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‘Foi calculado’, diz pai de mulher atropelada por advogado no DF

Em entrevista ao R7, o aposentado Luiz Sérgio Machado, 65 anos, falou sobre a recuperação da filha e a agressão sofrida

Brasília|Luiz Calcagno, do R7, em Brasília

O crime foi filmado pelo circuito de câmeras da casa da vítima
O crime foi filmado pelo circuito de câmeras da casa da vítima O crime foi filmado pelo circuito de câmeras da casa da vítima

“Já vi muita tragédia, tristeza, sei que as pessoas fazem coisas inesperadas. Mas foi tão calculado. Ele parou, pensou, refletiu, não teve meio termo.” É assim que o aposentado Luiz Sérgio Machado, 65 anos, recorda-se do atropelamento da filha, a servidora pública Tatiana Thelecildes Fernandes Machado Matsunaga, 40 anos.

Ela foi perseguida por vários quilômetros e atropelada em frente à própria casa, no Lago Sul, depois de uma discussão no trânsito, na manhã de 25 de agosto. O filho mais velho da vítima, de 8 anos, estava no carro e presenciou o crime. O agressor, Paulo Ricardo Moraes Milhomem, fugiu sem prestar socorro e só se entregou à polícia horas depois.

Luiz Sérgio conversou com o R7 por telefone no início da noite desta sexta-feira (10). Ele falou sobre o lento processo de recuperação de Tatiana, sobre os netos e sobre o acidente que arrasou a família e chocou o Distrito Federal. O contato com o pai de Tatiana foi feito, inicialmente, por Whatsapp. O entrevistado visualizou as mensagens e levou alguns minutos para responder. Questionado sobre a possibilidade de falar por telefone, foi objetivo. “Sim”. Ao atender a ligação, pediu alguns segundos para se afastar da filha, pois a acompanhava na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Brasília, onde ela está internada.

O homem reveza com o filho as horas ao lado de Tatiana. De 14h30 às 9h do dia seguinte, um dos parentes está ao lado dele, chama seu nome, estimula respostas. Depois de passar por seis cirurgias, duas na cabeça devido ao traumatismo craniano severo que ela sofreu, ontem, Tatiana abriu os olhos pela primeira vez. “Apesar da tristeza de ela estar neste estado, estamos encontrando uma luz para que ela possa se recuperar. Ela não olha pra gente. É um olhar meio perdido. Ela está presente, mas não está interagindo. Ela pisca, olha para os lados. Mas é um olhar meio vago”, relatou o pai.

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Após 16 dias inconsciente, o pequeno movimento foi comemorado como uma grande vitória. Ela abriu os olhos após passar por uma traqueostomia para retirada do tubo da ventilação mecânica da traqueia. A sonda alimentar também foi ligada direto ao estômago de Tatiana, liberando as vias orais.

“Agora, toda a família está mais que empolgada. Os amigos, quando foi noticiado, o pessoal vibrou. É o início de um passo importante para a recuperação dela. Não adiantava nada ficar com o tubo e ela não acordar. Estamos fazendo todos os procedimentos para facilitar a vida dela. A alimentação agora é direto para o estômago. Não vai ter mais o tubo pela boca. Isso facilita”, contou.

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A falta da mãe

O estado de saúde de Tatiana ainda é grave e não há prazo para que deixe a UTI. Além do filho de 8, ela tem um de 3 anos. A família decidiu que o marido, Cláudio Matsunaga, de 40 anos, vai se dedicar às crianças e fará visitas breves à esposa. O esquema serve para que os pequenos se sintam seguros apesar da ausência da mãe. Eles também não querem que os meninos a vejam por enquanto. Cláudio presenciou o momento em que Milhomem atropelou a mulher. Ele tinha saído de casa ao escutar a discussão entre a vítima e o agressor e estava ao lado do carro quando o motorista avançou.

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Luiz Sérgio explica que o genro “virou pai e mãe da noite para o dia”. “Ele está se virando, fazendo o possível e impossível. A família dá o suporte. Nós conversamos e ele entendeu que a prioridade são as crianças. No hospital, ela está sendo cuidada, está ali, e estamos presentes. O irmão dela vem. Praticamente moramos aqui. Só saímos daqui para tomar banho, trocar a roupa e voltar. Chego às 14 horas, só saímos às 9 horas da manhã”, destacou. 

