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Modelo plus size gera polêmica. Padrões podem causar transtornos

A escolha da Victoria's Secret foi criticada por se tratar de uma 'mulher natural', e não acima do peso; pressão eleva risco de transtorno alimentar

Saúde|Aline Chalet, do R7*

Ali Tate-Cutler é a primeira modelo plus size da Victoria's Secret
Ali Tate-Cutler é a primeira modelo plus size da Victoria's Secret

A marca de lingerie Victoria’s Secret anunciou a norte-americana Ali Tate-Cutler como sua primeira modelo plus size. A chefe de cozinha Paola Carosella fez uma publicação no Twitter criticando a escolha. Segundo Paola, a marca está sendo irresponsável ao definir como "plus size", que designa pessoa acima do peso, uma modelo com proporções de uma mulher "real".

A booker Deborah Neumann, da Ford Models, avalia que Ali tem manequim 42/46. Publicações de moda, como a Vogue Brasil, consideram 46.

O psiquiatra José Carlos Appolinario, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), afirma que a pressão social é uma das três causas do desenvolvimento de transtornos alimentares, um problema multifatorial. "Envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. A cultura ocidental, que supervaloriza a magreza, principalmente da mulher, contribui sim para o desenvolvimento [dessas doenças]”, afirma.

Ele avalia como positivo o movimento de inserir modelos com IMC "normal" na moda e publicidade. O IMC (índice de massa corporal) é um cálculo que considera peso e altura para verificar se a pessoa está com peso saudável ("normal").


“A indústria da moda sofreu muita pressão por conta das modelos muito magras. Pessoas com IMC normal, que não são magérrimas, se sentem mal. A pessoa com transtorno continua obcecada por modelos magras, mas o fato de ter pessoas com peso normal na indústria da moda e em propagandas contribui para um ambiente saudável”, afirma.

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O médico alerta que as modelos de peso normal não devem ser classificadas como plus size, pois pode gerar um efeito contrário. Se aquele padrão é considerado plus size, a pessoa com transtorno alimentar entende que tem que ser mais magra do que aquilo. "Imagina a influencia que isso terá nas crianças", diz Appolinario. 

Deborah explica que a definição dos padrões plus size variam de acordo com cultura de cada país. “Mercado europeu e americano trabalha com 40/42. Aqui no Brasil, os números são de 44 a 46, algumas 48”, explica.


Para a booker, a palavra "curve" seria mais acertada para classificar Ali. O termo engloba modelos que têm manequim intermediário (42/44) e grande (+46). Segundo ela, o termo plus size é mais adequado apenas para pessoas com manequim superior a esse tamanho. “Passou do padrão do modelo magra, você se torna modelo curve”, afirma a booker.

No transtorno, peso é preocupação

Appolinario afirma que o transtorno alimentar está relacionado à forma que o indivíduo se alimenta e com a forma que ele se sente em relação ao seu peso e corpo. “No transtorno, o corpo é sempre uma preocupação. A pessoa está constantemente pensando nisso. Se você pedir para a pessoa classificar o que é mais importante na vida dela, amigos, família, relacionamento, atividades, o peso vai vir na frente”, explica.

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O psiquiatra explica que existem três tipos de transtornos. A anorexia nervosa, caracterizada por peso menor do que o mínimo adequado para a idade e altura e recusa a alimentação. A bulimia nervosa, caracterizada por episódios de compulsão alimentar seguidos de mecanismos compensatórios. E o transtorno de compulsão alimentar, que apresenta os mesmos episódios da bulimia, mas não são acompanhados de mecanismos compensatórios.

Neste último tipo, a preocupação com o corpo pode estar presente, mas não é em todos os casos. Os episódios precisam ter uma frequência de pelo menos uma vez por semana, durante três meses, para confirmar o diagnóstico.

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Segundo Appolinario, episódio de compulsão é o consumo excessivo de comida em um período curto de tempo, cerca de uma hora. Os mecanismos compensatórios ocorrem devido a uma sensação de perda de controle e podem ser o uso de laxativos e diuréticos, vômitos autoinduzidos, prática exagerada de exercícios e longos períodos de jejum.

O médico aponta que não é necessário que a pessoa tenha todos os sintomas para iniciar o tratamento. Esses casos são chamados de subliminares. “O que acontece muito é a pessoa já estar em um processo de anorexia nervosa, mas ainda não chegou ao peso que é classificado doença. O tratamento já deve ser iniciador”, afirma.

*Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Giannini 

Pessoas vencem anorexia e conquistam vida saudável após doença:

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