Meta de Lira é superar petista campeão de votos em 2003
'Rei Arthur', como já é chamado o presidente da Câmara, pode bater votação de João Paulo Cunha (434 votos), em vitória dada como certa
Christina Lemos|Do R7
Ao contrário do cenário de 2003, em que o então presidente eleito, Lula da Silva, consolidou seu projeto político hegemônico ao emplacar o primeiro petista na presidência da Câmara, 20 anos depois, é o momento de Lula ceder a vez a um adversário. O deputado Arthur Lira, do PP, pode alcançar nesta quarta-feira votação superior à que elegeu em 2003 João Paulo Cunha para o comando da Câmara: 434 votos.
O acordo entre Lira e Lula inclui a promessa de convivência civilizada e compromisso com a democracia. O deputado alagoano, um dos principais responsáveis pela estabilização do governo Bolsonaro e artífice da entrada do centrão no Executivo, foi dos primeiros a reconhecer a vitória do petista em outubro e teve papel importante ao barrar movimentos que buscavam desacreditar o sistema eletrônico de votação.
A reeleição de Lira nesta quarta, dada como certa, garante à presidência da Câmara e ao próprio processo legislativo autonomia e desatrelamento inéditos nas últimas duas décadas. O deputado será o gestor de interesses antagônicos entre as duas maiores correntes políticas instaladas na Câmara: o PL, de Bolsonaro, com seus 99 deputados, e o bloco formado por PT, PV e PCdoB, com 81 deputados. As duas vertentes medirão forças em torno das pautas econômicas de costume.
Em 2003, João Paulo Cunha coordenou os trabalhos da Câmara com facilidade, ao controlar a agenda de votações num ambiente de ampla maioria governista. Terminou alvejado pelo escândalo do mensalão e condenado pelo Supremo Tribunal Federal, cumpriu pena de seis anos e quatro meses em regime fechado no presídio da Papuda, em Brasília.
Empatado com o petista na quase unanimidade obtida entre seus pares na Câmara, em 1991, o então deputado Ibsen Pinheiro, do PMDB do Rio Grande do Sul, também obteve os mesmos 434 votos e se elegeu com vitória arrasadora para presidir a casa. A votação expressiva é característica de candidaturas “únicas”, como o caso de Arthur Lira, que conta com um adversário simbólico: Chico Alencar, do PSOL.
Também Ibsen Pinheiro, falecido em 2020, enfrentou a reversão de expectativas, ao ter o mandato cassado após a CPI que investigou irregularidades na destinação de verbas públicas, no chamado Escândalo dos Anões do Orçamento. O emedebista ainda voltou ao Legislativo como deputado federal, mas jamais recuperou o desempenho que o levou a uma quase unanimidade na Câmara.
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