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E se vacina de Oxford não for eficaz contra variante brasileira?

Cepa da África do Sul, que tem mutações em comum com a identificada no Amazonas, aparenta ser resistente ao imunizante

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Universidade de Oxford prevê vacina adaptada às mutações a partir de setembro
Universidade de Oxford prevê vacina adaptada às mutações a partir de setembro Universidade de Oxford prevê vacina adaptada às mutações a partir de setembro

A comunidade científica espera para as próximas semanas conclusões de estudos sobre a variante do coronavírus identificada no fim de 2020 em Manaus (AM), chamada de P.1. Um dos pontos pesquisados é a eficácia das vacinas que já estão sendo aplicadas no Brasil — Oxford/AstraZeneca e CoronaVac — contra esta cepa.

Além disso, cientistas também querem estimar qual é a prevalência da P.1 entre os casos positivos de covid-19.

Há preocupação da OMS (Organização Mundial da Saúde) em relação à variante encontrada no Brasil.

No boletim semanal mais recente, na terça-feira (9), a entidade alertou para o fato de a cepa ser potencialmente capaz de diminuir a proteção conferida pelas vacinas.

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Isto porque a P.1 tem tem quatro mutações significativas em comum com a cepa que circula na África do Sul desde agosto do ano passado, chamada de B.1.351, e que já se mostrou mais resistente a alguns imunizantes, como de Oxford/AstraZeneca, da Janssen e da Novavax, além de diminuir em seis vezes a proteção da vacina da Moderna. 

As alterações foram observadas na proteína S, que fica na "coroa" do vírus e é por onde ele se liga aos receptores humanos no momento da infecção. 

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O governo da África do Sul suspendeu o uso do imunizante de Oxford após resultados preliminares de um estudo da Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo, que mostraram "eficácia mínima da vacina".

A taxa de proteção caiu de 62% para 22% contra casos leves e moderados. A cepa B.1.351 já é predominante entre os casos reportados na África do Sul.

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O chefe da equipe de especialistas que assessora a OMS no tema de vacinas, Alejandro Cravioto, afirmou que a menor eficácia da vacina de Oxford contra novas cepas foi detectada principalmente contra casos leves e moderados, mas que "há evidências indiretas de que ainda protege em casos graves".

"Considerando esses fatores, não há razão para desaconselhar o uso, nem em países que tenham a circulação das novas variantes do coronavírus", disse em entrevista coletiva na quarta-feira (10).

A Fiocruz enviou, no começo do mês, amostras de soro de pacientes brasileiros infectados com a P.1 à Universidade de Oxford para que sejam feitos os testes de eficácia.

Mas o que acontece com as vacinas já em uso se a variante brasileira escapar da proteção conferida pelas vacinas que já estão sendo aplicadas aqui?

Reprodução 3D da proteína S do coronavírus
Reprodução 3D da proteína S do coronavírus Reprodução 3D da proteína S do coronavírus

A reportagem questionou diretamente a Fiocruz e o Ministério da Saúde sobre quais os planos caso a vacina de Oxford se mostre pouco eficaz contra a P.1, mas não houve resposta.

Para a médica Mônica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), é fundamental que haja sequenciamento genético frequente das amostras de pacientes em todo o país para saber qual é a prevalência da P.1 em relação às demais.

"O Brasil está vacinando rapidamente Manaus, que foi onde surgiu essa cepa variante e levou àquela situação de caos. Se essa cepa não disseminar no Brasil inteiro com a vacinação em massa na região Norte, ou que novas mutações que escapem dos anticorpos produzidos pelas vacinas não apareçam, é uma situação em que a gente pode continuar usando e fabricando a mesma vacina [de Oxford]."

Todavia, diante de uma disseminação geral da variante e da comprovação de que ela é resistente à vacina de Oxford, Mônica entende que será necessário adaptar o imunizante.

"Eu acho que seria melhor continuar com a CoronaVac — por ser uma vacina de vírus inativado inteiro — com alta produção, rapidez e adaptar a vacina de Oxford à cepa predominante. Mas apenas se essa cepa tomar conta. Por exemplo, na África do Sul, 90% dos circulantes são dessa cepa mutante."

