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Mulheres que caíram em fossa podem pegar uma dezena de doenças; saiba quais

Especialista explicou ao R7 as possíveis condições que elas podem desenvolver graças à água contaminada e à presença de ferro e micro-organismos no local

Saúde|Yasmim Santos*, do R7

Mulheres caíram em fossa que funciona como um depósito de esgoto caseiro
Mulheres caíram em fossa que funciona como um depósito de esgoto caseiro Mulheres caíram em fossa que funciona como um depósito de esgoto caseiro

Nos últimos dias, viralizou no TikTok um vídeo que mostra sete mulheres caindo em uma fossa durante uma celebração de aniversário em Alagoinhas, na Bahia. Apesar de elas terem sofrido apenas escoriações leves, o local é um depósito de esgoto caseiro.

A fossa, de quase 3 metros, estava fechada havia um tempo, e a água, que cobriu até a região do busto das mulheres, poderia estar contaminada. A aniversariante, Fernanda Santos, contou ao programa Balanço Geral, da RecordTV, que usava um “vestido branco que ficou marrom” após a queda.

A infectologista da BP — Beneficência Portuguesa de São Paulo — Lina Paola Rodrigues lista as condições que elas podem estar expostas.

Contato com água contaminada

Segundo Lina, as mulheres correm o risco de desenvolver doenças infecciosas pelo contato da pele ferida ou das mucosas — genital ou oral — com a água carregada de bactérias e vírus.

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“Podem contrair diarreia bacteriana, principalmente por bactérias que se chamam bacilos gram-negativos, coliformes e bactérias que são do trato intestinal, das fezes. Podem contrair infecção viral, principalmente hepatite A, cuja transmissão é fecal-oral, pela ingestão de alimentos ou líquidos contaminados com fezes e a presença do vírus da hepatite A", diz a infectologista.

No caso da hepatite A, os sintomas são náuseas, vômitos até uma mês após o contato com a fossa, possível dor abdominal e pele e olhos amarelos, condição chamada de icterícia. 

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Há também a possibilidade de desenvolvimento de infecção por parasitas, como a ascaridíase e a teníase, bem como a cisticercose — causada também por cisto ou ovos dos parasitas citados anteriormente em fezes de pacientes ou animais infectados. 

"Pode contrair outro parasita que se chama ameba, amebíase, e, normalmente, causam quadros diarreicos, com febre, dor no corpo, mal-estar, que pode estar acompanhados de vômitos", relata Lina.

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A especialista acrescenta que elas podem adquirir poliomielite e leptospirose, "que é uma doença bacteriana principalmente ligada à urina infectada com a presença da leptospira [bactéria]. Normalmente, é o rato ou o ser humano que elimina a urina infectada, mas, no caso das fossas, a leptospira pode estar presente". 

A febre tifoide, uma infecção pela bactéria Salmonella que ocorre, em geral, a partir do contato com alimentos ou águas contaminadas por fezes de pacientes infectados com ela, também está nessa lista. Os quadros que acompanham a doença são: febre, dor no corpo, mal-estar, indisposição, diarreia líquida com vômitos e até mesmo disenteria — diarreia com sangue.

As doenças listadas seriam as infecções gastrointestinais pela ingestão ou pelo contato de mucosas com essas bactérias, vírus ou parasitas.

Considerando o contato da pele com a água com bactérias e fungos, podem ocorrer dermatites, que são infecções cutâneas pruriginosas — coçam muito e causam vermelhidão. A condição deve ser tratada com antibióticos.

Contato com ferro

As mulheres disseram que, além da água, a fossa tinha alguns ferros. O contato com esse metal pode acarretar outros malefícios. 

"O ferro, por si só, não teria perigo. Mas, se o paciente sofrer algum ferimento por conta do ferro, com a presença de matéria fecal, pode contrair tétano", alerta a infectologista.

Sendo assim, se uma delas tiver um ferimento, é preciso verificar se o esquema vacinal contra a doença está completo. No entanto, a médica reforça que, independentemente da situação, o ideal é tomar o reforço contra o tétano.

Os ferimentos também podem causar uma infecção bacteriana por bactérias coliformes presentes nas fezes.

Matéria orgânica em decomposição

A matéria orgânica que estava em decomposição naquele lugar fechado, úmido e abafado produz grandes quantidades de gases tóxicos para a saúde que podem ter sido inalados.

"Como elas tiveram um trauma, uma queda, volatilizaram esporos de fungos que podem entrar na via pulmonar e desencadear infecções respiratórias crônicas, como aspergilose pulmonar, histoplasmose ou criptococose", informa Lina.

De acordo com o Manual MSD, a aspergilose pulmonar é uma infecção que costuma afetar o trato respiratório inferior e pode causar necrose hemorrágica e até infarto. A histoplasmose, por sua vez, é caracterizada como uma doença pulmonar e hematogênica (ligada ao sangue), com sintomas de pneumonia, por exemplo.

O texto também explica que a criptococose é uma infecção pulmonar com quadros semelhantes aos da pneumonia e da meningite.

"Os esporos [de transmissão dos fungos] são depositados em grandes quantidades no tecido pulmonar. Eventualmente, semanas depois do contato, o paciente começa com problemas respiratórios, febre, tosse, pode ter falta de ar leve, e o paciente pode tratar e confundir com uma pneumonia comum, mas é uma pneumonia fúngica que não responde a antibióticos comuns, e sim ao uso de antifúngicos específicos", explica a infectologista.

Medidas preventivas

Lina Rodrigues avisa que as mulheres que caíram na fossa devem tomar algumas precauções para evitar o aparecimento ou a piora dessas condições.

"Lavar todas as feridas, todas as mucosas, fazer uma lavagem exaustiva, e retirar as roupas e descartá-las. Essas roupas não podem ser reutilizadas, nem os sapatos. Na verdade, eles precisam ser descartados porque têm uma grande carga de colônias e de fungos. Então, se essa roupa for reutilizada ou lavada, a chance de se contaminar novamente é muito grande", adverte a médica.

Além disso, elas devem verificar se tomaram a vacina contra a hepatite A. Caso não tenham recebido, as duas precisam ter ao menos uma dose do imunizante aplicada. O período de incubação dessa doença é um pouco mais longo e a vacina promoveria uma proteção que impediria a infecção.

"Para a leptospirose, febre tifoide, disenteria, infecções por parasitas, como tênia, cisticercose, as gastroenterites, infelizmente, não há vacinação. O tratamento, caso o paciente comece com quadro clínico de diarreia e vômitos, seria com antibióticos, muito provavelmente na veia, e depois passaria para a via oral", conclui Lina.

* Estagiária do R7 sob supervisão de Carla Canteras

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