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Comandante da Rota afirma que revidou após ouvir tiro e que a missão era colocar o “ambiente em segurança”

Julgamento do Carandiru entra no quarto dia com interrogatório dos réus

São Paulo|Vanessa Beltrão, do R7

Réus começaram a depor nesta sexta-feira
Réus começaram a depor nesta sexta-feira Réus começaram a depor nesta sexta-feira

O segundo réu a falar, na tarde desta sexta-feira (19), no julgamento de 26 policiais militares acusados de participação no episódio conhecido como massacre do Carandiru, em 1992, foi o major Aércio Dornellas Santos. Na época, ele ocupava o posto de comandante do pelotão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) e chegou a entrar no pavilhão nove da antiga Casa de Detenção de São Paulo.

Ele explicou que a função da sua tropa, no dia 2 de outubro, era ocupar o lado esquerdo do segundo pavimento do pavilhão nove.

— A nossa missão era colocar o ambiente em segurança.

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Inicialmente, de acordo com Santos, barricadas, inclusive com fogo, dificultaram a entrada da tropa ao pavilhão. Mesmo assim, no térreo, não teria tido nenhum tipo de resistência por parte de algum detento e o “confronto” teria sido iniciado no segundo pavimento, após a tropa subir as escadas.

Durante o interrogatório, o réu lembrou das condições do corredor no segundo pavimento. Segundo Santos, a energia elétrica havia sido cortada e a sua tropa estava utilizando apenas a iluminação que entrava de fora, por ser ainda dia.

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— [Havia] Muitos presos nos corredores, houve o estampido [barulho de tiro] e a luminosidade e depois o confronto... o senhor consegue visualizar o clarão e revida contra aquilo.

Ao revidar, o major contou que chegou a efetuar de dois a três tiros de revólver e que não tinha certeza se chegou a atingir algum detento. No corredor, ele disse que gritava “vai para dentro da cela”, se dirigindo aos presos.

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"Se nós pararmos para socorrer um, morre a tropa"

Ele também contou que, além dos presos, dois policiais ficaram feridos, inclusive um sargento, que teria sido atingido na cabeça por um disparo de arma de fogo, e que mesmo com as pessoas sendo feridas, a ação não pode parar.

— Se nós pararmos para socorrer um, morre a tropa.

Após ocupado o corredor do segundo pavilhão, o major lembrou que mandou os detentos tirarem as roupas e que depois, junto com o seu grupo de policiais, socorreu os feridos.

— A minha equipe socorreu dois presos e dois policiais.

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Metralhadora

De acordo com o réu, todos da tropa, numa ação dessas de “gerenciamento de crise”, usam armas curtas como revólveres, e que a metralhadora fica sob a responsabilidade do sargento ou do oficial. Nas palavras dele, só foram feitos dois ou três disparos de metralhadora. Segundo Santos, esse tipo de arma só é usada para “emprego de proteção da tropa”.

Para esta sexta-feira, ainda estão previstos o interrogatório de Marco Ricardo Polinato e Marcos Antônio de Medeiros. Antes de Aércio, foi ouvido Ronaldo Ribeiro dos Santos, capitão e comandante da 2ª Companhia da Rota na época do massacre.

Como apenas 24 dos 26 réus compareceram, os outros 20 réus manifestaram ao juiz, um a um, que “seguindo recomendações da advogada e para evitar o cansaço dos jurados”, iriam permanecer em silêncio.

O juiz questionou todos os réus se eles tinham conhecimento da acusação que pesava sobre eles e perguntou se eram inocentes. Todos disseram que sim. Mesmo diante da manifestação de permanecer em silêncio, a promotoria perguntou aos réus se eles não queriam “aproveitar o único momento para falar com os jurados para esclarecer o envolvimento” de cada um deles no dia do massacre do Carandiru.

Após o interrogatório, ocorrerá a fase de debates e, na sequência, os jurados irão se reunir para decidir se os réus são culpados ou inocentes.

Relembre o caso 

O massacre do Carandiru começou após uma discussão entre dois presos dar início a uma rebelião no pavilhão nove. Com a confusão, a tropa de choque da Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, foi chamada para conter a revolta.

Ao todo, 286 policiais militares entraram no complexo penitenciário do Carandiru para conter a rebelião em 1992, desses 84 foram acusados de homicídio. Desde aquela época, cinco morreram e agora restam 79 para serem levados a julgamento.

Até hoje, apenas Ubiratan Guimarães chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, porém um recurso absolveu o réu e ele não chegou a passar um dia na cadeia. Em setembro de 2006, Guimarães foi encontrado morto com um tiro na barriga em seu apartamento nos Jardins. A ex-namorada dele, a advogada Carla Cepollina, foi a julgamento em novembro do ano passado pelo crime e absolvida.

O réu comentou que toda a ação do seu pelotão durou cerca de 25 minutos e que retornou ao batalhão após retirar os feridos. O major disse à época que chegou a ver corpos de detentos nas escadas, quando estava subindo para o segundo pavimento.

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