O brasileiro David Miranda desembarcou nesta segunda-feira (19) no Rio de Janeiro, depois de ficar detido por quase nove horas por oficiais da Scotland Yard em um aeroporto de Londres, na Inglaterra. Ele é companheiro do jornalista americano que revelou a estratégia de espionagem eletrônica do governo dos EUA.
Miranda conversou com a reportagem do Jornal Record e revelou que não sofreu nenhum tipo de violência policial durante a detenção, mas que foi pressionado verbalmente a colaborar com a Scotland Yard. Ao ser questionado sobre as ameaças ele respondeu:
— Fisicamente não, mas psicologicamente sim.
De acordo com Miranda, ele sabia que qualquer agressão física poderia acarretar em problemas diplomáticos ainda mais escandalosos para o governo britânico. Mesmo assim, toda a ação da polícia no domingo (18) explicitou a forma como as autoridades de segurança estão tratando do caso.
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Miranda é estudante de comunicação e companheiro do jornalista americano Glenn Greenwald, que divulgou ao mundo os programas de espionagem dos Estados Unidos.
A série de reportagens teve como base os documentos revelados pelo ex-funcionário da agência nacional de segurança, Edward Snowden
O jornal americano The New York Times alegou nesta segunda-feira (19) que Miranda estaria supostamente trazendo para o Brasil novos documentos de Snowden sobre os programas de espionagem dos EUA e do Reino Unido.
Explicações britânicas e revolta brasileira
Um porta-voz do Ministério do Interior disse que a detenção foi uma questão operacional da polícia. O chanceler britânico, William Hague, telefonou para seu colega brasileiro, Antonio Patriota, para discutir o assunto na tarde desta segunda-feira.
Patriota havia dito que o tratamento dado a Mirada "não é justificável".
"Eles concordaram que representantes dos governos brasileiro e britânico permanecerão em contato sobre o assunto", afirmou uma porta-voz da chancelaria britânica.
A polícia confirmou a detenção, mas se recusou a fornecer qualquer detalhe adicional.
Keith Vaz, um parlamentar trabalhista que preside o poderoso Comitê de Assuntos Internos do Parlamento, disse à BBC que tinha escrito ao chefe da Polícia Metropolitana de Londres para pedir esclarecimentos sobre o que ele chamou de um caso "excepcional".
Miranda foi detido pelo prazo máximo de nove horas previsto na lei, o que é algo extremamente raro.
De acordo com estatísticas do Ministério do Interior, menos de três em cada 10 mil pessoas que passam pelas fronteiras britânicas são paradas sob o artigo 7º da lei. Destes, mais de 97% são examinados por menos de uma hora, enquanto que 0,06% são detidos durante seis horas ou mais.
Greenwald, que escreve do Brasil para o The Guardian, disse que as autoridades britânicas apreenderam o laptop, o celular e unidades de pen drive de seu parceiro.
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Ele descreveu a detenção como uma tentativa de intimidar ele e outras pessoas envolvidas na revelação dos segredos vazados por Snowden.
"Eles [autoridades britânicas] abusaram completamente da sua própria lei sobre terrorismo, por razões que não têm nada a ver com o terrorismo", escreveu Greenwald em artigo no Guardian. "Se os governos do Reino Unido e dos EUA acreditam que táticas como essa vão nos deter ou intimidar... Eles estão mais do que iludidos".
O jornalista prometeu continuar escrevendo "agressivamente" sobre os programas de espionagem, cuja revelação irritou as autoridades dos EUA e provocou atritos entre Washington e outros governos, inclusive do Brasil.
Greenwald disse que "obviamente" Miranda não era suspeito de nenhum ato terrorista, mas mesmo assim passou todo o tempo da sua detenção sendo questionado sobre a atividade profissional de Greenwald e o conteúdo dos aparelhos eletrônicos que ele portava.