O boletim da OMS destaca que, em Manaus, "a proporção de casos com P.1 entre as amostras testadas aumentou de 52% em dezembro de 2020 para 85% em janeiro de 2021". Por isso, a importância de haver dados atualizados em relação a outras regiões do Brasil.

A vacina de Oxford tem como foco justamente a proteína S do coronavírus, acrescenta Mônica, diferente da CoronaVac, que utiliza uma tecnologia com o coronavírus inteiro inativado.

"Os estudos de eficácia dessas vacinas foram com as cepas originais. Então, Janssen, Novavax e Oxford foram testadas agora já mostrando uma perda grande de anticorpos neutralizantes eficazes. Isso não é uma hipótese, já está acontecendo, tanto que estão começando a trabalhar em uma segunda geração adaptando a vacina com a genética da proteína S das cepas mutantes."

CoronaVac

Eficácia da CoronaVac contra variante P.1 também está sendo estudada
Eficácia da CoronaVac contra variante P.1 também está sendo estudada Eficácia da CoronaVac contra variante P.1 também está sendo estudada

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou em entrevista coletiva, no começo da semana, que a CoronaVac é eficaz contra as cepas identificadas no Reino Unido e África do Sul.

"Essa é uma preocupação de todas as vacinas, mas principalmente daquelas vacinas que têm uma única proteína como antígeno, que é a chamada proteína S. De fato, essas vacinas têm apresentado desempenho inferior, principalmente com essa cepa sul-africana. Não é o caso com as vacinas de vírus inativado. Já tem testes contra essas duas variantes — inglesa e da África do Sul — e tiveram bom desempenho. Estamos agora testando contra a variante amazônica. Estamos fazendo, inclusive, com amostras de soro de pessoas vacinadas aqui no Brasil."

O R7 procurou o Butantan para saber mais detalhes sobre os estudos citados por Dimas Covas, mas o instituto não forneceu informações e sugeriu que o contato fosse com o desenvolvedor do produto, o laboratório chinês Sinovac Life Sciences, que não se manifestou.

Novas vacinas

A maior parte das vacinas já em uso contra a covid-19 tem como alvo a geração de anticorpos contra a proteína S do vírus.

Mutações como as do Reino Unido, África do Sul e Brasil criam um desafio em relação a esses imunizantes, tanto que a OMS as classifica de "variantes preocupantes", ou VOCs, na sigla em inglês. 

Além da possível resistência aos imunizantes, essas cepas também podem ser responsáveis por casos de reinfecção. 

A cepa britânica, B.1.1.7, não se mostrou resistente às vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna e Oxford/AstraZeneca.

Mesmo assim, alguns laboratórios já estão se antecipando para lançar nos próximos meses vacinas de segunda geração adaptadas às novas variantes.

A Universidade de Oxford e a AstraZeneca esperam para outubro um imunizante atualizado. No entanto, a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, disse que é melhor utilizar o que está disponível atualmente. "Qualquer uma disponível é melhor do que esperar."

A norte-americana Moderna também detectou que houve redução "de seis vezes" nos títulos de anticorpos neutralizantes conferidos pela vacina desenvolvida por ela em pessoas infectadas pela cepa sul-africana. Ainda assim, a proteção permaneceu "acima dos níveis que se espera", afirmou a empresa.

Embora os resultados possam ser considerados otimistas em relação a outros imunizantes, a Moderna já começou os estudos com um terceira dose de reforço e com uma vacina adaptada às novas variantes.

“Com muita cautela e aproveitando a flexibilidade de nossa plataforma de RNAm [RNA mensageiro], estamos avançando na clínica em uma [vacina] candidata a reforço contra a variante identificada pela primeira vez na República da África do Sul para determinar se será mais eficaz aumentar os títulos contra esta e outras variantes potencialmente futuras", acrescentou o diretor-executivo da Moderna em comunicado.

Mônica Levi explica que a vantagem da vacina de Oxford é que haverá transferência de tecnologia para a Fiocruz, o que facilita no futuro mudanças no antígeno.

"Se os estudos mostrarem que a cepa identificada em Manaus, a P.1, que guarda muitas coisas semelhantes nas mutações com a cepa da África do Sul, se a vacina não for efetiva aqui no Brasil, como não foi na África do Sul, acho que a Fiocruz vai adaptar de acordo com a cepa circulante."

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