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Vítimas de tragédia do litoral norte de SP dizem estar sem assistência do governo estadual e municipal

Os órgãos afirmam que estão definindo os projetos para a construção de moradias populares em São Sebastião

São Paulo|Isabelle Amaral, do R7

Moradores deixaram cartaz na lama
Moradores deixaram cartaz na lama Moradores deixaram cartaz na lama

Morando em um “quartinho” com o marido e o filho na casa do patrão, Rosimeire Nascimento dos Santos, que perdeu tudo durante as fortes chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo no fim de semana de Carnaval, afirma que a situação na região é “bem maior do que o governo e a prefeitura mostram”. Ela e um grupo de pessoas dizem que, apesar de a cidade de São Sebastião, uma das mais atingidas pelo temporal, estar recebendo “fundos de diversas instituições”, os órgãos públicos “não têm olhado para as vítimas como um todo”, deixando-as sem assistência.

Inicialmente, a mulher e a família ficaram em uma escola que servia como abrigo. Depois, eles foram tirados de lá e levados para um hotel em Juquehy, mas decidiram viver com o chefe. “Eu tive que sair de lá, não vou ficar em pousada que eu não sei como vai ser ou até quando, fora o fato de que pagar o transporte para ir e voltar do trabalho é muito caro, não temos condições”, afirmou.

A casa de Rosimeire não desabou, mas foi invadida por muita água, fazendo com que a família perdesse eletrodomésticos, roupas e até alimentos. Dias depois, a Defesa Civil interditou a residência. Hoje a família precisa viver de doações.

Na Barra do Sahy, uma das regiões mais afetadas pelas chuvas, um cartaz em que está escrito “soterrados pela ganância” foi colocado no meio de um monte de lama deixada pela tragédia. Essa ganância, segundo os moradores, é das autoridades, que sabiam dos riscos e não agiram para criar nenhum tipo de prevenção.

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Segundo o último boletim do governo estadual, essa tragédia resultou em um total de 65 mortes— entre elas a de 19 crianças —, além de 1.096 desabrigados que foram levados para pousadas, afora os que preferiram se abrigar em casas de parentes ou amigos, como Rosimeire.

Sem direito a moradia popular e auxílio-aluguel de R$ 400

“Teve gente que perdeu tudo e preferiu ir morar com familiares por um tempo do que ir aos abrigos do governo, só que essas pessoas, diferentemente das que estavam nos abrigos, não entraram na lista de vítimas para receber a moradia popular”, revelou Adriana Rodrigues, que perdeu a filha, de 18 anos, na tragédia.

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O R7 pediu um posicionamento sobre a situação ao governo do estado e à Prefeitura de São Sebastião, que explicou que os órgãos estão em processo de definição de áreas e projetos para a construção de moradias populares, que vão atender as vítimas da tragédia.

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“Até o momento, o prefeito ofereceu oito terrenos do município para a SDUH (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação), sendo três em Maresias, dois em Barequeçaba, dois na Topolândia e um na Vila do Sahy”, informou a gestão municipal. Confira mais detalhes neste link. Sobre a questão de pessoas que se abrigaram em casas de conhecidos não terem direito à moradia popular, os órgãos não responderam.

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Casas em áreas de risco foram interditadas
Casas em áreas de risco foram interditadas Casas em áreas de risco foram interditadas

Ainda segundo Rosimeire, os moradores que tiveram a casa interditada ou a perderam durante o temporal devem receber R$ 400 de auxílio-aluguel; no entanto, na região não tem tanto imóvel para alugar e “por menos de R$ 1.000 mensalmente não acha”, alega.

A prefeitura, por outro lado, nega esse valor e afirma que o auxílio-aluguel é de um salário mínimo (R$ 1.302) e será concedido por seis meses. Para se cadastrar no benefício, o morador precisa preencher um formulário com os dados pessoais e as informações do imóvel. Saiba mais aqui.

“Nós queríamos saber o que o prefeito e o governador vão fazer pela gente. Parece que estão só enrolando, mas não tem nenhum posicionamento concreto”, ressaltou a mulher.

Abalo emocional

Rosimeire e o neto, de 4 anos
Rosimeire e o neto, de 4 anos Rosimeire e o neto, de 4 anos

Além da perda material, muitas dessas vítimas perderam parentes e amigos próximos na tragédia, o que tem “sido difícil de superar”. Outros perderam também o meio de trabalhar, como foi o caso da filha de Rosimeire. Ela, que é mãe solo, vendia churrasco na praia e, com o que ganhava, sustentava o filho, de 4 anos.

Preocupada com toda essa situação, a filha de Rosimeire, que também perdeu tudo na tragédia, entrou em depressão e emagreceu 10 quilos em menos de um mês. “Eu até peço que doem roupas para o meu neto, porque ele perdeu tudo que tinha e ele é nossa prioridade. Estamos vivendo uma situação muito difícil”, enfatiza.

Adriana Rodrigues, que tem tentado auxiliar as vítimas que perderam tudo na tragédia, pede que esse público tenha “ao menos um lugar digno para morar”. “Ainda estou muito anestesiada com a perda da minha filha, mas o que eu puder fazer para ajudar quem ficou eu vou”, afirmou.

“O governo nunca olhou para a gente, agora que aconteceu essa tragédia quer olhar, e mesmo assim tem muita gente que está desamparada. Está vindo dinheiro de todos os lados, mas o que tem sido realmente feito?”, questionou.

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