Insegurança no Brasil faz 8 de cada 10 mulheres evitarem sair à noite ou passar por locais desertos
Dados são de pesquisa do Instituto Patrícia Galvão. Mulheres relatam ações preventivas, como mandar localização por meio do celular
Cidades|Isabelle Amaral, do R7
![Pedestre na ponte Cidade Universitária, em São Paulo](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/4DQMWML6GRMNPKMPEO4LJCYSBQ.jpg?auth=df96d337f014a5a7fb47ca185ab82f12260df3310c41710a797ddab6ce80cf19&width=442&height=240)
Mulheres têm adotado cada vez mais estratégias para não serem vítimas da falta de segurança pública no Brasil. Uma pesquisa sobre percepções e experiências das mulheres quando se deslocam pelas ruas das cidades, feita pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, mostra que pelo menos oito de cada dez delas evitam sair à noite ou passar por locais desertos.
Para a análise, 1.618 mulheres com 18 anos ou mais, que precisam sair de casa ao menos uma vez por semana, foram entrevistadas entre setembro e outubro. A margem de erro é de 2,2 percentuais. A pesquisa teve apoio da Uber.
O estudo mostrou que 94% das entrevistadas evitam passar por locais desertos ou escuros, 89% evitam sair à noite, 86% pedem a alguém que as espere em casa.
![Pesquisa sobre percepção de mulheres ao andar nas ruas revela seus principais medos](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/XNQLUNSNGBJ3ZEACRBB3OGPNWQ.jpg?auth=734424e2bb41f34f64f47243b736d024e015fd679756748a0e9898f29249ab05&width=770&height=999)
Mais mulheres negras (34%) do que não negras (30%) afirmam que já sofreram assalto, furto ou sequestro-relâmpago quando se moviam pela cidade. E a maioria das mulheres negras (56%) foi vítima de racismo quando estava a pé.
Além das medidas citadas, ações como compartilhar a localização por meio do celular e deixar de usar certos tipos de roupa ou acessório para não chamar atenção estão entre as precauções tomadas por mulheres no país.
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Liberdade e mobilidade abaladas
A diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, afirma que "a insegurança na mobilidade impacta a liberdade de mulheres e meninas, restringindo seus movimentos e tirando delas as oportunidades de desfrutarem de seus bairros e de suas cidades".
![Metade das mulheres que declaram terem sido estupradas foram violentadas durante seus deslocamentos](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/EAPJO37QOJJ4PIT46G6DFEMHLI.jpg?auth=4776cd0cf6cc5e3ce28965e56c117caa89d5ab26085fea16f685c0e9760028d8&width=677&height=369)
Jacira cita, ainda, o fato de que muitas delas, por medo, optam por reduzir sua participação na vida pública, seja na escola, no trabalho ou no lazer. Há também a preocupação com o impacto negativo na saúde e no bem-estar.
Ainda segundo o estudo, metade das mulheres que declararam já terem sofrido um estupro quando se moviam pela cidade estavam a pé quando foram violentadas, sendo que houve maior número de relatos de estupro nessa forma de deslocamento por mulheres negras (56%) do que por não negras (43%).
Trauma
Uma estudante de fisioterapia, de 23 anos, que preferiu não se identificar, contou ao R7 o momento traumatizante vivido ao voltar da faculdade, na zona oeste de São Paulo, à noite.
"Eu peguei o ônibus na frente da faculdade e fui para casa. Quando desci, um homem que estava atrás de mim me agarrou e disse que, se eu gritasse, ia me matar. Não paguei para ver. Ele me levou para uma rua escura e, quando estava com a mão dentro da minha blusa, um morador passou e olhou para a gente. Acho que ele ficou com medo e me deixou ir", relata a jovem.
![Veja os fatores que mais preocupam as mulheres em seus deslocamentos](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/FVC4VPWUEFOQDLNTZJZDMHH6RA.jpg?auth=2778a7eaf05559ed9ec308c4b5bcf00b700f5ac859ea26819be8bbaddcf379aa&width=770&height=999)
A estudante afirma que, "apesar de o pior não ter acontecido", a situação a deixou traumatizada. "Fiquei alguns dias sem ir para a faculdade, ao trabalho, só chorava, tinha medo de sair na rua. Fui me recuperando aos poucos, com a ajuda da minha família. Agora que voltei a andar de ônibus, meu irmão me espera no ponto, e eu não fico mais em lugar nenhum na rua sozinha", lamentou.
Para Raquel Gallinati, diretora da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia) do Brasil, o receio das brasileiras ao sair nas ruas da cidade mostra uma "inquietante realidade da segurança pública no país".
"A minha percepção, como mulher e delegada, é de que há urgência na implementação de medidas que garantam a integridade da mulher, promovendo ambientes mais seguros. A segurança geral para mulheres no Brasil ainda enfrenta obstáculos", ressalta.
A especialista cita a necessidade de aprimorar a efetividade das políticas públicas com investimentos em:
• iluminação adequada nas vias;
• policiamento ostensivo e preventivo;
• educação;
• conscientização sobre o respeito à mulher na sociedade.
Além das possíveis soluções para diminuir a sensação de insegurança, Raquel afirma que punições mais eficazes contra homens que cometem esse tipo de violência são "cruciais para reverter esse cenário preocupante".
Mulher carbonizada é mais uma vítima que tinha medida protetiva contra o ex; veja outros casos
A morte da jovem Débora Almeida (no alto à esquerda), que foi carbonizada na última terça-feira (11), em São Paulo, joga luz sobre a violência contra as mulheres e sobre o fato de ela acontecer em alguns casos com vítimas que estão sob medidas protetiv...
A morte da jovem Débora Almeida (no alto à esquerda), que foi carbonizada na última terça-feira (11), em São Paulo, joga luz sobre a violência contra as mulheres e sobre o fato de ela acontecer em alguns casos com vítimas que estão sob medidas protetivas — decisões judiciais que exigem que o potencial agressor mantenha distância, entre outras restrições. Apesar de esse instrumento ser considerado importante para salvar a vida de mulheres que se sentem ameaçadas, recentes assassinatos em que os ex-companheiros são apontados como responsáveis mostram que as precauções tomadas não foram suficientes. Veja alguns casos: