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Logística complexa atrasou voo que vai trazer vacinas da Índia

Voo precisa de autorização especial da Anac em função da duração. Carga horária da tripulação e apoio terrestre são desafios

R7 Planalto|Luiz Fara Monteiro, da Record TV

Vista do avião da companhia aérea Azul
Vista do avião da companhia aérea Azul Vista do avião da companhia aérea Azul

O País foi surpreendido nesta quinta-feira, 14, com o adiamento do voo da Azul que, em parceria com o governo federal, irá à Índia buscar dois milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford contra a covid-19. Anunciada para esta noite, a decolagem para a Índia foi adiada em cerca de 24 horas.

Muita gente já tomou uma decisão repentina de viajar de carro e, para isso, bastou encher o tanque e cair na estrada. Ao contrário do que ocorre no transporte terrestre, na aviação não basta ter uma aeronave e uma tripulação disponíveis para alcançar o céu e ganhar o mundo.

A companhia alegou a "questões logísticas internacionais". Entenda abaixo quais são os procedimentos necessários que farão os brasileiros esperarem um pouco mais pele chegada do imunizante.

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Por se tratar de uma rota internacional longa, o plano de voo da Azul deve receber autorização de todos os órgãos de tráfego aéreo por onde sua aeronave irá sobrevoar. Há ainda as taxas administrativas para cruzar esses países, uma espécie de pedágio que as companhias devem pagar antecipadamente em dólar.

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"Vamos lembrar que este não é um voo regular, o que demanda uma logística gigantesca e complexa", ressalta Fernando Pamplona, comandante de linha aérea comercial, hoje aposentado. 

A jornada de trabalho da tripulação é outro fator logístico importante. Entre a decolagem, o tempo de abastecimento e o embarque da carga, a operação deve ultrapassar 30 horas até o início do retorno de Mumbai. O problema é que a legislação brasileira autoriza um máximo de 20 horas de operação. Isso faz com que a companhia aérea dependa de uma autorização especial da Agência Nacional de Aviação Civil para que os pilotos trabalhem mais do que o regulado. A própria partida de Recife tem a ver com esta questão. Se embarcasse em Campinas, onde o avião estava nesta quinta, a tripulação gastaria mais horas de trabalho. Partindo de Recife, o início da jornada é adiado.

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Por se tratar de uma operação de interesse nacional esse trâmite deve ser acelerado. Mesmo assim, a ANAC precisa de tempo para analisar cada detalhe antes de conceder a autorização.

"Sem esta permissão especial, a seguradora não cobrirá a ocorrência e em caso de eventuais incidentes ou acidentes", explica Pamplona. 

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É provável que o voo da Azul conte com pelo menos 4 comandantes e 4 co-pilotos a bordo. Em longas distâncias assim - a previsão é de 15 horas de voo até Mumbai - os profissionais se revezarão nos trechos Recife- Mumbai-Lisboa. Em maio de 2020, um voo da Latam parou em Amsterdã, na Holanda, para a troca de tripulação antes de pousar em Xangai, quando foi à China buscar máscaras, respiradores e outros insumos para a prevenção da Covid-19. Os pilotos não puderam desembarcar em solo chinês, obrigando a companhia a realizar uma logística diferenciada, como é planejada agora pela Azul.

"O voo de volta sobrevoará países do Oriente Médio, o que traz mais procedimentos a serem tomados", diz Pamplona.

Para que o A330neo de matrícula PR-ANX, com a inscrição "Brasil imunizado - somos uma só nação" na fuselagem decole para cumprir sua missão, outros procedimentos são igualmente importantes. O modelo é o que há de mais moderno em termos de equipamento aeronáutico, com consumo menor, motores mais silenciosos e menos poluentes. Há outros 8 desse tipo na frota da companhia.

A lista de providências é extensa. Para que a carga seja embarcada na aeronave ou para o serviço de reabastecimento em Mumbai, a Azul precisa contratar uma empresa de "handling", que irá providenciar esse apoio no país asiático. Os alimentos servidos à tripulação para a volta ao Brasil terão que ser fornecidos por um serviço de cathering, outra providência requerida para a viagem.

No combate à pandemia, a vacina será uma poderosa arma de proteção aos brasileiros. Na aviação, o melhor remédio para viagens seguras é o planejamento. E assim como a produção de uma vacina, o bom planejamento aeronáutico leva algum tempo para decolar.

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