Saiba como o rebaixamento da nota de crédito do Brasil afeta a sua vida
Dólar deve subir mais e prejudicar viagens internacionais. Desemprego também pode aumentar
Economia|Do R7
Nesta quarta-feira (16), a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito do Brasil de "BBB-" para "BB+", o que significa retirar do País o chamado “grau de investimento”. Em setembro, outra agência de risco, a Standart & Poors, já havia rebaixado o Brasil, retirando o selo de bom pagador.
As notas dadas pelas agências de risco servem de termômetro para os investidores estrangeiros, que consideram esse selo para decidir se investem em um determinado País ou empresa. Ok, mas o que muda na sua vida?
Sem o selo de bom pagador — representado pelo grau de investimento —, o Brasil fica sujeito ao humor dos investidores estrangeiros, que devem destinar seus recursos para outros países mais seguros.
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O primeiro sintoma é o fluxo menor de dólares para País, o que deverá fazer a moeda americana disparar ainda mais — nesta quarta-feira (16), estava cotada a R$ 3,94 às 13h10.
Com o dólar mais caro, fica mais caro viajar para o exterior e comprar produtos estrangeiros — cotados em dólar. Isso vale tanto para as compras internacionais que você faz no seu cartão de crédito como as máquinas e equipamentos e matérias-primas de que a indústria precisa para sua operação.
Outra consequência é um possível impacto no mercado de trabalho. Com menos financiamento estrangeiro, os cofres das empresas também ficam mais enxutos porque tomar dinheiro emprestado fica mais caro. Isso porque o governo brasileiro pode responder com o aumento dos juros básicos da economia.
Em consequência, os investimentos na cadeia produtiva diminuem e o desaquecimento da economia se agrava. Com menos máquinas e equipamentos disponíveis, são necessários menos trabalhadores para operá-los. Em outras palavras, o nível de desemprego poderá aumentar.
As principais razões para retirar o selo de bom pagador, segundo a Fitch, foi “a profunda recessão que foi previamente antecipada, continuou o desenvolvimento fiscal adverso e o crescimento da incerteza política que poderia minar a capacidade do governo de implementar efetivamente medidas fiscais para estabilizar o crescimento da dívida”.
Entenda os critérios
O grau de investimento funciona como um atestado de que os países não correm risco de dar calote na dívida pública. Abaixo dessa categoria, está o grau especulativo, cuja probabilidade de deixar de pagar a dívida pública sobe à medida que a nota diminui. Quando um país dá calote, os títulos passam a ser considerados como de lixo. O mesmo vale para as empresas.
São três as principais agências de classificação de risco. Duas das três — S&P e a Fitch — já rebaixaram a nota, e a Moody’s já colocou a em revisão negativa a nota brasileira, ou seja, poderá diminui-la em breve.
Para chegar à nota, as agências avaliam indicadores macroeconômicos, como a inflação e a geração de riquezas (PIB, Produto Interno Bruto), a situação financeira do país ou da empresa — como a economia do governo para pagar juros da dívida (superávit primário) — e a conjuntura do País ou empresa diante da economia global.
Para exemplificar, é como sua aprovação de crédito quando vai comprar determinado produto em parcelas numa loja. Você precisa ter o crédito aprovado antes de ter a compra a prazo aprovada — apenas a escala é maior, por se tratar de um país. Quando a financeira ou a própria loja considera o crédito do consumidor como bom, a compra é aprovada.
O mesmo vale para as agências de classificação de risco. Quando consideram o país bom, ele ganha o cobiçado “investment grade” (“grau de investimento”): isso é o sinal verde para que investidores do mundo todo considerem o país com essa nota um ambiente seguro para seu dinheiro — ou seja, tem pelo menos um sinal de que não levarão calote. Mas a nota costuma passar por revisões - assim como o crédito do consumidor.
Histórico
Desde 2008, o Brasil passou à categoria de grau de investimento. A primeira agência a incluir o País na categoria foi a S&P, em abril de 2008, seguida pela Fitch, em maio do mesmo ano, e pela Moody's, em setembro de 2009.
Embora as notas sirvam de parâmetro para a credibilidade de governos e de empresas no mercado financeiro, as agências de classificação de risco enfrentam críticas por terem errado nos prognósticos.
Antes de 2008, as agências deram notas altas para as operações de venda de créditos imobiliários nos Estados Unidos, que entraram em colapso e desencadearam uma crise econômica global.
Em 2013, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos abriu investigação contra a Standart & Poor's por suspeita de fraude na classificação de produtos hipotecários.