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Blog do Heródoto

Parece, mas não é: embate entre republicanos e democratas descamba para o campo das ameaças

Avizinha-se a guerra civil. Resta saber quem dará o primeiro tiro em uma sociedade que tem garantia constitucional de todo cidadão possuir uma arma de fogo

Heródoto Barbeiro|Heródoto Barbeiro


O embate entre republicanos e democratas descamba para o campo das ameaças e a mídia tem participação nisso Reprodução/ Record News/14.07

O candidato democrata não se saiu bem no primeiro de uma série de debates com o seu opositor republicano. Já era de se esperar. O republicano é mais jovem, tem treino político e sustentação econômica forte. Não se faz campanha nos Estados Unidos sem um caixa eleitoral bem guarnecido, e o republicano conta com polpudas doações provenientes da burguesia industrial americana. Sobretudo do nordeste do país.

Ela, por sua vez, tem forte lobby no Congresso e quer uma economia aberta, livre-cambista, liberal, sem intervenções do Estado que possam atrapalhar os negócios ou querer aumentar a carga tributária das camadas mais ricas da população.

O candidato democrata pensa diferente. É um homem politicamente experiente. Sempre viveu de política e sabe como manobrar o Congresso. Tem a maioria dos seus eleitores no sul do país, o que lhe garante uma vitória folgada, tanto para uma cadeira no Senado, como na presidência dos Estados Unidos. O risco que corre é que sua base de apoio possa se dividir e ele perder a eleição.

Questões cruciais estão em jogo nos Estados Unidos. Outras nações acompanham com interesse a disputa política americana, uma seleção de ex-colônias europeias.


O poder federal está sediado em Washington, mas os estados americanos são ciosos em lembrar que a nação nasceu sob a égide do federalismo, isto é, cada estado tem sua própria Constituição, Senado legislativo e leis locais. O que implica que uma lei de um estado nem sempre vale para o estado vizinho. Há divergências marcantes como, por exemplo, a forma como o trabalho é organizado.

O embate entre republicanos e democratas descamba para o campo das ameaças e a mídia tem participação nisso. A divulgação dos debates entre os candidatos faz do republicano conhecido em todo o país, já o democrata tem popularidade garantida por sua longa carreira política no Congresso. O sistema eleitoral apoia-se nos votos dos representantes estaduais e estes procuram representar os interesses locais. O voto popular não é decisivo.


O candidato republicano avalia que a eleição para senador é de suma importância para quem almeja chegar à presidência dos Estados Unidos. A barreira para esse objetivo é o candidato democrata. Este tem muito mais votos no sul do país, onde tem o apoio do agronegócio exportador.

Ele está voltado para a exportação das commodities e, para isso, precisa de tarifas alfandegárias mais baixas, haja vista que as exportações para o exterior são pagas com produtos manufaturados. O republicano defende tarifas protecionistas para favorecer os industriais do nordeste dos Estados Unidos, concorrente dos países industrializados europeus.


Os jornais publicam uma série de debates entre o ex-deputado federal Abraham Lincoln e o senador democrata Stephen Douglas. O debate mostra que o país está perigosamente rachado. Não pode ter, simultaneamente, duas políticas aduaneiras.

Está claro o confronto entre os proprietários de terras do sul e os nascentes industriais do nordeste. O sul precisa manter a mão de obra escravizada nas fazendas. O capitalismo liberal do nordeste quer o trabalho assalariado.

Em 1858, o Congresso abre as porteiras para o trabalho escravo poder ser utilizado em novas fronteiras agrícolas em estados do centro-oeste. Lincoln é contra. Quer o fim da escravidão e argumenta que o que está escrito na Constituição vale também para os negros.

Douglas vence a eleição para o Senado. O país avança para a eleição presidencial e, na campanha, Lincoln não defende o fim do trabalho escravo. Teme uma divisão, uma recessão entre os estados amarrados pelo federalismo que turbina a autonomia estadual. Preocupa-se com a dissolução nacional, haja vista que o país são Estados Unidos e não unitário, como o Império brasileiro na mesma época.

Avizinha-se a guerra civil. Resta saber quem dará o primeiro tiro em uma sociedade que tem garantia constitucional de todo cidadão possuir uma arma de fogo. Que pode ser usada no Teatro Ford, em Washington.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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