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Caso Bianca Consoli: Sandro Dota é absolvido por estupro de enteados

Motoboy teve a pena reduzida em 78 anos e 9 meses. Segundo a defesa, não há provas do abuso das crianças que tinham 6 e 11 anos na época

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7

Sandro Dota foi absolvido da acusação de abusar dos dois enteados
Sandro Dota foi absolvido da acusação de abusar dos dois enteados Sandro Dota foi absolvido da acusação de abusar dos dois enteados

O motoboy Sandro Dota, hoje com 49 anos, ficou conhecido em 2011 depois de ter sido condenado pela morte e estupro da cunhada, a universitária Bianca Consoli, de 19 anos. Ele confessou o crime, mas negou ter estuprado a jovem. Agora, ele foi absolvido pela justiça de outras duas acusações: o abuso dos enteados, uma menina de 6 anos e um menino de 11, filhos de Daiana Consoli, a irmã de Bianca, com quem foi casado. Com isso, Dota teve a pena reduzida em 78 anos e 9 meses de prisão.

Hoje ele está na penitenciária II de Tremembé, no interior de São Paulo, e luta para conseguir voltar às ruas no regime semiaberto. Para isso, trabalha na unidade prisional.

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De acordo com a advogada de defesa de Sandro Dota, Priscila Dias Modesto, a revisão da pena por estupro de vulnerável se deu porque não havia provas suficientes do abuso, só a palavra das vítimas. "Na condenação, a juíza usou de subjetividade, havia informações desencontradas, além de os estupros dos enteados terem ocorrido em 2011, mas só foram comunicados à polícia em 2017", ressaltou.

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Os nomes das crianças são preservados. Na apelação, a defesa sustentou que elas faziam a "acusação injustamente por vingança, em razão do homicídio de Bianca, tia das vítimas".

No julgamento, Sandro afirmou que sempre cuidou bem dos enteados e confirmou que "entrava nos quartos deles todas as noites, antes deles dormirem, a fim de realizar orações".

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No entanto, as duas vítimas dão detalhes dos abusos que teriam ocorrido entre 2009 e 2011, desde que Sandro passou a morar com a mãe deles. 

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Abusos

À justiça, as duas crianças, que na época eram menores de 14 anos, afirmaram que Sandro aproveitava os momentos em que ficavam sozinhos em casa para praticar a violência. A mãe trabalhava em um salão de beleza e ficava o dia todo fora.

Segundo o relato das vítimas, ele entrava no banheiro durante o banho das crianças, alegava que precisava passar sabonete e passava as mãos nos corpos. O mesmo aconteceria no quarto das vítimas.

A menina afirma que tinha 6 anos na primeira vez que foi estuprada pelo réu, em 2009. Ela relatou sofrer ameaças para que não contasse a ninguém: "Por medo, fingia que estava dormindo, mas mesmo assim ele sussurrava em seu ouvido que caso ela gritasse ou contasse os fatos para alguém, ele a mataria e mataria todos de sua família, a começar por sua avó".

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Ela dividia o quarto com o irmão, que disse ter vivenciado a mesma situação. Ele não se abria com ninguém, mas sempre relatou a avó que odiava Sandro. O garoto contou que o padrasto usava uma almofada ou travesseiro para sufocá-lo e abafar os gritos durante o abuso. Hoje ele diz ter claustrofobia por causa do trauma.

"Não contava nada para mãe porque tinha medo das ameaças e porque não queria que ela se sentisse culpada. Nunca consegui ter um relacionamento normal, pois sempre teve medo de machucar as meninas ou de ser igual ao réu", relatou o jovem em juízo.

Na condenação, está descrito que os acontecimentos foram narrados "com elevado grau de coerência e segurança, tanto em sede policial como em juízo, com riqueza de detalhes sobre a forma como o réu com eles praticava atos libidinosos diversos da conjunção carnal".

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A mãe, Daiana Consoli, contou em depoimento toda a culpa que carrega pelo fato de ter levado Sandro para dentro de seu núcleo familiar. Ela acredita que o marido a "dopava com calmantes e remédios para dormir".

