Mães investidoras conciliam família com trabalho na Bolsa de Valores
O day trade, trabalho de compra e venda diárias de ativos na Bolsa, exige estudos e preparo emocional, mas pode ser feito de casa
Economia|Giuliana Saringer, do R7
O day trade é um tipo de operação financeira que o investidor compra e vende ativos na bolsa de valores no mesmo dia. Em comemoração ao Dia das Mães, o R7 ouviu duas mães que usam o day trade como maior fonte de renda.
A trader Danielle Adjuto Carneiro teve a primeira filha, Maria Eduarda, com 19 anos e, na época, passava muito tempo longe de casa, já que trabalhava e estudava. “Meu sonho era poder ter autonomia do meu tempo”, afirma.
Danielle trabalhou em um banco e decidiu deixar o mercado convencional para ser gerente financeira do pai. Começou a operar no day trade para ele e, depois, acabou transformando na prática em sua profissão.
“Hoje é um presente, porque é tranquilo de conciliar. É um trabalho como outro, mas você tem mais autonomia do tempo”, explica.
Embora seja como um trabalho como qualquer outro, que exige bastante estudo e dedicação, a rotina como trader faz com que Danielle consiga conciliar o trabalho com outras atividades mais facilmente, como buscar a filha no colégio e participar de reuniões escolares.
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Para Danielle, o day trade exige dedicação diária e estudos constantes. “Tem um ano e dois meses que eu estou operando. Desde então eu nunca parei de estudar e nunca vou parar. É o que faz a diferença”.
Ao acordar, Danielle toma café da manhã e lê notícias para entender a situação do mercado naquele dia. A trader também olha gráficos dos ativos que têm e dos que deseja comprar. Depois do almoço, faz uma nova análise dos ativos.
A trader Anny Maia entrou no universo dos investimentos por meio da renda fixa — que inclui investimentos como CDB e Tesouro Direto — que foi o ponta pé para se interessar mais pelo mercado financeiro. Depois, migrou para os fundos multimercados e chegou nas ações.
Na foto, Anny está com as filhas Marina Pozelli e Carolina Maia, com a afilhada Letícia Pinheiro e o marido, Pedro Maia.
Anny explica que começou a assistir a vídeos no YouTube sobre day trade para aprender mais sobre o universo das ações. No começo, não estava suficientemente preparada e, por isso, perdeu dinheiro. A partir de então, fez cursos presenciais para melhorar sua capacidade como investidora.
“Se você não se preparar, é complicado ter um retorno. Eu não queria perder capital”, explica. Hoje, Anny atua como trader e administra três empresas com o pai. Assim como em qualquer trabalho, Anny determinou horários para operar e precisou de muita disciplina para conseguir viver deste tipo de renda. “Eu viajo, vivo do day trade”, diz.
O especialista em day trade Rodrigo Cohen diz que a modalidade é dividida em experimental, gerenciamento de riscos e técnica. Para se dar bem com a operação, é preciso entender o mercado, estudar, se manter antenado nas notícias, aprender a ler os gráficos e definir metas de ganhos e limites de perda.
Autoconhecimento
O preparo emocional é essencial para que o trader tenha bons resultados nas operações. “O mercado é 80% emocional e 20% racional. A pessoa tem que estar muito bem preparada psicologicamente para que não aja de forma emotiva”, afirma Rodrigo.
Para ele, é importante vencer a falta de disciplina e a ganância. “Qualquer pessoa pode entrar nesse mundo quando ela entende que tem que desenvolver características como qualquer trabalho, como segurança, dedicação, o foco, a humildade”, explica.
Quando se fala no emocional, é preciso quebrar alguns paradigmas como, por exemplo, a maneira como a pessoa vê o dinheiro. “A pessoa precisa mudar as crenças dela, limitantes que fazem com que ela não avance para um patamar maior. Por meio da mudança ela consegue chegar nos resultados”, diz. O importante é não se boicotar durante o processo e se livrar do medo.
Danielle diz que não opera nos dias que está emocionalmente abalada. Para ela, o autoconhecimento é importante para ter bons resultados nas operações. “O conhecimento técnico é muito importante, mas autoconhecimento é que vai direcionar as operações, pois através dele você passa a conhecer seus limites, gaps e resistências. Outro ponto fundamental para o sucesso das operações é o planejamento. Quando você tem gerenciamento de risco, você não é pego de surpresa”, explica.
Para Danielle, o importante é aprender a lidar com o medo, a ganância e todos os sentimentos que podem surgir. “A bolsa é um espaço que você ganha e perde dinheiro, mas não deve ser usado como um cassino como muita gente faz. Você não pode olhar o trade como um jogo. Justamente por isso é essencial saber administrar as emoções para não colocar em risco muitas vezes o patrimônio financeiro construído ao longo de uma vida.”, afirma.
Anny trabalha oito horas por dia, tem um centro operacional montado em casa e afirma que não entra em negociações que vão “tirar o sossego”.
“Eu não preciso perder sossego por causa do mercado financeiro. Eu ponho na mesa o que eu posso. É um trabalho como qualquer outro, que exige uma dedicação imensa. É um trabalho com uma estrutura emocional enorme”, explica Anny.
Para ela, o segredo é “respeitar seus limites e estudar todos os dias”.
Aprendizado diário
Viver completamente do trade é um processo. “As pessoas não viram de um dia para o outro. Faz parte de uma curva de aprendizagem”, diz Cohen. A parte técnica pode ser aprendida por meio de cursos e pesquisas em sites e canais do YouTube especializados no assunto.
Para Cohen, quanto mais preparado, menos o investidor terá medo do “desconhecido”. Ao estudar e saber o que está fazendo, fica mais fácil operar no mercado com mais convicção e segurança.
Cohen diz que para começar a operar no mercado, o ideal é que o investidor tenha R$ 1.000 disponíveis para projeção de moeda e R$ 3.000 para ações.
“Não tem almoço grátis. O brasileiro quer tudo rápido, fácil e muito. Mesmo fazendo day trade ou viver disso, você tem que entender que é uma jornada longa, mas que você vai conseguir”, reforça.