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Veja o que Ronnie Lessa disse em delação do caso Marielle

Apontados como mandantes do assassinato da vereadora, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram presos em março

Brasília|Gabriela Coelho e Ana Isabel Mansur, do R7 em Brasília


Prisão de Ronnie Lessa
Prisão de Ronnie Lessa Reprodução/RecordTV

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta sexta-feira (7) a transferência de Ronnie Lessa da penitenciária federal de Campo Grande para o presídio de Tremembé, em São Paulo. Além disso, o ministro tirou o sigilo da delação do ex-policial em que ele diz que se encontrou três vezes com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão para tratar do assassinado da ex-vereadora Marielle Franco. Segundo Lessa, as reuniões duravam cerca de uma hora.

O último encontro foi em abril, depois do assassinato, antes de o ex-PM ser baleado. Os suspeitos estavam preocupados com a repercussão do caso. Lessa diz que eles foram tranquilizados pelos irmãos Brazão que afirmaram que podiam contar com a atuação de Rivaldo Barbosa, delegado que à época do crime chefiava a Polícia Civil do Rio de Janeiro.

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“Nesse encontro nosso, foi assim, uma coisa já mais tensa, a coisa já estava tensa e já tinha saído do controle, a divulgação estratosférica, ninguém esperava aquilo. A situação [da última reunião] era saber qual o procedimento, o que se faz agora, pois todo mundo ficou tenso. Então eles [irmãos Brazão] tranquilizaram a gente o tempo todo, falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria, de qualquer forma, que resolver isso, porque já tinha recebido para isso no ano anterior. [...] Deu para ficar bem explícito que ele [Rivaldo] recebeu antes do crime para traçar essas diretrizes”, destacou Lessa.

A citação de Chiquinho Brazão foi o que motivou o deslocamento do caso do STJ (Superior Tribunal de Justiça) para o Supremo Tribunal Federal, visto que o parlamentar tem direito a foro privilegiado.

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Irmãos Brazão presos

Apontados como mandantes do assassinato da vereadora, os irmãos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram presos em março em uma operação da Polícia Federal, com participação da Procuradoria-Geral da República e do Ministério Público do Rio de Janeiro.

Lessa disse ainda que Marielle era uma “pedra no caminho” dos irmãos Brazão. “Foi feita a proposta, a Marielle foi colocada como uma pedra no caminho. O Domingos, por exemplo, não tem ‘papas na língua’”, afirmou Lessa aos investigadores. Além disso, de acordo com o policial, estavam tentando encontrar a vereadora Marielle Franco desde setembro de 2017. Ela foi assassinada em 14 de março de 2018 juntamente com o motorista, Anderson Gomes.

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Também na delação, Lessa afirmou que o endereço da vereadora era em uma área de difícil acesso com policiais andando na calçada. “Era um lugar difícil de monitorar; e o prédio em si, é um prédio que não dispõe de estacionamento, ou seja, a pessoa que mora naquele prédio não tem como guardar o carro ali, ou ela tem um carro guardado em uma garagem ou estacionamento qualquer longe dali, ou não tem carro; então isso acabou tornando a coisa um pouco difícil; se tornou difícil porque não dava para parar, o único lugar que poderia parar tinha um policial parado de serviço; era um lugar que não tinha como monitorar para saber se o carro dela estava dentro porque não tem garagem e também não sabia se ela tinha carro”, disse.

“O Domingos falava mais e o Chiquinho concorda. É uma dupla, um fala mais e o outro só concorda”, destacou. Os irmãos estão presos desde março por suspeita de envolvimento no assassinato da vereadora.

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Terrenos em áreas de milícias

“O que deu pra entender é o seguinte: a Marielle vai atrapalhar e nós vamos seguir isso aí, e, para isso, ela tem que sair do caminho”, destacou Lessa. Marielle e Chiquinho Brazão, que à época do crime também era vereador, discordavam em relação a um projeto de lei que regularia terrenos em áreas de milícias. A intenção dos irmãos era lucrar com a venda de dois loteamentos. Uma parcela seria de Chiquinho e Domingos e a outra metade seria de Lessa, como pagamento pelo crime.

