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Mães brasileiras ajudam a inspirar movimento antirracista nos EUA

Grupo de mães de vítimas dos ataques em 2006 que ficaram conhecidos como "crimes de maio", em SP, já dividiram histórias com Black Lives Matter

São Paulo|Kaique Dalapola, do R7

Débora Maria perdeu filho pra PM e lidera movimento de mães
Débora Maria perdeu filho pra PM e lidera movimento de mães Débora Maria perdeu filho pra PM e lidera movimento de mães

Há vinte dias os Estados Unidos encabeçavam um movimento de protestos antirracistas e contra a violência policial. Desde que o ex-segurança George Floyd foi morto por um policial branco em Mineápolis, o mundo vive diversas manifestações de anônimos a famosos. Essas manifestações também representam a violência que acontece no Brasil.

Na última quarta-feira (10), o ator norte-americano Terry Crews, que atuou em sucessos como “As Branquelas”, “Todo Mundo Odeia o Chris” e “Brooklyn Nine-Nine”, usou uma rede social para manifestar apoio aos movimentos e lembrou do menino João Pedro, morto com tiros de fuzil em ação policial no Rio de Janeiro.

O ator disse que apoia os moradores de favelas, a população negra e as mães das vítimas da letalidade policial no Brasil. E esta não é a primeira vez que mães brasileiras recebem apoio e até assumem o papel de inspirar o movimento norte-americano.

O movimento independente Mães de Maio, composto por mulheres que perderam os filhos no sangrento mês de maio de 2006, quando centenas de pessoas perderam a vida em meio a ofensiva policial como resposta a ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em todo Estado de São Paulo, sobretudo capital e Baixada Santista, também é usado de exemplo nas reivindicações que hoje tomam as ruas dos Estados Unidos.

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Quatro anos atrás, quando estava marcando uma década dos crimes de maio e da luta por justiça e pela verdade sobre os acontecimentos, o movimento de mães foi convidado para compartilhar com movimentos e organizações dos Estados Unidos, incluindo o Black Lives Matter, as experiências vividas no Brasil com a polícia.

Nos Estados Unidos, a fundadora e líder das Mães de Maio, Débora Maria da Silva, se encontrou com representantes do movimento Black Lives Matter, que hoje tomam as ruas do país norte-americano.

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“Foi uma experiência muito grande e emocionante. Quando estivemos com uma comissão do Senado Nacional dos Estados Unidos, vimos que tem uma luta semelhante com a brasileira. Depois, participei de um encontro em uma faculdade, com pessoas de outros países da América Latina, e percebemos as semelhanças na violência policial”, disse Débora.

De acordo com a fundadora das Mães de Maio, a questão da violência policial, sobretudo com os negros e a população mais pobre dos países, é parecida e, por isso, existe uma necessidade de “unificar e internacionalizar” as lutas. “É um sistema que vê o negro como inimigo. Essa internacionalização de toda violência, principalmente a violência policial, é preciso para combater esse genocídio”, afirma a ativista.

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Para ela, o momento é importante para jogar luz à bandeira de combate ao racismo e letalidade policial, no entanto, acredita que muitas pessoas estão aderindo ao movimento agora por causa da popularidade que a pauta ganhou.

“No Brasil, se tem muitas pessoas lutando contra o racismo, mas existem muitas coisas midiáticas. Em maio, vimos muitas coisas contra a violência policial aqui e nos Estados Unidos, mas não vimos nenhuma linha lembrando os crimes de maio de 2006”, lembra Débora.

Crimes de maio

As mais de 500 mortes que aconteceram no mês de maio de 2006, considerado por Débora como o maior massacre da história contemporânea no Brasil, aconteceram após um movimento de rebeliões nos presídios de São Paulo orquestrado pelo PCC.

Na ocasião, o governo paulista decidiu às vésperas do Dia das Mães transferir centenas de presos paulistas apontados como líderes da facção criminosa para o presídio de segurança máxima em Presidente Venceslau. Como resposta, o PCC realizou um motim orquestrado em diversas unidades prisionais.

A violência chegou às ruas, e houve ataques a policiais civis e militares. A força policial paulista também partiu para ofensiva e o Estado viveu uma guerra com centenas de mortes, incluindo mulheres e pessoas inocentes.

Desde os crimes até os dias atuais, 14 anos depois, as Mães de Maio seguem nas ruas pedindo por justiça e lutando em memória dos filhos. Ainda assim, encontra as dificuldades para que haja o reconhecimento por parte do Estado.

Em uma das novidades do caso, de novembro do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou indenizar as famílias das 564 pessoas mortas em maio de 2006. De acordo com a decisão, o Ministério Público Estadual demorou muito para entrar com a solicitação, por isso a negativa.

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