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Disputa em São Paulo: O jogo está aberto — façam suas apostas

Três Poderes|Rodrigo Mendes*


Nunes, Boulos e Tábata são os principais candidatos
Nunes, Boulos e Tábata são os principais candidatos Edson Lopes Junior/São Paulo — 21.2.2024; Myke Sena/Câmara dos Deputados — 20.6.2023; e Câmara dos Deputados — Arquivo

A pesquisa Real Time Big Data divulgada pelo Blog Três Poderes/R7/RECORD sobre a corrida eleitoral para São Paulo confirma que a eleição será muito disputada. 

Uma pesquisa feita a aproximadamente sete meses da eleição tende a confirmar muito mais o nível de conhecimento dos candidatos, o chamado recall, do que a real intenção de voto dos cidadãos. Quanto mais a pesquisa se aproxima da data da votação, mais mede intenção de voto de verdade.

Sendo assim, a pesquisa divulgada mostra que Guilherme Boulos (PSOL) é, também, o mais conhecido dentre os candidatos. O segundo mais votado é também o segundo mais conhecido, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). A única exceção a esta regra é Padre Kelmon (PRD), que foi candidato a presidente da República no último pleito, sendo muito conhecido e pouco votado.

Contudo, ao se avaliar o conhecimento associado ao potencial eleitoral e à rejeição, o quadro que se apresenta é desfavorável a Boulos e interessante para Ricardo Nunes e, especialmente, para Tábata Amaral (PSB). Boulos tem 89% de conhecimento, rejeição de 46% e um potencial eleitoral de 17%. Ou seja, 51,7% das pessoas que conhecem Boulos, o rejeitam. Já Ricardo Nunes é conhecido por 80% dos eleitores, tem uma rejeição de 38% e um potencial de 29%. Dos que conhecem Nunes, 47,5% não votariam nele, número que também é bem alto. E, por fim, dentre os três candidatos que mais pontuaram na pesquisa, Tábata aparece com 70% de conhecimento, 22% de rejeição e 41% de potencial. Ou seja, dentre as pessoas que conhecem a candidata, 31,4% não votariam nela.

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Considerando apenas essas três variáveis, Tábata seria a candidata com maior potencial de crescimento, seguida por Nunes. Por esses critérios, a pior situação seria de Boulos, o mais conhecido, com maior rejeição e menor espaço para crescimento. Um número que confirma essa análise é a correlação entre o potencial eleitoral e a rejeição: Boulos teria menos 3 (resultado de “votaria com certeza” somado com “poderia votar” subtraído de “não votaria de jeito nenhum”). Na mesma conta, Ricardo Nunes obteve mais 4 e Tábata Amaral mais 26, confirmando numericamente seu grande potencial.

Outro número que confirma que Boulos tende a encontrar dificuldades pela frente é a diferença de votação do primeiro para o segundo turno. Na intenção de voto estimulada no primeiro turno, Boulos tem 34% e, Ricardo Nunes, 29%. Na projeção de segundo turno, Boulos cresce apenas 4 pontos percentuais e chega a 38%, enquanto Ricardo Nunes vai a 40%, crescendo 11%. Assim, mesmo que a projeção de segundo turno revele um empate técnico na margem de erro da pesquisa, a assimetria de crescimento entre os candidatos é extremamente preocupante para Boulos. Ela confirma o que foi dito acima — um limite estreito de crescimento imposto pela alta taxa de rejeição ao candidato do PSOL.

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Esse é o quadro mais geral da capital paulista. Ao se analisar os números mais detalhadamente, por meio dos cruzamentos de variáveis, é possível ver que Ricardo Nunes tem seu melhor desempenho nas classes sociais A e B e nas regiões Centro-Sul e Oeste. O que explica a liderança de Boulos é a sua grande penetração nos seguimentos sociais de mais baixa renda — classes C e D e nas regiões mais densamente populosas da cidade, Sul e Leste II (que representam somadas 52% do eleitorado). Ricardo Nunes vem conseguindo chegar ao eleitor mais pobre, mas a diferença para Boulos nestes estratos, como já foi dito, explica a liderança do candidato do PSOL. Nunes tem bom desempenho entre os mais velhos e Boulos e Tábata disputam o voto mais jovem.

Essa análise de desempenho dos candidatos entre as classes sociais é muito importante para explicar o atual cenário eleitoral. O voto em Tábata está diretamente proporcional à renda do eleitor, ou seja, quanto maior a renda, maior a intenção de voto na candidata. A dificuldade de Tábata é exatamente conseguir chegar neste eleitor das classes C2/D, especialmente nas zonas Sul e Leste II.

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Boulos tem 20% de intenção de votos nas classes A e B1, empata com Tábata com 19%, e perde para Nunes neste eleitorado (que tende a ser preditor de tendências), com 33%. Quando se chega nas classes C2/D, Boulos lidera com 39%, Nunes tem 26% e, Tábata, apenas 4%.

Nas classes C2/D, se encontra o maior percentual de indecisos, 14%. E para piorar a situação do líder Boulos, a história e a sociologia eleitoral revelam que é neste estrato do eleitorado onde há maior tendência de volatilidade no voto. Para crescer e ter chances de romper com a polarização eleitoral, Tábata precisa necessariamente chegar neste eleitor das classes mais baixas. Da mesma forma, para superar o líder, Nunes precisará convencer os eleitores das classes C e D que é melhor votar na continuidade da sua gestão do que apostar em uma mudança.

Independentemente dos grandes apoiadores na esfera federal — Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que tendem a se autoanular em função de suas rejeições — ou do apoio do bem avaliado governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), há uma variável-chave na disputa: a avaliação da gestão de Nunes a frente da Prefeitura de São Paulo. 43% dos paulistanos aprovam a sua administração, 45% desaprovam e 12% não sabem avaliar. Ou seja, o prefeito precisa melhorar seu desempenho.

Uma eventual mudança na percepção (para melhor ou pior) será determinante para o sucesso eleitoral de Nunes. Não resta dúvida de que se ele melhorar a percepção do cidadão em relação ao seu governo, consequentemente, tende a aumentar o grau de conversão de boa avaliação em votos. Esta é a variável crítica desta disputa.

A pesquisa mostra que o quadro da capital paulista está aberto, com um desfecho muito provável no segundo turno, em função da presença de pelo menos três candidatos eleitoralmente viáveis. Revela que Boulos, o líder da sondagem, terá muita dificuldade na disputa, que o atual prefeito precisa melhorar a percepção em relação a sua gestão e chegar no eleitorado mais pobre e que Tábata, a pré-candidata com o maior potencial eleitoral, precisará se tornar mais conhecida nas periferias e bairros mais distantes — o que, em definitivo, não é tarefa fácil. Agora é aguardar os próximos lances do jogo.

*Rodrigo Mendes é sociólogo, especialista em marketing, mestre em ciência política e autor do livro Marketing Político — o poder da estratégia nas campanhas eleitorais (Ed. C/Arte).

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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