Subtipo de sarampo e queda de anticorpos levaram à surto em SP
Imunização promovida pela vacina teria duração de 15 anos e, após esse tempo, deixaria pessoas mais sujeitas à infecções de outros subtipos
Saúde|Giovanna Borielo, do R7*
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O surto de sarampo que atinge São Paulo desde abril deste ano, quando foi registrado o primeiro caso da doença na capital paulista desde 2015, já soma mais de 1.200 infectados. De acordo com o virologista Edison Luiz Durigon, do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da USP) o grande número de casos se dá por dois fatores: a queda de anticorpos vacinais e a circulação de um subtipo diferente.
"Após 15 anos da vacina, os anticorpos que protegem as pessoas da doença tendem a cair e quando circula um subtipo diferente do vírus, ocorre uma epidemia", explica o virologista. Ele afirma que o vírus que circula atualmente é o D-8, mas não se trata de um tipo novo. Segundo o médico, o subtipo D-8 já causou uma epidemia no país em 2014, e também causou um surto na região Norte do Brasil no final de 2018.
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Durigon alega que, por conta da queda de proteção do corpo contra a doença, o ideal seria que as pessoas se vacinassem também em 15 ou 20 anos. "É um padrão. Pouco mais de 20 anos atrás o Brasil teve outro surte de sarampo, quando circulava o vírus D-6. Na época teve campanha vacinal, assim como hoje. Agora, quem está no público alvo da vacinação é exatamente quem era criança lá atrás, ou que tomou apenas duas doses da vacina quando criança, porque são as pessoas que estão contraindo a doença", afirma.
Porém, o surto não se dá apenas pela queda de proteção. O "novo tipo" do vírus ingressou no país por meio de pessoas vindas da Noruega, de Israel e da Venezuela. Como São Paulo é um lugar que recebe gente de todos os lugares o tempo todo, aquelas que tiveram contato com o D-8 lá fora podem infectar as pessoas com essa queda imune e que sejam mais suscetíveis.
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Esse subtipo, de acordo com o virologista, está sendo o causador de uma grande epidemia na Europa. Além disso, o continente tem outros três subtipos virais circulando, o B-3, B-6 e D-9. Pelo fato de muitas pessoas naquela região aderirem aos movimentos anti-vacinas, a circulação de vírus aumentou.
Os casos atuais de sarampo em São Paulo, segundo Durigon, tendem a se espalhar para outros Estados, visto que conforme as mutações que o vírus do sarampo sofre, os subtipos tendem a se espalhar mais rápido e serem um pouco mais resistentes. O tempo mais frio e mais seco tende também a aumentar a transmissão do vírus.
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"O ideal mesmo era que a população até os 50 anos fosse revacinada mas, devido às limitações dos estoques, já que a vacina é importada, é essencial que o público alvo continue a se vacinar", afirma Durigon. A vacina, embora seja feita com o subtipo A atenuado, é capaz de proteger contra o vírus circulante.
O virologista orienta que pessoas que tenham tomado a vacina há mais de 15 anos busquem a imunização, e aconselha que os pais sigam a recomendação do calendário vacinal, embora não seja obrigatória, de que os adolescentes sejam revacinados na adolescência. A vacina aumenta a quantidade de anticorpos e neutraliza o vírus, imunizando as pessoas contra as infecções.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Bresser
Devo tomar o reforço da vacina contra o sarampo? Tire suas dúvidas:
Devo tomar o reforço da vacina contra o sarampo? Caso tenha o registro das duas doses da vacina na carteira de vacinação, sendo a primeira dose tomada após 1 ano de idade, não precisa tomar o reforço, segundo o pediatra Juarez Cunha, presidente da Soci...
Devo tomar o reforço da vacina contra o sarampo? Caso tenha o registro das duas doses da vacina na carteira de vacinação, sendo a primeira dose tomada após 1 ano de idade, não precisa tomar o reforço, segundo o pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Somente após o ano 2000 é que a vacina contra o sarampo passou a ser ministrada em duas doses no país. Portanto, quem nasceu antes de 2000 provavelmente não tomou a segunda dose e deve tomar o reforço. A vacina monovalente, que era ministrada em uma única dose antes de 1 ano de idade, não era tão eficaz como a trivalente, oferecendo apenas 70% de proteção, por causa da interferência dos anticorpos da mãe, explica o médico