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Violência e venda ilegal de armas se transformam em negócio no Brasil

Estudo mostra que País é o terceiro maior exportador de armas leves

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

País não regulamentou tratado que dá mais transparência
País não regulamentou tratado que dá mais transparência País não regulamentou tratado que dá mais transparência

Enquanto, no Brasil, o tema violência é um dos que mais preocupam a população, fora dele, bombas, do tipo cluster, explodem em fragmentos em regiões paupérrimas do Iêmen, atingindo hospitais, escolas e matando civis inocentes. E quando os peritos analisam os ataques, realizados pela Arábia Saudita, leem a seguinte frase estampada em uma das superfícies, ainda fumegantes, do armamento: Made in Brazil.

A relação desta propaganda negativa no exterior com mortes por violência dentro do Brasil é clara, segundo Ivan Marques, diretor executivo da ONG Sou da Paz.

O Brasil, afinal, é o terceiro maior exportador de armas leves e pequenas no mundo, com 590 milhões de dólares arrecadados em 2014, segundo o estudo “Trade updates 2017 – out of shadows”, da organização Small Arms Survey, divulgado nesta semana. Ao mesmo tempo, é um país cujo comércio deste tipo de armamento é dos menos transparentes (ocupa a 39ª colocação). Marques explica:

— O Brasil é o terceiro maior exportador do mundo, maior da América Latina e exporta, por exemplo, revólveres e pistolas para o Paraguai. Como não precisa dizer (devido a uma lei durante a ditadura militar, em 1972) quanto está sendo exportado, esse material volta como contrabando e não há controle do trânsito dessas armas, o que impede de se saber o número exato de armas no País.

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A pouca transparência, segundo Marques, é causada pelo fato de o País não ter transformado em lei o acordo global TCA (Tratado de Controle de Armas), assinado em 2013. O tratado obrigaria uma maior transparência no comércio de armas brasileiras. A Câmara dos Deputados e o Senado ainda não o regulamentaram. Essa demora de quatro anos tem um motivo, de acordo com o especialista.

— A indústria de armas e de defesa no Brasil é forte. Devido à venda desse tipo de munição, muitos civis e crianças foram atingidos por uma munição brasileira que seria proibida se o Brasil assinasse o tratado.

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Neste caso, ele concorda que a violência, ou a cultura da violência, tem se transformado em um negócio rentável.

— Haveria dificuldade em se manter um comércio que em parte está sendo destinado a países com ditadores que não respeitam direitos humanos. Quanto mais se atrasa, mais obscuro continua sendo o comércio de armas brasileiras. O tratado seria um selo de responsabilidade.

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Fórmula da violência

Negócio este que também está alimentando a violência nas cidades brasileiras, demonstrando que o problema é transnacional e não apenas interno. As armas vão e vêm sem a devida informação e impulsionam a criminalidade, conforme afirma Marques, de Genebra, Suíça, onde participa da 3ª Conferência dos Estados-Partes, aqueles que já ratificaram o acordo global TCA. Entre outras tarefas, a conferência está analisando dados do estudo Trade updates 2017 – out of shadows. Por não ter ratificado o tratado, o Brasil participa apenas como observador, com representantes do Itamaraty e do Ministério da Defesa.

— Recentemente, se descobriu com um traficante no Rio de Janeiro uma arma vendida em uma loja no Arizona, Estados Unidos. Munições americanas e mexicanas, por exemplo, chegam ao País sem a devida informação. E há as brasileiras que vão para países vizinhos e retornam. É necessário dar atenção para o tratado porque esse é um negócio transnacional. Não vamos conseguir dar conta do problema da segurança pública se não olharmos para nosso quintal e para fora dele.

Grande exportador, pouco transparente e relutante em assinar um tratado de controle. Essa fórmula tem contribuído em grande parte para o problema da violência no Brasil. Ter uma indústria forte é legítimo, conforme frisa Marques.

Hospital dos Médicos sem Fronteiras é bombardeado no Iêmen

O que não é legítimo, ele ressalta, é a maneira indiscriminada com que são feitas as vendas. Não é à toa, segundo Marques, que o Brasil tem sofrido pressão nos paineis que circundam a conferência. Muitas nações não querem mais ver um armamento brasileiro chegar às mãos de ditaduras e traficantes por vias tortuosas. Nesta rede, uma morte no Iêmen ou em um morro do Rio de Janeiro, muitas vezes, tem uma mesma origem.

— O objetivo dessa conferência é incluir um maior número de países no tratado e, principalmente, ressaltar a importância do respeito aos direitos humanos, buscando a diminuição do sofrimento humano causado pelo comércio irregular de armas de fogo.

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