A família começou a fazer terapia depois que Sandro matou Bianca, mas os abusos foram mantidos em segredo pelas vítimas até que, em 2017, a garota, já adolescente, decidiu contar para a mãe a violência sofrida. O irmão falou uma única vez sobre o fato em juízo.

Condenação

Sandro Dota negou os abusos e disse acreditar que "as acusações lhe foram atribuídas pelo fato de ter assassinado a tia das vítimas" em setembro de 2011.

A juíza da Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de São Paulo, Tatiana Vieira Guerra, condenou o reú à pena de 78 anos e 9 meses de reclusão, em regime fechado. A condenação a 39 anos, 4 meses e 15 dias para cada um dos estupros dos enteados se deu com base no relato das vítimas.

"Nos delitos de natureza sexual a palavra da ofendida, dada a clandestinidade da infração, assume preponderante importância, por ser a principal se não a única prova de que dispõe a acusação para demonstrar a responsabilidade do acusado. Assim, se o relato dos fatos por vítima menor é seguro, coerente e harmônico, deve, sem dúvida, prevalecer sobre a teimosa e isolada inadmissão de responsabilidade do réu”, escreveu a magistrada na decisão.

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A justiça levou em conta também os antecentes criminais de Sandro e a "conduta social voltada para a prática de crimes e personalidade com traços de psicopatia (não demonstra qualquer arrependimento ou expressão que indique esse sentimento)".

Absolvição

Mas em 21 de julho, a defesa de Sandro Dota conseguiu mudar a história. Ele foi inocentado das acusações de estupro dos enteados e já até assinou um alvará de soltura, mesmo estando preso em Tremembé pela morte da cunhada. 

"Nada obstante a importância da palavra das vítimas nos crimes de estupro, elas não foram confirmadas por outros elementos probatórios. O crime teria sido entre 2009 e 2011, mas só comunicado em 2017. Psicólogos que saberiam dos abusos não foram ouvidos e deixou a autoridade policial de determinar a realização de laudo psicossocial nos ofendidos, fato que certamente acabou fragilizando o conjunto probatório", fundamentou a defesa.

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Como não havia laudos ou exames que comprovassem o abuso sexual em razão do tempo decorrido, o magistrado entendeu que isto "trazia mais incerteza quanto à autoria delitiva". Sandro foi absolvido pelo princípio in dubio pro reo (na dúvida interpreta-se em favor do acusado). 

Bianca foi asfixiada e estuprada por Sandro Dota em 2011 dentro de casa
Bianca foi asfixiada e estuprada por Sandro Dota em 2011 dentro de casa Bianca foi asfixiada e estuprada por Sandro Dota em 2011 dentro de casa

Assassinato de Bianca

Bianca Consoli morreu asfixiada. O medo de morrer e de perder a mulher foram as alegações de Sandro Dota para assassinar a cunhada

Ele revelou que, no dia do crime, foi até a casa de Bianca para tirar satisfações sobre uma suposta agressão dela contra o enteado. Ele, no entanto, pulou o portão e chegou de surpresa. Teria havido então uma luta corporal entre os dois e Bianca morreu “por acidente”.

— Depois que rolamos pela escada, a Bianca correu para a varanda e se ela saísse de lá e gritasse, eu seria linchado. Eu tinha pavor de cadeia, se eu voltasse pra uma eu não ia aguentar. Fiz tudo isso também pra não perder a Daiana, a mulher que eu amava.

Sandro ressaltou também que estava cansado das constantes humilhações que sofria não só de Bianca, mas de toda a família Consoli, que não aceitava o relacionamento dele com Daiana. 

Ele admitiu o assassinato, mas nunca confirmou o estupro da vítima: "Nunca me insinuei para a Bianca. Ela nem fazia o meu tipo". 

Em 2013, Sandro Dota foi condenado a 31 anos de prisão, mas já teve a pena reduzida por duas vezes, chegando a 21 anos e 4 meses de reclusão pelo assassinato e estupro de Bianca. 

A família das vítimas só soube da absolvição de Sandro após contato com a reportagem do R7. Eles não têm advogado, mas afirmam que irão recorrer.

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