Comprar menos e trocar marca ajuda a frear inflação. Entenda
Para o economista André Braz, há opções de produtos mais em conta e com a mesma qualidade. É só pesquisar e substituir
Renda Extra|Márcia Rodrigues
Ir ao supermercado está ficando cada vez mais caro e trabalhoso para quem precisa adaptar a lista de compras aos rendimentos mensais.
A prévia da inflação de preços no Brasil mostrou que os alimentos e bebidas saltaram 1,38%, alta influenciada principalmente pela alimentação em domicílio, cuja taxa passou de 1,51%, em setembro, para 1,54%, em outubro.
Destaque para:
• Frutas (6,4%);
• Tomate (23,15%);
• Batata-inglesa (8,57%);
• Frango em pedaços (5,11%);
• Café moído (4,34%);
• Frango inteiro (4,20%); e
• Queijo (3,94%).
Os preços, que já pareciam fora de controle, devem sofrer mais pressão nos próximos dias com o último aumento de 1,5 ponto percentual na Selic, taxa básica de juros no país, anunciado na última quarta-feira (27).
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Quem precisa reduzir os gastos e não quer afetar a qualidade da alimentação nem abrir mão do que gosta – provavelmente por causa do preço – tem de buscar artifícios para driblar a inflação e manter a mesma margem de gastos no supermercado.
Não há mágica para isso. É preciso pesquisar preços, buscar marcas alternativas e reduzir o consumo de produtos que estão com o preço nas alturas, segundo o economista André Braz, coordenador do IPC do FGV Ibre.
Se você gosta de comer carne%2C compre em menor quantidade. Se não consegue ficar sem consumir algum outro alimento%2C troque a marca. Há opções com a mesma qualidade%2C porém de empresas menos famosas%2C que são mais baratas e podem ajudar a reduzir os custos.
O economista frisa que, ao aderir a um controle melhor dos gastos, pesquisando, substituindo e comprando menos o que está mais caro, o consumidor ajuda a conter o avanço de preços.
“São comportamentos mais gerais, porém sem veto, que influenciam bastante os preços. Há muita marca boa e que oferece o mesmo produto, e com a mesma qualidade, por um preço bem menor. O que percebemos é que há resistência do brasileiro em fazer a substituição”, conta Braz.
A professora de economia do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) Juliana Inhasz acredita que a melhor alternativa para driblar a alta dos preços é a substituição.
O problema da carne é que as alternativas%2C que seriam o ovo e o frango%2C também estão caras. Então a melhor opção é reduzir o consumo.
Uma dica de Braz é ir ao supermercado após o dia 10. “A maioria da população faz suas compras no início do mês. Com isso, os supermercados precisam realizar promoções para manter o fluxo de clientes o ano todo.”
Braz e Juliana também sugerem ao consumidor nunca sair de casa sem uma lista de compras e tentar ser o mais fiel possível a ela, evitando circular por corredores onde não haja os produtos procurados.
A troca de marca pode cortar pela metade o gasto com o supermercado, segundo um levantamento feito pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
De acordo com a instituição, até pouco tempo atrás, algumas redes trabalhavam com apenas três marcas, no máximo. Agora é possível encontrar de seis a sete marcas do mesmo produto.
Alguns exemplos:
• O pacote de 5 quilos do arroz tipo 1 pode ser encontrado com preços que variam de R$ 16 a R$ 30, dependendo da marca;
• O pacote de 1 quilo de feijão (da mesma qualidade) custa entre R$ 5,99 e R$ 8,99, dependendo da marca;
• O preço da dúzia de ovos vai de R$ 7,99 a R$ 12, dependendo da granja;
• O quilo da bisteca suína custa entre R$ 15,90 e R$ 19,99, dependendo do frigorífico; e
• O preço do frango congelado fica entre R$ 14,99 e R$ 16,99 o quilo, dependendo da granja.
"Difícil ver povo de grande produtor de gado não comer carne"
Patrícia Costa, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), diz que “é inadmissível ver a população deixando de comer carne e produtos essenciais quando consideramos que o Brasil é um grande produtor agropecuário e agricultor".
“O quilo da carne passou de R$ 25, em 2019, para R$ 44, em 2021. É muito difícil saber em quais condições muitas pessoas estão vivendo. Ver pessoas disputando carcaças de animal na rua, morando num dos maiores produtores de gado do mundo.”
A economista também frisa que falta ao país uma política mais protecionista, para priorizar o consumo interno de tudo o que é produzido no país.
É o mote do capitalismo. Enquanto o câmbio estiver favorável%2C se a China quiser comprar%2C o produtor vai vender. Estamos enviando nosso melhor alimento para fora e deixando nossa população comer carcaça.
Patrícia afirma também que, com a crise, grande parte da população está morando nas ruas e não tem condições nem mesmo de fazer substituições.
"São famílias que realmente não têm dinheiro para nada. Quem hoje ganha um salário mínimo [R$ 1.100] está comemorando, porque há famílias vivendo abaixo da linha da miséria."
Carne será um item cada vez mais raro na mesa do pobre
Para o sociólogo Fabio Mariano, se não tivermos uma intervenção no cenário econômico do país, a carne será cada vez mais rara na mesa de boa parte da população.
“E vou dizer mais: não será só a carne que faltará na casa da população de baixa renda. Não haverá energia elétrica nem gás. São três itens que sofreram aumento substancial e que causaram grande impacto no orçamento das famílias.”
Mariano ainda diz que itens importantes da cesta de consumo da população de baixa renda tiveram o preço elevado, mas que o rendimento continua o mesmo ou foi perdido durante a crise gerada pela pandemia.
“Se a renda não acompanhar os custos da cesta de consumo, essas famílias vão precisar cortar gastos. Por mais que elas tentem aumentar o rendimento, buscando alternativas para ter uma renda extra, não podemos esquecer que o desemprego ainda é grande.”
Veja dicas para economizar no supermercado durante a pandemia