lula no Planalto.
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