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'É difícil entender ambições de Kim Jong-un', diz desertor norte-coreano

Para Kim Young-il, que fugiu em 1996, mudança de rumos na diplomacia não surpreende e Kim Jong-un 'prioriza somente manutenção de regime'

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Kim Young-il fugiu da Coreia do Norte em 1996
Kim Young-il fugiu da Coreia do Norte em 1996 Kim Young-il fugiu da Coreia do Norte em 1996

O mundo pode até ter sido pego de surpresa pela notícia de que, após semanas de progresso diplomático, a Coreia do Norte cancelou uma reunião com o Sul e colocou em dúvida o futuro encontro com Donald Trump. Mas para Kim Young-il, que fugiu do país mais fechado do mundo em 1996 e hoje dirige, em Seul, a PSCORE — organização que ajuda desertores norte-coreanos —, as intenções de Kim Jong-un sempre foram duvidosas.

Em entrevista ao R7, Young-il diz que o líder jamais se comprometeria com algo que chegasse perto de ameaçar seu poder.

— Eu tenho medo do fato de que Kim Jong-un tenha feito tantas promessas inesperadas. A Coreia do Norte é uma sociedade que está sob o controle de apenas uma pessoa: Kim. E porque ele prioriza somente a manutenção de seu regime, é difícil compreender suas verdadeiras ambições.

'Declaração vaga'

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Kim Young-il decidiu fugir de seu país depois de sofrer com a fome durante anos. Conseguiu escapar para a China e, em 2001, chegou à Coreia do Sul pela fronteira com a Mongólia. Ele diz que Kim Jong-un não o enganou nem mesmo ao anunciar um tratado de paz ao lado do presidente sul-coreano Moon Jae-in no dia 27 de abril.

— O que foi dito na declaração de Panmunjom foi muito vago. O comunicado simplesmente afirmava que as duas Coreias trabalhariam para a desnuclearização. Isso não esclarece nada sobre o que Kim realmente fará.

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O desertor acredita que a Coreia do Norte só aceitou conversar com o Sul por causa da pressão internacional e pelas sanções comerciais e econômicas impostas pelos EUA e pela China.

— Eu aplaudo a disposição do presidente Moon de conversar com o Norte, mas houve diversos fatores que favoreceram o encontro, como a pressão internacional e escalada retórica entre EUA e Kim Jong-un sobre uma possível guerra. Estou bastante certo de que o Norte tem capacidade de esconder uma parte do seu arsenal nuclear. Kim Jong-un também sabe disso, razão pela qual concordou com as negociações.

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Mudança de tom

A recente mudança de tom no discurso de Kim Jong-un se deu após uma série de exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.

"Se os EUA estão tentando nos colocar contra uma parede para forçar nosso abandono nuclear unilateral, não estaremos interessados em tal diálogo e não podemos deixar de reconsiderar nosso procedimento para a cúpula entre Coreia do Norte e EUA", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores norte-coreano, Kim Kye Gwan.

'Kim Jong-un só aceitou reunião com Sul por pressão internacional', diz desertor
'Kim Jong-un só aceitou reunião com Sul por pressão internacional', diz desertor 'Kim Jong-un só aceitou reunião com Sul por pressão internacional', diz desertor

Em resposta, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, ressaltou que os Estados Unidos 'continuam esperançosos' de que reunião com Kim Jong-un aconteça, mas estão preparados para um processo de negociação difícil.

Se a reunião marcada para o dia 12 de junho em Cingapura de fato acontecer, Young-il espera que os líderes discutam especialmente as questões humanitárias.

— Nós havíamos pedido ao presidente Moon que levasse esse assunto para a cúpula intercoreana, sem sucesso. Acredito que uma das soluções para os problemas da Coreia do Norte é abordar suas questões de direitos humanos. Sei que os Estados Unidos são uma nação que valoriza a igualdade, a liberdade e a dignidade humana, portanto, espero que a questão das violações norte-coreanas aos direitos humanos seja levantada.

Perspectivas

Depois de se estabelecer em Seul, Kim Young-il se formou em Estudos Chineses na Universidade Hankuk de Estudos Internacionais. Em 2006, fundou a PSCORE para ajudar conterrâneos na capital sul-coreana a buscar educação e se integrar ao mercado de trabalho.

Em sua opinião, se as recentes conversas sobre a paz na península fossem levadas adiante, a Coreia do Norte poderia viver um período de liberalização e expansão econômica — as chances, entretanto, continuam remotas.

— Até certo ponto, poderia acontecer algum desenvolvimento na infraestrutura norte-coreana. O problema é que o Norte quer controlar todas as facetas de sua economia, explorando trabalhadores e confiscando seus ganhos. Não há proteção para a propriedade individual dos cidadãos e, mesmo que houvesse leis relativas a isso, elas não teriam efeito porque Kim Jong-un se coloca acima da lei.

Para que uma expansão econômica significativa aconteça, a autonomia econômica dos cidadãos deve ser permitida, mas acho improvável que o Norte deixe isso acontecer.

O desertor conclui, por fim, que permanece cético em relação a um eventual processo de reunificação das Coreias.

— Acredito que o único jeito de isso acontecer seria com o colapso total do regime norte-coreano. Coreia do Norte e Coreia do Sul são dois países radicalmente diferentes, com diferentes culturas, economias e políticas. A reunificação não pode ocorrer simplesmente com a combinação dos dois sistemas em um.

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