Rio de Janeiro teve ao menos 200 mulheres vítimas de feminicídio de 2020 até janeiro deste ano
Além da violência física, mulheres passam por danos emocionais, sexuais e trabalhistas. Elas foram mais afetadas pelo desemprego
Rio de Janeiro|Rafaela Oliveira, do R7*

De 2020 pra cá, 200 mulheres morrreram vítimas de feminicídio no Rio de Janeiro. É o que aponta o relatório elaborado pelo Tribunal de Justiça do estado.
Foram 95 mortas em 2020 e 94 em 2021. Somente em janeiro de 2022, mais 11 mulheres perderam a vida. No mesmo período, foram 95 tentativas de feminicídio (51 em 2020, 35 em 2021 e 9 em janeiro deste ano).
Além desses crimes, a revista The Lancet apontou que as mulheres foram mais afetadas do que os homens em, pelo menos, quatro aspectos durante a pandemia da Covid-19: desemprego, trabalho não remunerado, educação e violência de gênero. O dado foi revelado por um estudo publicado no dia 2 de março.
Neste último caso, quanto à violência de gênero, esse tipo de agressão engloba também as violências psicológica, sexual, simbólica ou estrutural.
Mulheres negras são as mais afetadas pelo desemprego
Em relação ao mundo do trabalho, a situação do desemprego e subemprego na pandemia é ainda mais grave para as mulheres negras. Como aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, as mulheres negras alcançaram uma taxa de subutilização da força de trabalho nunca antes vista. O índice chegou a 51,59% no primeiro trimestre de 2021.
Antes do período pandêmico, homens em geral possuíam ocupação 19,4% maior que as mulheres. Com a crise, essa diferença subiu para 23,9%. Quando comparada às mulheres negras, a situação fica ainda mais preocupante: enquanto homens brancos mantiveram a taxa de desemprego praticamente estável, mulheres negras sofreram um processo de demissão em massa, que atingiu 78,1%.
Homem mata mãe esfaqueada na zona oeste do Rio
Para a deputada estadual Mônica Francisco (Psol), presidente da Comissão de Trabalho, Legislação Social e Seguridade Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, isto se deve ao racismo estrutural sobre o mercado de trabalho.
“As mulheres negras são as maiores vítimas das consequências do racismo estrutural sobre o mercado de trabalho. Com a pandemia, a situação só se agravou e, infelizmente, até o momento não há uma política pública de geração de emprego e renda voltada para esse segmento da população", afirma Mônica Francisco,
Nesse sentido, a desigualdade social afeta as mulheres no cotidiano e não à toa, o lema do ato que acontecerá neste 8 de março, no centro do Rio, é: “contra a pobreza, a fome e o desemprego”.
Violência psicológica
Dentro de casa, há muitas mulheres que sofrem agressões físicas diariamente. Mas, além do desemprego, outro tipo sutil de controle sobre a mulher é a violência emocional.

A carioca Alessandra De Blasi traz anos de agressão psicológica no primeiro livro da carreira. Em "Antologia da desilusão", a escritora relata diversas situações vivenciadas por ela durante um casamento de três anos.
Após pequenas brigas com o parceiro, Blasi explica que a decisão de ir embora veio com a perda da vontade de viver, trazida pela sequência de abusos que sofria.
"Eu comecei a desejar morrer, de verdade. Eu não tinha a "coragem" de me matar, mas desejava com todas as forças ser atropelada, tomar um tiro ou qualquer coisa que terminasse aquela vida. Depois de um tempo assim, comecei a me questionar o que eu poderia mudar para ser feliz. E de todos os ângulos ficou claro que era a relação que estava me fazendo desejar morrer. A partir daí fui construindo essa força para sair. Até que um dia, chegando sozinha do cinema, ele começou a gritar porque eu não tinha comprado o pão que ele gostava. Aí eu resolvi ir embora".
Após passar pela violência psicológica, Alessandra De Blasi ela comenta como relações abusivas no romance e interpassam os limites culturais. A escritora faz o alerta para todas aquelas que sofrerem violência dentro de um relacionamento:
"Se você tenta conversar com o parceiro e ele se recusa a ouvir, provavelmente ele não tem intenção de mudar. E então a única saída para isso é pela porta", conclui.
Denuncie
O Disque 100 e o Ligue 180 são serviços gratuitos para denúncias de violações de direitos humanos e de violência contra a mulher, respectivamente. Qualquer pessoa pode fazer uma denúncia pelos canais, que funcionam 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados.
No Telegram, basta apenas digitar “Direitoshumanosbrasilbot” na busca do aplicativo. O Disque 100 também está disponível no WhatsApp e por aplicativo.
Nesta terça-feira (8), a concentração do ato das mulheres será às 16h, na Candelária, e a passeata até a Cinelândia começa às 18h.
*Estagiária do R7, sob supervisão de PH Rosa