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Tecnologia e Ciência
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“Não havia sistema capaz de conter incêndio no museu”, diz pesquisador

Verba para a instituição é de R$ 500 mil mensais, mas o que chega, na prática, é R$ 356 mil. Para cobrir todas as despesas, seria necessário R$ 1 milhão

Tecnologia e Ciência|Fabíola Perez, do R7


Chamas destroem acervo do Museu Nacional, um dos maiores da América Latina
Chamas destroem acervo do Museu Nacional, um dos maiores da América Latina

Em meio à manifestação que ocorre nesta segunda-feira (3) em frente ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, que pegou fogo na noite do domingo (2), o pesquisador João Vicente Lagüéns, que atua no museu há mais dez anos, afirmou que o prédio possuía o mínimo de estrutura para funcionar.

“O problema não está na fagulha que originou as chamas, nem na atuação dos bombeiros. A questão é que não havia um sistema capaz de combater o incêndio e de proteger o acervo”, afirma o pesquisador da instituição na área de Antropologia Social. “Nunca houve disponibilidade de recursos.”

De acordo com o pesquisador, o valor histórico do acervo perdido é incalculável. “É uma perda gigante, principalmente nas áreas de arqueologia, paleontologia e história nacional. Era um material único para os pesquisadores". Localizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital fluminense, o museu era um dos cinco maiores acervos de história natural do mundo.

Segundo o Museu Nacional e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFRJ), a instituição recebe do Ministério da Educação R$ 500 mil por mês para exposições e coleções. Desde 2014, porém, há um déficit nas contas e, na prática, o museu recebia R$ 356 mil. No entanto, segundo a assessoria do museu, a verba é insuficiente. Seriam necessários, pelo menos, segundo a instituição, R$ 1 milhão por mês para cobrir todas as despesas. 

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Para Lagüéns, um dos prejuízos mais simbólicos diz respeito ao acervo dos povos originários. “Dói pensar que populações que foram massacradas, sofreram genocídio, foram completamente extintas passam agora por uma segunda morte”, afirma o pesquisador.

As perdas ainda não estimadas sobre o acervo histórico afetam, sobretudo, o trabalho dos pesquisadores que atuam no museu e em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. “O museu possui uma das bibliotecas mais importantes do hemisfério sul, com um volume gigantesco de produções.”

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O pesquisador critica o direcionamento de verbas ao museu. “É assim que se produz a desigualdade no mundo: temos enormes verbas para determinadas coisas e, ao mesmo tempo, um museu construído há séculos, que é um bem coletivo, que produz ciência, formula projetos foi queimado porque sempre foi deixado em segundo plano".

“Sempre se teve de escolher entre, por exemplo, verba para segurança pública ou recursos para pesquisa”, diz Lagüéns. “São muitos anos de cobertor curto e uma escolha que demonstra falhas". Segundo o pesquisador, a instituição enfrenta um “processo radical de corte de verbas".

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Infraestrutura

Segundo o pesquisador, o palácio do Museu Nacional tem uma trajetória de dificuldades. “É uma construção que teve início no século 17, tem uma manutenção difícil e exige cuidados específicos do ponto de vista da restauração de patrimônio".

Há sete anos, foi realizada a restauração da fachada do prédio, mas internamente, segundo o pesquisador “havia o mínimo de estrutura para funcionar”. “Formar um profissional capaz de lidar com o restauro de um espaço como o do museu e com o acervo que ele possui é um trabalho de longo prazo que requer investimento".

Apesar disso, Lagüéns afirma que pesquisadores devem fazer um força-tarefa para recuperar parte do arquivo recente que foi digitalizado. “Não é possível resgatar o que foi perdido, são perdas históricas irreparáveis”, diz em relação à proposta de reconstrução. “Mas há uma equipe imensa de pesquisadores que irá compartilhar arquivos de ex-alunos e professores”, afirma.

Para isso, porém, explica, é necessário que seja feito um investimento significativo e emergencial para que a memória das pessoas que ajudaram a construir a história e a identidade nacional não se perca com o passar dos dias.

O Museu Nacional possui 300 funcionários, entre pesquisadores e servidores. 

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