"Isso é um absurdo, estamos numa escola", diz a professora ao gravar, com seu celular, alunos sentados no corredor entre as salas, para se protegerem dos disparos em um colégio na Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro. A gravação, feita na manhã desta segunda-feira (26) repercutiu na internet.
O tiroteio ocorreu durante uma operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais), que deixou uma pessoa morta na comunidade. A vítima, segundo a Polícia Militar, morreu em confronto com os agentes. Na ação, um fuzil foi apreendido.
A escola foi uma das poucas que abriram na comunidade. Nas imagens, a professora está agachada com crianças. Ao fundo, é possível ouvir o barulho de explosões. "Mais uma vez a gente está aqui com as crianças no corredor, sem aula, tentando sobreviver a essa guerra, refletindo sobre a eficácia disso, sobre os discursos da intervenção federal."
Mais tarde, à reportagem, ela pediu que sua identidade não fosse revelada, por segurança. "Desde o ano passado, quando teve a invasão, a guerra entre as facções, não temos paz, nenhum morador, nenhum servidor, professor, profissional de saúde. Antes, era uma paz relativa."
Guerra do tráfico
A guerra à qual a professora se refere foi o racha, em setembro, na quadrilha que dominava a favela - os bandos rivais têm como chefes Antonio Bonfim Lopes, o Nem, e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157. As Forças Armadas e a polícia intervieram, e o embate arrefeceu, mas os moradores ainda se queixam de insegurança.
Segundo o Disque Denúncia, atualmente um dos lideres da Rocinha é o traficante Leandro Pereira da Rocha, conhecido como "Bambú", de 28 anos.
Ele responde por diversos crimes como, tráfico de drogas, associação para a produção e tráfico, dano qualificado, resistência, homicídio qualificado, roubo majorado e crimes do sistema nacional de armas. Além disso, constam três mandados de prisão contra Leandro.
Mortes na Rocinha
Na manhã do último sábado (24), oito pessoas foram mortas na Rocinha. A Polícia Militar informou que as vítimas eram suspeitas e foram alvejadas durante confronto com o Batalhão de Choque, porém as circunstancias das mortes ainda são investigadas pela DH (Divisão de Homicídios).
Também no sábado, os moradores da Rocinha se despediram de Antonio Ferreira da Silva, de 70 anos, conhecido na comunidade como Marechal. O idoso foi morto na última quarta-feira (21), junto com o policial militar Felipe Santos de Mesquita, de 28 anos. Na ocasião, criminosos atacaram a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), de acordo com informações da PM.
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