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Carta pela democracia e em defesa do sistema eleitoral é lida em SP

Documento, que tem quase 1 milhão de assinaturas, foi organizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP)

Eleições 2022|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo
Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo

A carta pela democracia e em defesa do sistema eleitoral brasileiro gestada na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), é lida nesta quinta-feira (11), no Largo São Francisco, na capital paulista. O documento conta com quase 1 milhão de assinaturas, entre elas a de empresários, banqueiros, acadêmicos e artistas.

O documento não faz menção ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), mas afirma que o Brasil está "passando por momento de imenso perigo" para a normalidade democrática, com riscos às instituições e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

A carta chega em meio às críticas feitas por Bolsonaro ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas. Recentemente, o presidente convocou embaixadores estrangeiros para levantar suspeitas contra o modelo adotado, sem apresentar provas, o que provocou reações em diversos segmentos da sociedade.

A leitura do documento se deu no Pátio das Arcadas, no Largo São Francisco — próximo de lugares históricos, como a Praça da Sé, palco das Diretas Já, em 1984.

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O movimento se deu em duas partes: na primeira, às 10h, foi lido o documento "Em Defesa da Democracia e da Justiça", organizado por mais de cem entidades. A segunda, por sua vez, ocorreu a partir das 11h, com a leitura da "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros — Estado Democrático de Direito Sempre".

O documento desta quinta-feira reedita o manifesto "Carta aos Brasileiros", lido em 8 de agosto de 1977 pelo professor Goffredo da Silva Telles Júnior, também no Largo São Francisco. Na época, a carta se tornou um marco na luta pelo restabelecimento do Estado democrático de Direito e uma das maiores manifestações da sociedade civil contra o regime autoritário.

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Confira a carta na íntegra:

"Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos Cursos Jurídicos no País, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

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A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o País sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.

A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em um País de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando a convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.

Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito. Aqui, também não terão.

Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar de lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:

Estado Democrático de Direito Sempre!!!!"

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UnB

A Universidade de Brasília (UnB) reforçou o esquema de segurança no campus Darcy Ribeiro em função dos protestos previstos durante o ato em defesa da democracia marcado para esta quinta-feira (11). A Polícia Militar e vigilantes da Faculdade de Direitoforam acionados para ficar de prontidão no estacionamento da unidade, onde ocorre a manifestção.

O movimento integra uma mobilização nacional de faculdades de Direito em todo o país para a leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito elaborada por professores e alunos da Universidade de São Paulo (USP). Às 15h, manifestantes devem marchar até o Congresso Nacional.

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