“O que eu posso dizer é que eu ouvi da boca do próprio Domingos e acordado com o próprio irmão [...] ele deixou bem claro que o loteamento ia seguir. Era muito dinheiro envolvido, na época ele falou em R$ 100 milhões, R$ 150 milhões. Realmente, as contas batem: R$ 100 milhões o lucro dos dois loteamentos, são quinhentos lotes de cada lado, é uma coisa grande, são ruas, na verdade, é um mini bairro, é uma coisa gigantesca. Então a gente tá falando de muita grana”, afirmou o ex-PM aos investigadores. Se Lessa receberia metade dos loteamentos, o lucro do suspeito ficaria na casa de R$ 50 milhões.

“A questão é, a princípio, terrenos, a questão que ela [Marielle] disse que combateria seriam terrenos em loteamentos ilegais, e de alguma forma ele [Domingos] deixou transparecer que, principalmente, se fosse os deles”, completou.

Morte de Anderson Gomes não estava nos planos

Lessa disse que matar o motorista da vereadora Marielle Franco, Anderson Gomes, não era a finalidade. “Um garçom mostrou as fotos pra gente, aí que descobrimos que tinha mais uma pessoa morta; até então não se sabia, falou que mataram duas pessoas... aí na verdade a ficha nem caiu direito; eu falei onde, ele disse no centro... duas pessoas? Aí vi nas fotos que o motorista estava morto; não era a finalidade também; então; ali nós ficamos sabendo que tinha duas pessoas mortas, e a coisa ficou mais tensa ainda; começamos a beber mais um pouquinho, o jogo acabou e as pessoas se dispersaram”, disse.

Ronnie Lessa disse ainda que o plano era matar a vereadora no local onde ela estava, antes de entrar no carro. Entretanto, ele lembrou que a rua era na esquina da Polícia Civil. “Então aqui não, de jeito nenhum, e preferimos deixar no caminho, para onde tivesse oportunidade”.

‘Rivaldo é nosso’

Em uma das reuniões anteriores ao assassinato de Marielle, Domingos afirmou que “Rivaldo é nosso”, conforme a delação premiada do ex-PM. “Ele [Domingos Brazão] disse que a DH [Delegacia de Homicídios] ‘tava na mão’, que a DH estaria já acertada. Nessa ocasião, o Macalé [que dirigia o carro quando Lessa supostamente efetuou os disparos que mataram Marielle] falou ‘pô, padrinho, se eu soubesse que o senhor tinha esse contato eu não teria nem sido preso’. Em 2014, 2015, ele foi acusado de um homicídio. A resposta do Domingos: ‘pô, você não se comunica, o Rivaldo é nosso’. Então ele [Rivaldo] é a ‘carta branca’, sem ele ninguém faz nada. Ele [Domingos] deixou bem claro que, quando ele falava que a Polícia Civil estava na mão, ele falava de Rivaldo Barbosa, ele não falava de outro delegado, nem de inspetor, nem de ninguém, ele falava exclusivamente de Rivaldo Barbosa”, completou Lessa.

O que diz a defesa

Em nota, a defesa de Domingos Brazão informou que as declarações são “mentirosas e não têm amparo em qualquer prova”.

“Não se tem prova dos encontros, não se tem prova de contato entre o intermediário e os Brazão, não tem prova de que houve a entrega de arma. Também não se tem prova de que existiria um projeto ou intenção de instalação de um condomínio. É apenas uma narrativa, sem comprovação”, diz o texto.

Os advogados de Rivaldo Barbosa afirmaram que Lessa mentiu “deliberadamente” na delação. “A disponibilização veio tardiamente, mas ainda em tempo para que todos possam ver como Ronnie Lessa mentiu deliberadamente. Pior, recebeu um prêmio antes do final da corrida”, informou a nota.

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