Lojas como a Shein machucam, mas não matam o varejo brasileiro, dizem economistas
Gigantes varejistas asiáticas ganham muito espaço no comércio pela internet, mas presença física ainda é fundamental
Economia|Vinicius Primazzi, do R7*
Gigantes do varejo asiático ganham cada vez mais espaço no comércio brasileiro com preços baixos e fretes cada vez mais ágeis.
É o caso da Shein, empresa chinesa que vende os mais diversos produtos dentro da plataforma, e a preços tão baixos que gera preocupação em empresas nacionais concorrentes.
Roberto Kamper, professor de MBA de gestão comercial e marketing da FGV e diretor da Canal Vertical, explica que a fabricação dos produtos acontece na China, onde provavelmente as condições de trabalho não são ideais.
“Essas corporações produzem no interior da China, onde não pagam salários e direitos como aqui. A relação do chinês com o trabalho é assim, não tem feriado, férias e nem final de semana. É só trabalho, trabalho e trabalho, a cadeia é baseada nisso”, diz o especialista.
Além da mão de obra, a matéria-prima também é muito barata, sobretudo pela facilidade que têm as empresas chinesas em conseguir materiais mais baratos e melhores condições de negociações.
Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo, explica que por serem muito grandes, as empresas conseguem negociar a compra de matéria-prima a baixíssimos custos, devido à larga escala que demandam. Isso faz com que a produção fique mais barata desde o início da operação e, claro, facilite para as gigantes chinesas.
“Por mais barato que seja para os fabricantes estrangeiros que produzem na China, é mais caro do que para a empresa chinesa por si só, pelas condições que conseguem”, explica Kamper.
Ele acrescenta que é possível que haja uma espécie de subsídio do governo chinês para esse tipo de corporação, ainda que de forma não oficial. “Pode acontecer de forma oficiosa”, diz ele.
A grande questão é o impacto disso no varejo nacional, sobretudo nas empresas brasileiras que têm dificuldade em produzir a tão baixo custo e concorre com as estrangeiras nesse aspecto.
Roberto Kamper avalia que o incômodo existe, mas vê vantagens e condições boas para as lojas varejistas consolidadas no mercado nacional.
A começar pela presença física, que considera essencial para esse tipo de negócio, ele avalia que somente os preços baixos não são suficientes para sustentar uma substituição do varejo brasileiro pelo chinês.
“Esses negócios baseados em preços baratos demais tem uma tendência de não serem sustentáveis e, como o digital tem uma estrutura de custos diferentes, eles ganham facilidade. Incomoda, mas nem tanto”, avalia.
O setor de moda também tem suas peculiaridades que são mais difíceis de serem compreendidas por empresas que não estejam instaladas no Brasil e não têm uma operação específica para o país.
Sobretudo na moda feminina, que responde por 70% das vendas, é fundamental que a fornecedora entenda o estilo, organização e conhecimento do consumidor brasileiro.
Ainda que ele esteja conectado a tendências mundiais, a moda nacional é diferente e tem uma série de questões que o varejo brasileiro entende melhor que o estrangeiro.
De todo modo, a concorrência existe e preocupa, mas também pode servir de motivação para o empresariado brasileiro aprimorar os negócios, buscar novas formas de renda e organização.
“Trabalhando bem a concorrência, ela passa a ser muito saudável. Isso pode impulsionar um empresário a procurar melhorias, encontrar outras formas de fazer negócio, buscar fornecedor, alterar a cadeia de produção, uma série de coisas positivas”, avalia Kamper.
O economista diz que o varejo chinês não acabará com o brasileiro, mas alguma empresa mal posicionada, ou desatualizada pode perder bastante espaço. “Machuca, mas não mata”, conclui.
Em nota, a Shein disse que “está comprometida em manter altos padrões de trabalho em toda a nossa cadeia de fornecimento. Aplicamos um Código de Conduta rigoroso para todos os fornecedores, que está em conformidade com as leis trabalhistas locais. Como um grande varejista eletrônico global, sabemos que temos um papel importante a desempenhar no apoio às comunidades onde trabalhamos, adquirimos e vivemos, e o planeta que todos compartilhamos”.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Lúcia Vinhas.