É hora de abandonar de vez as palavras politicamente incorretas
Saiba como substituir os termos, palavras e expressões que caíram em desuso ou foram consideradas impróprias com as mudanças de comportamento
Brasil|Eduardo Marini, do R7
O tempo, as descobertas e as mudanças enterram hábitos, costumes, ferramentas e tecnologia. E também palavras. De uma hora para outra, o que era leve e corriqueiro dizer e escrever passa a cair como um tijolo e tornar o ar pesado como se pudesse ser cortado com faca.
Confira, abaixo, uma lista de palavras e termos que caíram em desuso ou passaram a ser condenadas com o fortalecimento do politicamente correto no Brasil e no mundo.
E, na dúvida entre adotar ou não a correção política ao se expressar, livre-se da cilada com a seguinte regra: a simples desconfiança de que uma palavra, termo ou expressão poderá incomodar ou magoar alguém já é motivo suficiente para trocá-los por outra coisa.
Acompanhe:
Judiar, judiação – Usados quando um ser humano ou animal sofre agressão, castigo ou se torna vítima de uma situação negativa. Brasileiros com alguma idade cantaram, ao menos uma vez na vida, a “tamanha judiação” da clássica Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Na origem (doutores no assunto preferem “no sentido etimológico”), significam judaizar e adotar práticas judaicas, definições com cargas de preconceito em relação aos judeus. Prefira maltratar e maltratado.
Preto – Para se referir a alguém pela cor de pele, de jeito nenhum. Use negro. Outros preferem afrodescendente, mas o termo é polêmico até mesmo entre ativistas. Nos Estados Unidos, boa parte dos negros recusa a expressão afro-americano pelo fato de não haver nela referência à cor da pele.
Denegrir ou denigrir – Black is beautiful (Negro é lindo) foi um movimento cultural lançado nos Estados Unidos na década de 1960. Denegrir e denigrir foram para o lixão da história por relacionar o significado desses verbos (tornar negro) à destruição de imagem ou reputação. Mas no BisB não combinamos precisamente o oposto disso? Negro é lindo – e positivo, oh, yes.
Mulato – Caetano Veloso adora. Acha sonoro, vive elogiando. Mas um monte de gente torce o nariz. Fácil entender: o termo mulato, explica o professor Tibúrcio Penaforte, se refere à cor da mula, a fêmea do mulo, um híbrido gerado a partir do cruzamento de asno com égua ou de cavalo com asna. Surgiu na força da escravidão do século 16, quando filhos de pais brancos com mães negras escravas eram relacionados a esses animais de carga. Combinemos, pois: comparar ser humano com outro animal é sempre perigoso. Requer cautela até mesmo em caso de elogio.
Aleijado – Vem de aleijão, ou seja, coisa disforme, pessoa deformada fisicamente e até mesmo monstro. Significados carregados de “sugestões” de atitudes como separação e isolamento da parte “normal” da sociedade. Não é o melhor caminho. Use pessoa com deficiência, cadeirante, deficiente.
Perneta e maneta – Esses nem pensar – e sem necessidade de explicar porque, não é mesmo? O mesmo vale para mongoloide, débil mental, louco, retardado: jogue tudo fora a favor de deficiente intelectual.
Coitado – O mesmo que infeliz, vítima de sofrimento. A humorista Gorete Milagres popularizou o “oh, coitado” no País, anos atrás, com graça e talento. Mesmo assim, há quem não goste de ser coitadinho e, muito menos, de ouvir o termo. E tudo isso por uma confusão: acreditam, equivocadamente, que a palavra veio de coito, cópula, ato sexual, quando, a rigor, ela deriva do verbo coitar, que significa magoar.
Homossexualismo – Jamais – a palavra, evidentemente. Assim, com o peso do sufixo "ismo", é quase como caracterizar como doença. Apague das lembranças, rabisque no caderninho. Se ainda não trocou, substitua neste segundo por homossexualidade. O mesmo vale para viado, queima, bicha e afins: use gay ou homossexual.
Opção sexual – Troque por orientação sexual. Nessa questão, estudos, pesquisa e especialistas atestam: a pessoa não escolhe nem tampouco opta. Ela é.
Aidético – Nunca, igualmente. O termo possui uma carga que torna o ar pesado. Há a sensação geral de que sugere repulsa e isolamento da pessoa em questão. Agora é soropositivo.
Portador do HIV ou de deficiência – Não chega a ser agressivo, mas os envolvidos não acham preciso. Portar significa levar algo possível de ser retirado do contato com o corpo quando se quer. Celular, pochete (voltou à moda?), relógio, cordão. Ninguém porta deficiência, vírus e bactéria e, na volta para casa, deixa de portar. Prefira soropositivo, deficiente ou com deficiência.
Prostituta – Certamente soará preconceituoso em alguns grupos. Opte por profissional do sexo ou garota de programa.
Mãe solteira – Feio. Praticamente ninguém usa a expressão “pai solteiro” ao contar para alguém que aquele moleque que mais parece irmão mais velho do pequeno é, na verdade, o papaizão da criança. Então esqueçamos para as moças. Fica parecendo que se acha que elas, ao contrário deles, fizeram “alguma coisa errada” antes da hora – no caso, a do casamento.
Mendigo – Muitos ainda não veem problema no uso do termo, mas a militância da causa o abandonou par adotar pessoa em situação de rua ou de abandono.
Drogado – Evite o termo e, de preferência, também seus “irmãos” drogadito e viciado. A partir de agora, usuário de droga ou dependente químico.
Grupo de risco – O correto é comportamento de risco ou vulnerável. Por um fato mero: qualquer um pode se expor ao risco de contrair o vírus. Basta fazer sexo com desconhecido sem camisinha. Grupo de risco insinua, para muitos, a criação de “setores” de pessoas punidas pelo destino — e as doenças — por se comportarem de forma condenável.
Favela – Romário — ex-favelado ou ex-comunitário — adora. Alguns moradores, poetas, músicos, atores culturais nostálgicos também. Mas o grosso do ativismo prefere comunidade.
Anão – Muitos usam o termo para falar sobre anão com todos, menos com um anão. Para fugir das ciladas, adotemos pessoa com nanismo.
Baianada – Usado por parte da sociedade em vários pontos do País — com a óbvia exceção da Bahia — como sinônimo de coisa ou manobra ruim, errada, mal feita. “Cagada”. Certos setores em São Paulo adotam a cariocada como uma espécie de baianada light. Nada mais condenável. Delete da vida e adote o que é de fato: ruim, errado, equivocado, e por aí vai.