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Empreendedor se reinventa para superar crise e cria algodão-doce gourmet no copo

Ex-frentista e ex-padeiro viu no negócio próprio um meio de faturar mais, com criatividade e independência; pandemia atrapalhou

Minha historia|Mariana Botta, do R7

Algodão-doce gourmet, da marca TatSam, vendido em várias regiões de SP
Algodão-doce gourmet, da marca TatSam, vendido em várias regiões de SP Algodão-doce gourmet, da marca TatSam, vendido em várias regiões de SP

Algodão-doce colorido, vendido em copos transparentes, com receita e modo de preparo caseiros, sem adição de conservantes, é a nova aposta de Samuel Baleeiro Lima, 46 anos, um empreendedor que não tem medo de arriscar na vida profissional. Há 12 anos, ele trocou a segurança da carteira assinada pelo trabalho como empresário do ramo de recreação infantil e eventos. 

Naquela época, ele comprou equipamentos como piscina de bolinhas, cama elástica, balão pula-pula e máquina de algodão-doce e os alugava para festas de aniversário, inauguração de lojas e qualquer outro tipo de evento com a presença de crianças.

"A gente trabalhou bem até a pandemia. Fazíamos diferentes formas de aluguel: só os brinquedos, só o algodão-doce, com um palhaço que operava a máquina, todos os equipamentos, só um brinquedo e o algodão-doce", conta.

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"Foi muito legal, tivemos uma ascensão boa e, financeiramente, evoluí muito melhor do que se estivesse trabalhando para outras pessoas", diz Lima, que já tinha sido frentista em posto de combustíveis e padeiro. Como empresário, ele conta que os ganhos variavam de R$ 10 mil a R$ 15 mil. 

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Com a chegada da Covid-19, que impôs medidas de restrição e isolamento social, as festas e comemorações foram suspensas. Os equipamentos ficaram parados, e ele e a esposa, Tatiana Mori, 42, que trabalham juntos, deixaram de ter uma renda mensal.

Samuel Baleeiro Lima e Tatiana Mori, donos da TatSam, fábrica de algodão-doce
Samuel Baleeiro Lima e Tatiana Mori, donos da TatSam, fábrica de algodão-doce Samuel Baleeiro Lima e Tatiana Mori, donos da TatSam, fábrica de algodão-doce

Para tentar contornar a situação, o casal vendeu tudo e foi para Caculé, na Bahia, cidade natal do empreendedor. Lá, ele tinha um terreno onde estava construindo uma arena de esportes para locação. Decidiram acelerar a obra para inaugurar o espaço mais cedo.

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"O empreendimento ficava num lugarzinho bacana, tinha arena de futevôlei, espaço para jogar peteca e vôlei. A gente tinha dinheiro no bolso e terminou a construção rapidamente", conta Lima.

Mas as coisas não aconteceram como ele esperava: "O fluxo não foi muito grande, os caras jogavam em outra quadra, de graça, ou na beira do rio. Além disso, conheci o Mauro, dono de um supermercado que ficava na frente da arena, e ele estava com sérios problemas financeiros, precisando de ajuda, e eu acabei emprestando a ele o dinheiro que eu ainda tinha".

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Nova aposta

Com o negócio indo mal e sem receberem de volta o dinheiro emprestado, Samuel e Tatiana ficaram no vermelho. Até que ele se lembrou de um produto que tinha chamado sua atenção algum tempo atrás, da marca Fini, conhecida por vender balas gelatinosas: um algodão-doce com diversos sabores que vinha dentro de um pote.

Como a máquina de algodão-doce sempre foi a principal atração das festas que costumava fazer, ele viu nisso uma nova oportunidade de negócio e começou a pesquisar sobre como poderia criar o próprio doce no pote. 

Depois de algumas experiências, o casal chegou a uma receita de algodão-doce que virava chiclete e se mantinha intacto no pote. "Nossa ideia era que ele fosse uma cartada para a gente melhorar nossa situação lá na Bahia mesmo. Queríamos distribuir o produto nas cidades daquela região e dar a volta por cima. Lançamos o algodão-doce gourmet que vira chiclete no meio da pandemia", lembra Lima.

Recomeço em São Paulo

Tatiana conta que o produto teve boa aceitação. "Conseguimos distribuí-lo em alguns lugares, mas toda a matéria-prima vinha de São Paulo, além dos copos e dos selos de alumínio, o que acabou tornando a continuidade inviável", diz.

