Dermatite pode causar depressão e doenças autoimunes, alerta especialista
Pesquisa revela que 50% dos brasileiros não sabem o que é dermatite atópica, mas seis em cada dez entrevistados já apresentaram pelo menos um sintoma da doença
Saúde|Do R7
A DA (dermatite atópica) é uma doença de pele crônica que atinge cerca de 7% da população mundial acima de 12 anos e, além de irritação intensa, coceira e dor, pode causar ansiedade, depressão e aumentar o risco de desenvolvimento de patologias autoimunes.
Em entrevista à agência Efe, o diretor do Centro de Medicina Inflamatória da Universidade de Lübeck, na Alemanha, Diamant Thaçi, destacou que, apesar de ser considerada rara, a prevalência da doença triplicou nos últimos 30 anos, o que é preocupante devido aos prejuízos que ela traz para os pacientes, para os médicos e até mesmo para a economia.
“Pacientes com dermatite atópica têm muita ansiedade e depressão, além de asma e febre alta. Eles não dormem bem, têm menor produtividade no trabalho e problemas de relacionamento com outras pessoas”, disse o pesquisador.
Thaçi também explicou que a DA é uma inflamação que não está relacionada a fatores externos e que deve ser tratada de forma precoce para evitar o aparecimento de outras doenças, como alopecia ou vitiligo.
“O sistema imunológico está constantemente sob pressão e por isso a probabilidade de desenvolver doenças autoimunes é entre três e dez vezes maior em pessoas com dermatite atópica”, detalhou o médico.
“Ao tratar a DA, a pessoa diminui a inflamação, e isso contribui para reduzir a pressão sobre a saúde mental e também sobre outros órgãos, porque o processo inflamatório afeta todo o corpo”, acrescentou Thaçi.
Panorama no Brasil
De acordo com uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha em 2020, 50% dos brasileiros não sabem o que é dermatite atópica, mas seis em cada dez entrevistados já apresentaram pelo menos um sinal ou sintoma da doença crônica e apenas 1% recebeu o diagnóstico.
O estudo encomendado pela companhia americana de biotecnologia AbbVie também revelou que, na presença de até dois sintomas, 69% das pessoas não procuraram um especialista, mas, entre os que buscaram ajuda médica, 40% não receberam nenhum diagnóstico.
Entre os principais sintomas relatados estão coceira (87%), pele seca (86%), irritação e vermelhidão (73%), descamação (55%) e pequenas bolhas que soltam água (37%).
Entre aqueles que afirmaram apresentar três sintomas ou mais, somente 7% tiveram diagnóstico de DA. E, dos que procuraram um médico, 34% não tiveram o quadro identificado e receberam apenas medicação.
Além disso, 51% dos entrevistados ficaram com vergonha de mostrar a pele. Já 46% deles disseram não conseguir dormir direito e 42% tiveram alteração na rotina, enquanto 35% relataram ter sofrido preconceito por causa das lesões na pele.
Entre os médicos no país, 96% deles afirmaram que a pessoa com DA sofre psicologicamente e para 95% a doença diminui a qualidade de vida dos pacientes.
O estudo também mostrou que 55% dos gestores de saúde consideram a DA uma doença grave ou muito grave.
Para 75% desses profissionais, a DA pode ter alto impacto social, e 80% acreditam que é necessário que os pacientes realizem acompanhamento psicológico.
Nesse sentido, Thaçi, que participou de um simpósio sobre imunologia no Rio de Janeiro na semana passada, lembrou que os dermatologistas estão bem treinados para fazer o diagnóstico da DA e que no Brasil há muitas oportunidades de tratamento.
“É muito importante que os pacientes busquem os tratamentos. O problema é que provavelmente eles não prestam muita atenção nos sinais e pensam que é algo mais simples, como uma alergia”, afirmou.
Novos tratamentos e perspectivas para o futuro
O professor da Universidade de Lübeck explicou que a DA foi uma das doenças mais pesquisadas nos últimos anos, o que mudou drasticamente o cenário daqueles pacientes que tentam tratar os sintomas há anos sem obter resultados satisfatórios.
“Só no último ano, várias novas drogas foram aprovadas e há outras sendo testadas para melhorar ainda mais as possibilidades de tratamento no futuro”, destacou.
Para Thaçi, um dos principais avanços é o tratamento com Rinvoq (upadacitinibe), aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em maio e já utilizado na Europa há mais de um ano.
O medicamento, desenvolvido pela AbbVie, é um inibidor oral seletivo e reversível de JAK para o tratamento de dermatite atópica de moderada a grave em pacientes adultos e adolescentes a partir de 12 anos de idade candidatos à terapia sistêmica.
JAK são enzimas intracelulares envolvidas em diversos processos fisiológicos e que funcionam como mensageiros intracelulares, levando informações de fora da célula para o núcleo.
Com base nesse mecanismo, o upadacitinibe atua como um inibidor seletivo e reversível de JAK 1, bloqueando a ação das substâncias envolvidas no processo inflamatório e interrompendo o ciclo da DA desde o início.
De acordo com estudos clínicos de fase 3 em dermatite atópica que incluíram mais de 2.500 pacientes adultos e adolescentes com a doença de moderada a grave, o uso do upadacitinibe apresentou um mínimo de 75% de melhora na área da lesão da dermatite atópica em um período de quatro meses, em comparação com placebo.
“Na Europa, o tratamento está no mercado há mais de um ano para dermatite atópica, e estamos vendo o que aconteceu nos estudos se repetir na vida real”, comemorou o pesquisador, que participou dos ensaios clínicos do novo medicamento.
“Os dermatologistas também estão aprendendo a otimizar o tratamento e a gerenciar os pacientes para que até aqueles mais graves possam silenciar a inflamação e ter uma vida normal”, concluiu Thaçi.
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