“O filho maior, de 8 anos, presenciou tudo. O menor não. O maior sabe que a mãe está machucada, no hospital. Mas não vai ser trazido aqui tão cedo. E o menor, nem pensar. Ele (Cláudio) tem que dar o suporte. As crianças têm que se sentir seguras. A mãe não está presente”, completou o avô.

O acidente

Foi nesse momento da conversa que Luiz Sérgio comentou o acidente. O crime foi registrado pelos circuitos de segurança da casa da vítima. Nas imagens, é possível ver que Milhomem avança com o carro, atinge Tatiana para, em seguida, fugir passando por cima do corpo da mulher.

“Não existe nenhuma explicação. Não é porque é nossa filha. Se ela estivesse errada, a gente diria. Foi um bate-boca, ele a segue por quilômetros, ele vai atrás da minha filha que está com uma criança dentro do carro, para na frente da casa dela, ele faz a volta no conjunto, volta, para, mira e passa com o carro em cima”, recordou. As imagens são fortes.

“Minha filha ainda bota a mão no capô para tentar parar o carro. É surreal. Já vi muita tragédia, tristeza, sei que as pessoas fazem coisas inesperadas. Mas foi tão calculado. Ele parou, pensou, refletiu, não teve meio termo”, desabafou. Para ele, a partir do momento em que Milhomem a perseguiu e um desentendimento pontual se transformou em uma tentativa de homicídio qualificada, é difícil falar que o agressor agiu no calor das emoções.

“Duas pessoas brigam na rua por causa de um namorado, ou namorada, tem emoção envolvida, às vezes, bebida. Minha filha não teve nada disso. Minha filha dirige muito bem. Ela dá aula em muito marmanjo. Ele deve ter seguido e não conseguiu fazer o que queria. Ela conseguiu se desvencilhar dele. Só que ela foi pra casa. Da [QI] 19 para a 29, é uma distância”, supôs. Pela Estrada Parque Dom Bosco, o trajeto apontado por Luiz Sérgio como o sendo o da perseguição tem 9,5 km.

A recuperação

O pai sabe que a recuperação da filha será longa. Por enquanto, parentes vivem um misto de alegria, com a reação de Tatiana, e de tristeza com o estado de saúde dela. “Queremos encontrar um pouco de força nas pequenas reações positivas dela. Hoje é um olhar. Ela está enfrentando. E ainda vai ter um longo caminho. Os ligamentos da perna esquerda vão ter que ser refeitos. Ela vai ter que fazer uma prótese craniana. Ela está enfrentando”, afirma Luiz Sérgio com esperança na voz.

Questionado sobre o que os médicos dizem e o que a família espera, o homem chama parte da responsabilidade da recuperação para os que a acompanham e pede orações. “As palavras dos médicos são ‘tem que esperar’. É o tempo dela. Eu agradeço ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e aos Bombeiros, que chegaram muito rapidamente na casa da minha filha. O hospital é referência em trauma. Se não tivesse essa sequência de favorecimentos, ela não estaria viva", disse.

"Agora, temos que incentivar, chamar por ela, medir sinais. E esperar o tempo dela. A gente sabe que vai ser um caminho longo”, admitiu o pai. “Peço orações, preces, pedidos de recuperação que ela precisa. Tem uma longa jornada pela frente e ela ainda corre riscos.”

Arrependimento

O R7 procurou o advogado de Milhomem, Leonardo de Carvalho e Silva. Por Whatsapp, ele afirmou que o cliente sempre pergunta pelo estado de saúde da mulher. “Sobre o estado da doutora Tatiana Matsunaga, todos torcemos pela melhora da advogada, sendo que o Paulo Ricardo sempre pergunta sobre o estado de saúde dela e tem muito arrependimento de ter discutido no trânsito e ter causado ferimentos na senhora Tatiana”, disse.

Ainda de acordo com Leonardo, Milhomem não teve a intenção de atropelar Tatiana. “Nas palavras dele (Milhomem): ‘não há um único dia em que eu não me arrependo do que aconteceu’, e continua, ‘matar a Tatiana jamais passou pela minha cabeça. Fiquei surpreso com a denúncia que disse que eu tentei matar a advogada’”, escreveu o defensor.

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciou Milhomem à Justiça por tentativa de homicídio qualificada por motivo fútil e com recurso que torna impossível a defesa da vítima. Na última quinta (9), a 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) negou, pela quarta vez, um pedido de habeas corpus da defesa do agressor.

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