'Estão colocando' fungos e vírus causadores de câncer na vacina da gripe?
Fala do autointitulado terapeuta naturalista Jaime Bruning está repercutindo na rede, mas não se trata de informação verdadeira
MonitoR7|Do R7
Circula nas redes sociais, especialmente no TikTok, no qual soma mais de 400 mil visualizações, um vídeo do autointitulado terapeuta naturalista Jaime Bruning em que ele afirma que "estão colocando" fungos e vírus causadores de câncer na vacina contra a gripe.
No relato, Bruning diz que estão planejando um "extermínio global" por meio da imunização. Entre os possíveis agentes presentes na vacina, ele cita o mumps (vírus que causa caxumba), HPV (papilomavírus humano), herpesvírus e VSR (vírus sincicial respiratório).
"Dizem eles: 'A vacina é o que há de mais eficaz para matar as pessoas sem elas perceberem, devagar, leva tempo, é uma bomba com efeito retardado, é menos violento do que dar um tiro'. Os pobres, os feios, os velhos vão sendo eliminados aos poucos, eles vão ter câncer, vão ter doenças. Misericórdia! A que ponto nós chegamos?", afirma no vídeo de 5 minutos e 29 segundos.
Segundo Bruning, "o câncer não surge na hora, mas tempos depois — pode levar três anos, dois anos, cinco anos, dez [anos]. Você nem desconfia que foi dessa vacina que tomou".
No entanto, diferentemente do que o naturalista alega, a vacina que combate a influenza (gripe) é composta, principalmente, de diferentes cepas do vírus Myxovirus influenzae inativados (sem capacidade de causar a doença), de acordo com dados do Ministério da Saúde.
O imunizante é atualizado anualmente para conseguir combater os vírus que mais estão circulando.
Lembrando que há três tipos de vírus influenza (A, B e C), mas o influenza A, por exemplo, é classificado em diversos subtipos.
Em 2023, a trivalente — imunizante disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) — usa as seguintes cepas: A/Sydney/5/2021 (H1N1) pdm09, A/Darwin/9/2021 (H3N2) e B/Áustria/02/1359417/2021 (linhagem B/Victoria).
Ou seja, dois subtipos da Influenza A (H1N1 e H3N2) e um da B (Victoria).
Em nota ao R7, o Instituto Butantan, responsável por produzir a vacina da gripe no Brasil, deixa claro que "é errado afirmar que a vacina contra influenza causa câncer, uma vez que não há comprovação científica de que a doença está correlacionada à aplicação de quaisquer imunizantes".
A organização ressalta que todos os produtos desenvolvidos pelo instituto são eficazes e têm segurança comprovada por ensaios clínicos, além de permanecerem sob monitoramento contínuo.
• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
A bula da vacina, com a relação completa da composição, está disponível no informe técnico operacional de vacinação contra a influenza e na bula da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Em nota ao R7, a Anvisa reforça que "todas as vacinas para influenza, gripe, em uso no país foram autorizadas pela Anvisa. Para estas autorizações são avaliadas as linhas de produção das vacinas, seus componentes e forma de obtenção e síntese destes componentes".
Ainda segundo a agência, "a grande maioria dos eventos identificados não é grave, normalmente relacionados a efeitos no local da aplicação, como dor e inchaço, ou eventos de curta duração, como ocorrência de febre, dor de cabeça e indisposição".
O Butantan também deixa claro que há vacinas disponíveis no SUS que agem, na realidade, na prevenção de cânceres causados por vírus, como o HPV — responsável pelo câncer de colo uterino, de pênis, anal e oral.
A imunização contra o papilomavírus humano está disponível para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos.
No vídeo, Bruning ainda diz que há pessoas muito influentes e multimilionárias que incentivam a vacinação em massa para reduzir a população mundial, como o bilionário Bill Gates. Porém, o fundador da Microsoft, que é grande alvo de teorias conspiratórias, não disse isso.
O recorte errôneo de uma fala do magnata na TED2010, um ciclo de palestras organizado pela ONG TED Talks em 2010, foi a origem da teoria.
No vídeo, Gates falava que zerar as emissões de carbono era a melhor maneira de evitar a catástrofe planetária e, para alcançar isso, um dos objetivos seria diminuir de 10% a 15% a taxa de crescimento populacional com investimento em novas vacinas, no sistema de saúde e serviços de planejamento familiar.
A fala, no entanto, foi interpretada (equivocadamente) como se o magnata tivesse o objetivo de diminuir a população mundial, com a morte de milhares de pessoas.
Conheça 7 hábitos que fortalecem o sistema imunológico