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Entenda a polêmica que envolve o PrEP, profilaxia pré-exposição ao HIV

Ministério da Saúde e Fiocruz divulgaram nota nesta segunda (2) de repudio à reportagem da revista Época, que tratou do assunto no último domingo

Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7


Remédio é utilizado para evitar o contágio pelo HIV
Remédio é utilizado para evitar o contágio pelo HIV

A revista "Época" do último domingo traz na capa uma reportagem que recebeu críticas do Ministério da Saúde, Fiocruz, organizações não-governamentais e centros de pesquisa do HIV no país.

Com o título “A outra pílula azul”, o texto aborda o tratamento de PrEP, profilaxia pré-exposição ao HIV, realizado por meio de um medicamento antirretroviral capaz de proteger o organismo contra o vírus HIV.

A reportagem afirma que o tratamento tem sido utlizado por homossexuais que, com ele, se sentem seguros o suficiente para deixar de usar a camisinha e aumentar consideravelmente o número de parceiros sexuais.

A reportagem gerou reações imediatas. Uma delas foi a nota de repúdio publicada nesta segunda-feira (2) pelo Ministério da Saúde.

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Leia mais: As histórias de quem vive com HIV desde os anos 80

A carta é assinada pela diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis, Adele Schwartz Benzaken. No texto, a pasta afirma ter constatado com “perplexidade” que a reportagem “envereda por um terreno minado de insinuações, julgamentos e estigma – e que confunde o leitor com a desinformação”.

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A principal crítica é a de que a revista coloca os homossexuais como “grupo de risco” responsável pela disseminação do HIV, a partir do momento em que, usando o medicamento, deixam de usar a camisinha e aderem ao sexo promíscuo e desprotegido.

De acordo com o Ministério da Saúde, grupo de risco é um termo que está “em desuso desde a década de 1990” e, ao insinuar que eles são “disseminadores de infecções sexualmente transmissíveis (IST), como o HIV, a revista reforça estigmas há muito superados, após décadas de luta e trabalho”. Leia aqui a nota de repúdio na íntegra.

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O Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) também se manifestou. A carta publicada nesta segunda-feira (2) diz que a Fiocruz repudia a reportagem com "indignação e veemência":

"Desde a concepção da capa, que apresenta de forma sensacionalista temas bastante caros para instituições, estudiosos e pesquisadores, a referida reportagem reforça de forma preocupante a questão do estigma e o preconceito aos gays, além de caminhar na contramão dos resultados apresentados no Brasil a partir de pesquisas realizadas por instituições sérias e comprometidas na implementação de políticas públicas eficientes para um problema de extrema complexidade". Leia aqui a carta na íntegra.

Remédio contém dois antirretrovirais

A profilaxia pré-exposição ao HIV (PreEP) é realizada por meio da ingestão diária de um comprimido que combina dois antirretrovirais usados no tratamento contra o HIV: o tenofovir e a emtricitabina. No Brasil, esse comprimido é vendido em farmácias especializadas em medicamentos especiais. A caixa com 30 comprimidos custa R$ 290.

Medicamentos especiais são aqueles que envolvem alta tecnologia e exigem armazenamento e transporte diferenciado. Por isso não são vendidos em farmácias comuns.

Desde 2010 esta medicação é usada não só para tratar quem já tem o vírus (combinado com outras drogas), mas também para evitar que pessoas que não têm, se contaminem.

"É uma estratégia de prevenção, mais uma alternativa para evitar que o vírus se espalhe, que o número de pessoas infectadas aumente", diz o infectologista Ricardo Vasconcelos.

Programa PrEP no Brasil

No Brasil, a profilaxia pré-exposição ao HIV começou a ser testada em 2014 pelo Programa PrEP Brasil, desenvolvido por cinco institutos renomados: Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Faculdade de Medicina da USP, Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS-SP, Hospital Partenon, de Porto Alegre e Fundação de Medicina Tropical, de Manaus.

Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Manaus, no Amazonas, foram escolhidas porque são as duas capitais brasileiras onde o HIV se dissemina mais rapidamente.

O programa PrEP Brasil disponibilizou o tratamento para quase 500 pessoas que, além de se comprometerem a tomar um comprimido por dia, também passaram por um aconselhamento com psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros.

Os resultados surpreenderam, não só pela eficácia da medicação, mas também pela mudança de comportamento dos participantes.

De acordo com o infectologista Ricardo Vasconcelos, um dos coordenadores do programa, a partir do momento em que os voluntários entraram no programa de PrEP, foi possível observar uma mudança de comportamento. "Houve diminuição no número de parceiros e manutenção na frequência do uso da camisinha".

A pesquisa foi feita com homens homossexuais e mulheres transexuais, mas a PrEP pode ser feita por qualquer pessoa que, de alguma forma, possa estar exposta ao HIV.

Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma série de medidas sobre o uso da PrEP e recomendou que a profilaxia fosse adotada por todos os países para evitar o aumento do contágio do HIV.

Entre outros pontos, a OMS recomendou o uso da PrEP para a população mais vulnerável à exposição ao vírus como pessoas que estão em um relacionamento fixo com um parceiro HIV positivo e qualquer pessoa que não esteja em uma relação monogâmica, independentemente da orientação sexual.

SUS oferece o tratamento desde dezembro de 2017
SUS oferece o tratamento desde dezembro de 2017

PrEP no SUS

Seguindo a recomendação da OMS, o Ministério da Saúde passou a disponibilizar a profilaxia pré-exposição no Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro do ano passado.

A PrEP já está disponível em 11 estados, um total de 36 serviços públicos de saúde. A previsão é que a partir de abril o tratamento passe a ser oferecido em todos os estados brasileiros.

Para começar a fazer a PrEP pelo SUS, basta entrar no site do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (clique aqui) e ver se tem algum serviço do SUS que ofereça a medicação na sua cidade. Depois, basta ir até o local e marcar uma consulta.

Além de tomar os comprimidos, as pessoas que desejam fazer a profilaxia também devem passar por um acompanhamento médico, com exames a cada três meses, e aconselhamento com psicólogos e assistentes sociais.

Menos de 1% das pessoas que tomam o medicamento apresentaram reações adversas. Os efeitos colaterais vão desde problemas gastrointestinais leves, nos primeiros dias de medicação, até alterações renais e ósseas. De acordo com o infectologista, a pessoa não precisa se preocupar com os efeitos colaterais, mas ela tem que rastrear essas alterações e isso é feito pelo acompanhamento do SUS.

Antes do Brasil outros países já tinham adotado a profilaxia pré-exposição como tática de prevenção ao HIV, entre eles os Estados Unidos, a França e o Canadá.

PrEP não protege contra outras DSTs

Vale ressaltar que a profilaxia pré-exposição ao HIV protege apenas contra o vírus HIV. Quem faz a PrEP não está protegido contra outras doenças sexualmente transmissíveis, portanto, o uso da camisinha ainda é indispensável.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil sofre um aumento no número de casos de sífilis adquirida – aquela transmitida nas relações sexuais. A taxa de infecção para cada 100 mil habitantes em 2015 era de 33,5. Um ano depois, o número subiu para 42,5.

Em 2016, o número de novos casos confirmados de sífilis no país foi de 87.593. Os homens são a maioria dos infectados, 59,3%.

A Organização Mundial da Saúde fez um levantamento e listou as doenças sexualmente transmissíveis mais comuns no Brasil. De acordo com a OMS, em primeiro lugar está a clamídia, com 1.967.200 casos. Em seguida vem a gonorreia com 1.541.800 pessoas infectadas. A sífilis está em terceiro lugar e soma 937 mil casos em todo o país.

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