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Número de investidores na Bolsa ultrapassa o de presidiários no país

Segundo dados da B3 (antiga Bovespa), 1,4 milhão de brasileiros tinham ações em setembro, enquanto que a população carcerária chegou a 812.564 presos

Economia|Marcos Rogério Lopes, do R7

Brasil tem resistência a fundos de renda variáveis
Brasil tem resistência a fundos de renda variáveis AYRTON VIGNOLA/AE

Os brasileiros estão mais confiantes na hora de investir. O número de pessoas com ações na Bolsa de Valores bateu recorde e passou de 1,4 milhão em setembro de 2019. A soma supera a marca da população carcerária no Brasil, que é de 812.564 presidiários.

Ente 2010 a 2017, o índice da Bolsa ficava entre 500 e 600 mil investidores. Em dezembro de 2018, com o aumento da confiança com o novo governo, o mercado chegou a 813 mil investidores. Em junho deste ano o número era de 680 mil. Os dados são da B3, antiga Bovespa.

Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a queda na taxa básica de juros, determinada pelo governo federal, empurrou para baixo os rendimentos das aplicações com renda fixa e abriu espaço para investimentos na Bolsa. E isso justifica a elevação recente.

“Todas as vezes que você tem uma economia relativamente estabilizada, com a remuneração baixa para renda fixa, há uma tendência natural de as pessoas buscarem rentabilidade com risco maior, como é o mercado de ações.”


Também é recorde o valor total do que foi investido por pessoas físicas em setembro: R$ 284,21 bilhões — em junho, eram R$ 177,85 bi. 

Ricardo Teixeira vê como excelente a busca crescente pela Bolsa. “As pessoas estão investindo em empresas, acreditando no crescimento da economia, e essa é uma notícia que só tem lado positivo”, afirma.


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A tendência, acredita, é que esse perfil de investidor aumente, afinal a taxa Selic deve cair mais e há sinais de que a economia vai melhorar. O coordenador do MBA da FGV, no entanto, diz que questões culturais e econômicas atrapalham o avanço desse percentual. “Não temos o hábito de aplicar em renda variável, o que exige educação financeira. Sem contar que para esse tipo de aplicação você precisa de algum dinheiro guardado, e isso é difícil em uma economia que anda mal há tantos anos.”

Leia mais: Governo espera Selic em 4,75% no fim deste ano


Teixeira conta que em todas as grandes economias do mundo as pessoas apostam na renda variável mais do que na fixa.

Se vemos motivo para considerar alto 1,4 milhão de investidores por aqui, número abaixo de 1% da população, nos Estados Unidos, segundo o instituto Gallup, 54% das pessoas investem em ações.

Aprendeu fazendo

O empresário Youssef Ben Riman, de 42 anos, é um autodidata. Começou a aplicar há 14 anos, mas teve de pisar no freio há 10, quando percebeu que estava “colocando um prato de comida na frente do computador para acompanhar online a variação das ações”. Admite que exagerou quando descobriu que conseguia transformar R$ 5 mil em R$ 35 mil em dois dias. “Era muita valorização, é fato, o problema é que comprometeu minha vida social”, recorda.

Desacelerou, mas nunca deixou a Bolsa de Valores. A capacidade de aproveitar as oportunidades o faz agora, por exemplo, comprar novas ações. “Como a economia nacional está previsível, fico tranquilo com os investimentos. Acho que, em médio prazo, quando a situação no exterior se acalmar, os rendimentos vão melhorar ainda mais”, diz.

Youssef está preocupado com o conflito comercial entre China e Estados Unidos, porém não acha que ele vá longe. “Nenhum dos dois vai aceitar perder dinheiro por muito tempo”, explica, com uma lógica simples e inquestionável.

Para ele, é natural que os brasileiros tenham receio em apostar em papéis mais instáveis. “A vantagem de uma poupança ou de uma renda fixa é que você sabe que seu dinheiro estará lá quando precisar, mas em ações ele rende muito mais, você só não pode é querer tirar a qualquer momento”, explica.

Youssef aprendeu na prática que a ansiedade não é uma boa aliada. Investiu na Petrobras no passado, quando cada ação custava em torno de R$ 30. “Desisti quando caiu para R$ 4. Fiquei com medo de despencar ainda mais, mas deveria ter mantido”, lamenta.

Após esse prejuízo, começou a buscar informações sobre as melhores empresas e montou uma carteira que conta atualmente com oito companhias. “Hoje ganho de duas formas: com a valorização das ações e com o retorno de dividendos (distribuição de parte dos lucros aos acionistas)”, conta.

Quando a esmola é demais...

Daniela Casabona, sócia-diretora da FB Wealth, afirma que nos últimos anos aumentou a procura por informações e cursos sobre economia financeira, o que considera essencial para evitar as falsas promessas. “Não há ganhos fáceis e sem risco”, adverte.

"O fato de o governo federal ser pró-mercado aumentou a confiança nos papéis da bolsa%2C que também foram beneficiados com o avanço da discussão sobre a Previdência"

(Daniela Casabona, sócia-diretora da FB Wealth)

De acordo com ela, o fato de o governo federal ser claramente “pró-mercado” aumentou a confiança nos papéis da bolsa, que também foram beneficiados com o avanço da discussão sobre a Previdência no Congresso Nacional. “Ficou evidente ao público nesse trâmite da reforma que apostar em algumas empresas seria uma boa opção, e elas acabaram ganhando valor.”

Segundo Daniela, a quantidade de investidores deve aumentar, mas o teto não é tão alto no Brasil. “Sabendo que metade da população mal consegue pagar as contas no fim do mês, é difícil imaginar que vão colocar qualquer quantia na Bolsa. De qualquer forma, há muito a crescer, com certeza.”

A experiência dos mais jovens

O ex-professor universitário Eriberto Costa enquadra-se no perfil de alguém que até pouco tempo estava confortável com rendimentos acima da inflação em fundos conservadores como a caderneta de poupança, sua opção por muitos anos. Hoje com 72 anos, comprou ações para manter o nível econômico ganhando apenas a aposentadoria. "Eu via muita propaganda e notícias falando de Bolsa de Valores, Ibovespa, fundos etc, e achava isso um bicho de sete cabeças. Quando comecei a aplicar vi que era até simples."

Costa já cogitou retirar o dinheiro nas primeiras oscilações negativas, mas o neto, estudante, está sempre por perto para fazê-lo desistir. "Estou agora, velho, aprendendo a ser cauteloso e ter paciência com um rapaz de menos de 30 anos", brinca.

Apenas 9% do público que investe tem mais de 66 anos (128.946 pessoas), mas está nesse grupo 40% dos valores: R$ 115 bilhões. A faixa etária mais ativa tem entre 26 e 35 anos (32,5% do total, ou 435.648 brasileiros). Mais de 77% (1.099.911) são homens.

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