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Senado aprova voto de solidariedade a estudantes vítimas de racismo no DF

Alunos da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima foram chamados de “filhos da empregada” e “macacos” durante futsal

Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

Ministério Público também investiga caso (Toninho Tavares/Agência Brasília./Toninho Tavares/Agência Brasília.)

O Senado aprovou um voto de solidariedade aos alunos da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima, vítimas de insultos raciais durante uma partida de futsal contra o Colégio Galoís. O caso aconteceu em 3 de abril, durante a Liga das Escolas, quando os estudantes do Galoís teriam chamado a equipe rival de “macaco”, “filhos da empregada” e “pobrinhos”.

A iniciativa foi liderada pela senadora Leila Barros (PDT-DF), que destacou a urgência de as escolas e instituições de ensino implantarem programas e ações contínuas de promoção da igualdade e de combate ao racismo.

“Devemos garantir que este episódio se torne um ponto de virada, um momento de aprendizado coletivo. Não podemos ficar de braços cruzados diante de episódios tão vergonhosos. É necessário que as escolas, os pais e as entidades educacionais repensem urgentemente seus papéis na formação das crianças para exercerem a cidadania”, disse a parlamentar.

Leila alertou os senadores para possíveis falhas sistêmicas na abordagem do racismo dentro do ambiente escolar, mais especificamente na aplicação da Lei 10.639, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas.

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“É essencial que sejam tomadas medidas concretas para investigar as alegações, responsabilizar os envolvidos e implementar políticas e programas que promovam a diversidade, a equidade e a educação antirracista dentro da instituição em questão e nas escolas brasileiras em todo país”, disse.

Investigação do Ministério Público

Depois do ocorrido, o Ministério Público do Distrito Federal instaurou uma Notícia de Fato para esclarecer o incidente e apurar as responsabilidades dos envolvidos. O Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do MPDFT agendou reuniões com representantes dos dois colégios e com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal.

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Em nota, a promotora de justiça Polyanna Silvares, coordenadora do núcleo, destacou a importância que todas as escolas do DF fiquem atentas ao acontecimento e promovam ações de prevenção e enfrentamento de discriminações, integrando toda a comunidade escolar no debate.

O Ministério do Esporte também se manifestou sobre o caso. Em nota publicada pela pasta no fim de semana, o Ministério disse que tomou conhecimento do episódio “com indignação e tristeza”. “Relatos de insultos racistas direcionados a jovens atletas, com a utilização de termos discriminatórios, são profundamente perturbadores e contrários aos valores de igualdade, respeito e diversidade que defendemos”.

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“Diante de tais atos, manifestamos nosso veemente repúdio. É inaceitável que episódios de discriminação racial persistam em nossa sociedade, especialmente em um ambiente tão importante para o desenvolvimento social e pessoal como o esporte escolar. O esporte educacional, além de formar atletas, deve formar cidadãos. É também uma ferramenta poderosa para transmitir valores como respeito, solidariedade, trabalho em equipe e jogo limpo”, diz o texto.

A pasta também expressou solidariedade aos estudantes e suas famílias. “Reforçamos nosso compromisso em trabalhar incansavelmente para erradicar o racismo e todas as formas de discriminação do esporte e da sociedade. Não pouparemos esforços nessa luta”, afirma.

Entenda o caso

A diretora da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima, Inês Alves Lourenço, explicou ao R7 que a turma tinha ido para a competição de futsal dentro do ginásio do Galoís. “Não tínhamos torcida, mas os outros estudantes atacaram o time com musiquinhas, dizendo que a tua mãe lava a louça e a roupa da minha casa. Eles batiam no peito imitando macacos. Foi horrível. Nossos alunos ficaram muito abalados”, disse a diretora, Inês Alves Lourenço.

“O que queremos não é a punição, porque nosso papel é educar os alunos. Estamos atrás de respeito, de educar essa juventude, sem discriminação. A escola é um lugar de princípios e de valores.”

A Escola Franciscana disse em nota publicada sobre o ocorrido que, “embora tivessem diversos responsáveis no local, nenhuma providência efetiva e adequada foi adotada pelos prepostos do Colégio Galoís, que estavam presentes nas instalações do ginásio”.

“Importante destacar que os alunos ‘agressores’ encontravam em sua maioria uniformizados, ou seja, estavam sob a guarda e responsabilidade do Colégio Galoís, que, neste caso, mostrou-se conivente com a situação humilhante e vexatória vivida pelos alunos da Escola Fátima.”

“Investigação interna”

Em resposta ao ocorrido, a direção do Colégio Galoís disse que tomou conhecimento dos fatos com extrema preocupação. “Entendemos que os atos ali [nota de repúdio] expostos são de extrema seriedade e que necessitam de uma intervenção imediata por parte do colégio. Primeiramente, queremos reafirmar que os valores que nos guiam refutam veementemente qualquer forma de comportamento preconceituoso. Nossos pilares se baseiam no respeito à diversidade e na promoção da inclusão.”

A escola afirma que iniciou uma “investigação interna rigorosa” e que está comprometida “em não apenas a identificar os envolvidos, mas também a aplicar medidas disciplinares e ampliar, ainda mais, ações educativas necessárias pertinentes”.

“Como educadores, acreditamos que a educação é ferramenta poderosa de transformação social e deve ser utilizada para construir pontes de entendimento e respeito mútuo entre todos, sobretudo, entre jovens. Solidarizamo-nos profundamente com os alunos e a comunidade da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima que se sentiram ofendidos e magoados. Entendemos que o ocorrido não só afetou esses alunos, mas também manchou o espírito de amizade e respeito que deve prevalecer em eventos educacionais e esportivos”, finaliza.

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