"Tudo o que a gente tentou lá na Bahia não conseguiu levar adiante. Eu sentia que a gente ia ficar nadando, nadando e acabaria morrendo na praia, que não teria um futuro promissor. Era para voltarmos para São Paulo mesmo", completa o empreendedor, que há um ano e meio trouxe sua ideia para a Vila Industrial, na zona leste da capital paulista.

Eles já tinham a seladora para fechar a embalagem do algodão-doce gourmet, o CNPJ da empresa, o modelo de rótulo com código de barras e data de validade. Um dos maiores desafios foi encontrar a embalagem certa. "Fiz muita pesquisa em fábricas de embalagens até encontrar a que melhor se adequava ao produto, sem deixar que ele perdesse suas características e sem a necessidade de usar conservantes. Minha vontade era fazer copos de diversos formatos, colecionáveis, mas para criar um modelo de embalagem próprio tive um gasto em torno de R$ 300 mil só para a primeira leva", diz Lima.

Ele explica que essa etapa é cara porque é preciso fazer o molde para a máquina de copos. "Eu tive sorte porque consegui adaptar o molde de um modelo que já existia. É caro no início, mas depois fica com o preço normal, igual ao de qualquer copo plástico."

Mas não é só a embalagem que garante o sucesso do produto. "O algodão-doce tradicional, feito para ser consumido na hora, é preparado com o açúcar derramado diretamente na máquina, para derreter com mais facilidade. Para o doce gourmet, usamos o mesmo equipamento, mas o processo de fabricação é diferenciado", explica Tatiana. Ela garante que, além de açúcar e corante alimentar, nenhum outro ingrediente é acrescentado.

"É só o modo de preparo do açúcar que muda, o tratamento é diferente, e esse é o segredo do nosso negócio", completa Lima. Fechado na embalagem, o algodão-doce gourmet tem validade de seis meses.

"Como a embalagem não é feita com um plástico muito rígido, ela está sujeita a variações de acordo com a pressão atmosférica. Por exemplo, quando viajamos para o litoral ou para uma região de montanha, ela pode ficar um pouco murcha ou inflada, mas o produto mantém a validade", explica o empresário.

Ele diz ter o projeto de investir em uma embalagem mais durinha e, consequentemente, mais cara, mas pensa que ainda não é o momento, pois é preciso aumentar a distribuição. As vendas começaram há poucos meses e são feitas no boca a boca. 

Planejamento

Além de batalhar por clientes de pequeno e médio porte, Lima faz venda direta em diversos pontos da Grande São Paulo, o que garante a renda da família e possibilita o pagamento das dívidas que deixou na Bahia.

"Estamos recomeçando, ainda não faturamos muito. Muitos clientes do tempo das festas nos procuram, então fazemos entregas para aniversários. Eu aceito encomendas, vendo em alguns comércios, como bonbonnières, e também trabalho na rua em pontos de grande movimentação, cada dia em um bairro. Uma hora estou no Capão Redondo, outra em Guarulhos, depois em Poá, São Bernardo do Campo ou Diadema. Não tem lugar certo", conta.

Ele explica que o foco, agora, é a venda rápida e diária, para "sair do sufoco" e "fazer um caixa". Por isso ainda não vale a pena investir em uma embalagem mais sofisticada. "Para eu conseguir ter algum lucro, preciso continuar com esse copo, que cumpre bem seu papel, tem uma validade boa e é seguro", afirma. 

O empreendedor também diz que ainda não tem capital para produzir o algodão-doce para grande distribuição. "Por exemplo, se eu tivesse R$ 50 mil, não precisaria estar todos os dias na rua, faria algodão-doce para distribuir e me dedicaria apenas à divulgação, visitaria os clientes. Daria para fazer uns 30 mil doces para distribuir. Seria só entregar, passar para receber o dinheiro e fazer mais clientes", argumenta.

E completa: "Temos ótimas ideias de lugares onde poderíamos colocar os copos com algodão-doce para vender. Só daria para acelerar as coisas se a gente conseguisse um parceiro, um investidor, que é o que a gente busca quando apresenta nosso negócio em eventos como a Expo Favela [feira de negócios realizada em São Paulo nos dias 15, 16 e 17 de abril de 2022, com o objetivo de unir empreendedores das favelas e investidores do asfalto]. Ajudaria a crescer mais rapidamente". 

"De todo modo, a gente não vai esperar muito tempo porque, mesmo sem o investidor, eu vou conseguir fazer isso, só vai demorar um pouquinho", finaliza o criador da empresa TatSam, nome criado com as sílabas iniciais de Tatiana e Samuel, os proprietários.

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